sexta-feira, 29 de abril de 2011

PARA NÃO ME LEVAR A SÉRIO DEMAIS

Eu tenho sentido que minha produção nos blogs caiu muito. Claro que a vida real toma muito tempo. Trampo, doutorado, filhos, marido, casa, viagem, saúde, mil e duzentas coisas pra fazer e os pobres dos blogs ficam abandonados.

Mas, eu acho que tem um outro motivo. Tem um preciosismo que eu acabo de descobrir extremamente desnecessário. Acho que dá pra dar um pulo aqui e escrever umas coisas que eu tô pensando, porque desta atividade não dá para fugir. E pronto. Tá feito o post.

Acho que tenho lido posts muito bons em blogs que eu admiro aí eu fico achando que tenho que fazer textos completos, reflexivos, ricos de detalhes. Acabo é que não faço nada. Então, chega de me levar tão a sério. Respeito meu blog, meus leitores e seguidores, mas não é para eu me achar um Paulo Henrique Amorim da blogosfera e só postar coisas definitivas. Vamos falar o que se tem para falar.

E eu vou falar do que está na pauta dos meus dias: JEQUIÉ, CIDADE SOL.

Passei lá a semana passada, semana santa com família e foi bom demais. A cidade é cercada de montanhas lindíssimas. Tem um ar gostoso, é bem quente, é verdade, mas dá para suportar. Estamos em abril, é um bom mês para adaptações climáticas.

As pessoas se cumprimemtam nas ruas da URBIS. Claro que também tem ladrão, e até um certo caos no trânsito, no centro da cidade, mas a qualidade de vida é infinitamente melhor, ao que parece. Meu amigo Roberto Abreu que está me ensinando a viver Jequié, confessa-se feliz. "Eu estou no lugar certo, Drica", diz ele todo animado. E não é para menos.

Juntos, eu, ele e outros amigos recém aprovados no concurso recém criado de artes - o primeiro do interior da Bahia, temos pela frente uma tarefa árdua e nobre: começar a história desse curso. Brincamos que eu sou a Cleise Mendes, Carlinha a Maria Eugênia, Aroldo a Ivani Santana, Flaviana o Eduardo Tudella e Roberto Abreu o Sérgio Farias do Sudoeste. Pensamos na grandeza que é fazer esta história, testarmos e promovermos mudanças no currículo, incrementar a produção artística na região, promover a iniciação científica em arte no interior da Bahia. Isso é simplesmente lindo.

E, nas noites de folga, é Tom Zé, Doces Bárbaros, Hélio Oiticica, Wally Salomão para inspirar...

No domingo de Páscoa, fomos ao teatro - era o meu debut (a revista Caras adora debut...) na platéia Jequieense. Foi um espetáculo do Palco Giratório - Concerto de Ispinho e Fulô, da Cia do Tijolo de Sampa, inspirada na vida e obra de Patativa do Asssaré.

A peça é legal. Tem sempre aquele 'senão' de ver paulista montando coisas do sertão, mas, enfim, não é uma história exclusivamente nossa, é Brasil, né. Tem coisas que incomodam, mas tem coisas muito boas. A parte musical, para mim, é o grande tcham da peça. A parte cênica me dá uma sensação de sala de ensaio, e eu não sou muito fão de ver exercício como resultado. Algumas estratégicas cênicas mais batidas que ovo de omelete. Mas, o que me incomodou na peça foi a falta de timing para terminar. Primeiro, que a peça começou com uma hora de atraso - e mesmo que 15 minutos de atraso seja mesmo prática dos teatros no interior - a questão foi mesmo com o grupo, que teve problemas com o cenário. Aí, meu amigo, duas horas de espetáculo. Tirando Zé Celso e a Finos Trapos, eu não aguento muito peça longa, não, sobretudo quando você pensa: 'viu, já entendi...' E engraçado que tem uma cena que é um gran-finale, cantando o último pau de arara. Todo mundo botando sua bolsinha no ombro, doido para ir embora, e a peça começa de novo. Caramba. E depoimento demais dos atores. Achei chato. O pior foi essa sensação de que a peça me perdeu. Eu tinha gostado, ia sair tendo gostado da peça, mas me deu uma raiva que a peça num acabava nunca. Tipo este post, que já passou do tamanho bom de ler...

A platéia muito linda. Muita gente do curso, claro, mas acho que Jequié tem uma pegada para ter um público constante para teatro, dança e muito mais. Projetos nas nossas cabeças não faltam.

Já deu, né. Pra quem diz que não ia se levar a sério, já tá falando demais.

É isso, Chuva, chuva, chuva e ir ao teatro que é bom, nada. Espero a estréia de meu amigo Reginaldo Carvalho, que está fazendo o caminho inverso e está rodando o interior antes de chegar aos palcos soteropolitanos, com a peça Dá um toque que eu retorno. Claro que tem muita coisa boa para assistir, mas chuva, cama, marido, filhos e TV a cabo, realmente é uma concorrência desleal.

Beijo, então. Vou ali no futebol de artista dizer umas coisinhas também. Amo meus blogs. Prometo não ficar tanto tempo sem escrever. No mínimo fica registrado um pensamento assim, que passa pela nossa cabeça em semanas sempre tão diferentes umas das outras. Internet é o processo que se auto sistematiza. Adoro isso.




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sábado, 16 de abril de 2011

PRÊMIO BRASKEM 2011 - Não vi... nem posso comentar

É, mais uma vez eu não fui à entrega do Prêmio Braskem. Vai entender essa pessoa que estuda teatro e fica em casa...

Mas, minha amiga Poliana Bicalho foi, e atendeu ao meu convite de dizer umas duas palavrinhas sobre o evento. Aqui, suas considerações sobre a festa. Obrigada, Poli.

Aproveito para enviar meu cumprimentos aos premiados, ao indicados, aos esquecidos, mas sobretudo ao meu colega de luta Cooperado Fábio Vidal e meu amigo Paulo Henrique Alcântara. Abraços.


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“Não vou à premiação do Braskem de Teatro, pois sempre é a mesma coisa, é uma cafonice só.”

Assim colocou um aluno do PPGAC/UFBA e profissional da área de teatro ao ser indagado sobre sua presença no evento do último dia 13 de abril de 2011. Mas, apesar da sua negativa que por certo foi a de tantos outros artistas, naquela noite o Teatro Castro Alves teve a casa cheia para prestigiar o evento.
A cerimônia dirigida por Luiz Marfuz abrangeu na sua preposição artística o diálogo entre o teatro e o cinema baiano e nacional, como espaços de trabalho e de reconhecimento do ator baiano. Sendo fortemente caracterizado por uma narrativa de valorização deste profissional, que hoje enfrenta crise na sua produção. Entre uma premiação e outra o público foi conduzido pelo ator Daniel Boaventura que teve a difícil tarefa de impedir que os premiados delongassem demais e que seus discursos não oportunos atrapalhassem o brilho da noite.
Uma heterogênea classe artística foi colocada no palco: Carlos Betão, Ângelo Flávio, Mário Gadelha, Aicha Marques , cito apenas alguns, para melhor exemplificar uma verdadeira miscelânea que caracterizou o evento. Além da entrega dos prêmios aos melhores do ano de 2010, a noite foi de homenagens ao ator Wilson Mello e a atriz Haydil Linhares (ambos in memorian) e Wagner Moura como homenagem especial, que para o ator é o prêmio mais importante de sua carreira.
Nas premiações, tive a sensação que o público agiu de acordo com a previsibilidade dos resultados, mas os prêmios mais comemorados foram sem dúvida o de Fábio Vidal com Sebastião na Categoria Melhor Ator e Zebrinha com coreografia no espetáculo Bença na Categoria Especial.  Nos demais premiações as mais contestadas nos bastidores foram de melhor espetáculo e de melhor atriz. Mas sejamos francos! É impossível ter uma unanimidade!
Sabemos que a 'preferências afetiva', na maioria dos casos, é critério predominante, uma vez que muitos naquela platéia simplesmente não conhecem o trabalho dos demais concorrentes. Atire a primeira pedra se você assistiu a todos os espetáculos que concorreram naquela noite.
A premiação teve uma áurea de glamour sobre o profissional de teatro baiano. Digo, soteropolitano, que em meio à política de descentralização dos recursos financeiros por meio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, à falta de um empresariado local que acredite e que apóie a cultura, tem a sua estrela ofuscada.
Assim, inevitavelmente nos discursos dos contemplados a falta de apoio e principalemente queixas sobre o repasse de recursos da SECULT foram colocados. Interessante é que naquele mesmo dia, recebi a informação de que um decreto publicado no Diário Oficial da Bahia, do dia 12/04, sinaliza o corte de cerca de 50 cargos comissionados da Secretaria, sendo a FUNCEB a autarquia com o maior corte de profissionais.  
Bom, mas a noite era de alegria! E assim, muitos bons exemplos de artistas bem sucedidos foram mostrados e entre eles os globais Lázaro Ramos e Wagner Moura e não cabe aqui questionar sobre o talento deles, mas digo: existe um modelo globo de sucesso e este alimenta dezenas e dezenas de jovens que ingressam no teatro. Um contingente cada vez mais alienado, egocêntrico e desmobilizado!
 Mas, deliciosamente o crepúsculo foi de encontro entre o profissional e amador, o novato e o veterano, de gente igual que tem o Braskem como único evento capaz de agregar tantos fazedores de teatro. Evoé Baco e até o próximo Braskem!



Poliana Bicalho é jornalista e formanda em Licenciatura em Teatro pela UFBA. É bolsista do Programa de Iniciação Científica CNPQ, pesquisando questões relacionadas à recepção teatral e a formação em teatro nas escolas de Salvador. É isso, Poli?







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domingo, 10 de abril de 2011

A VOZ DO CAMPEÃO. Vi e quero comentar!


Bom, vamos lá bater aquele papo sobre A Voz do Campeão. A princípio não vai ser um bate-papo, porque só eu vou escrever, mas os comentários estão livres e eu vou adorar conversar sobre.

Eu demorei de ir porque Casa do Comércio pra mim é longe que dói. Eu havia falado pra Edvard: "O único teatro longe que eu frequento é Pituaçu." E ainda bem que eu não sabia que vinha para a Sala do Coro, senão eu acho que não teria ido. Ninguém merece a Tancredo Neves. Mas, enfim. Futebol, Teatro, Edvard (com quem já trabalhei na área da educação e cujo espetáculo As Aventuras do Maluco Beleza eu adorei) Narcival (outro querido)... tive que ir.

Quando o espetáculo começou, confesso que fiquei um pouco tensa. Apesar da força e do carisma de Narcival Rubens, achei que nos primeiros 10 ou 15 minutos o espetáculo estava excessivamente didático. Fiquei com medo de ele ser todo assim. Achei a encenação fria e o texto pesado. Parecia que seria apenas uma descrição da trajetória do clube, ainda que a dramaturgia se esforçasse em colocar esta história inserida numa história particular do personagem, ou melhor em sua história familiar.

A partir do ano de 1959, no entanto, as coisas começaram a mudar. Além de extremamente tocante do ponto de vista ideológico, a cena dedicada à conquista da primeiro título brasileiro de futebol, contra o favoritíssimo Santos de Pelé, deu um gás ao espetáculo. Narrativa e encenação pareciam finalmente ter se encontrado.

A partir deste ponto, Narcival engata, com a ajuda dos vídeos maravilhosos do acervo de Álvaro Brandão.( http://www.futebolmultimidia.com.br/ ). A simulação do jogo histórico com imagens do PES (Pro-Evolucion Soccer - um jogo para Play Station) acompanhada da narração em rádio é muito boa. A platéia se envolve, grita, torce, ri e chora (os mais apaixonados) e toma conhecimento da importante história do Esporte Clube Bahia ao mesmo tempo em que acompanha a história da família 'Bira'.

É inusitado comentar uma peça dessa natureza. Ela tem indiscutíveis pontos positivos, pois leva para cima do palco a história de um time. De acordo com Edvard, esta parece ser a primeira produção no país neste sentido, de organizar, sistematizar e dramatizar, por assim dizer, a vida de um clube de futebol.

Também é desejo do diretor trazer para o palco o personagem que ele julga principal no futebol: o torcedor. Por isso, a opção por focar a dramaturgia nesta figura, ainda que se passe em revista a história de um clube (Confira bate papo com diretor e ator em: http://artedoespectador.blogspot.com/p/dez-minutos-com.html, neste mesmo blog).

Neste ponto, apesar de compreender conceitualmente a ideia do monólogo, eu acho que o espetáculo acaba carecendo de algo mais. Eu compreendo e gosto da ideia das três gerações e admiro sobremaneira o trabalho e carisma (repito) de Narcival, mas sinto que talvez um elenco maior pudesse dar vazão para outras experimentações cênicas. Sei que esse papo de comentar o que viu com base no que queria ter visto é um saco, mas enfim, comentário de peça não precisa ser um chá de comadres, né.

Tem uma coisa muito boa que eu acho que é a proposição de imagens. Os uniformes que o time teve ao longo destes 80 anos entram como uma peça esteticamente fundamental, mas acho que o impacto visual deste elemento não consegue impregnar os demais. Acho que eles desistem dos uniformes que, para mim, têm uma potencialidade cênica ainda a ser esgotada. O que havia me impressionado em As Aventuras do Maluco Beleza era justamente que a coisa toda de Raul Seixas estava na encenação e não apenas na dramaturgia. Isso eu acho que não aconteceu plenamente em A voz...

A arquibancada como elemento cênico, por exemplo, é genial, mas se perde ao meu ver, quando vira curinga da cena, servindo de um bocado de outra coisa. Conceitualmente eu entendo, mas cenicamente acho que não se resolve plenamente.


Outro detalhe que eu considero que atrapalha a proposta do cenógrafo Rodrigo Frota, é a qualidade do materia usado em cena. Para quem assiste é estranho ver um espetáculo patrocinado pela Le Biscuit e pela OAS (umas das patrocinadoras do Esporte Clube Bahia) usar TNT no fundo do cenário. O resultado é um azul fosco, quase transparente, que não combina com o azul da bandeira do time. Também os adereços que compõem a arquibancada me parecem um pouco pobres, contrastando com o material de algumas peças do figurino de Miguel Carvalho. Acho que os elementos cênicos acabam variando entre o 'apurado' de uns e o 'descuidado' em outros, o que provoca uma variação na unidade da cena.

Senti falta, meu amigo Edvard, da história da criação do hino. Fiquei esperando ansiosa por este momento. Mas, obviamente cada espectador poderá dizer que sentiu falta de um ou de outro detalhe, de um ou de outro jogo, deste ou daquele jogador histórico... É porque, como no próprio futebol, temos sempre um pitaco para dar. No teatro, pitacos não são lá muito bem vindos, mas no futebol, ah, eles são o que alimenta a paixão e a relação da torcida com o jogo.

Na saída do espetáculo, a platéia emocionada e não tem como ser diferente. O espetáculo é corajoso porque opta por um tema extremamente popular, porque não faz política da boa vizinha tratando do BA X VI e, sem medo de magoar rubro-negro, faz declaradamente uma homenagem ao Esporte Clube Bahia. É correto na dramaturgia, escolhe um caminho para seguir - e segue - mesmo que cada um de nós possa apontar outros mil caminhos que talvez tivéssemos seguido. Mas não seguimos.

Eu tô aqui sentadinha no conforto do meu blog, falando do produto de alguém que corajosa e laboriosamente idealizou, pesquisou, experimentou, projetou, captou, produziu, ensaiou, estreou e continua batalhando. E mais do que isso, um ótimo produto.

Amo a dedicação irrestrita de Narcival Rubens, sua entrega física e emocional ao personagem e ao espetáculo como um todo. Olho para o fundo do Dique junto com ele, e vibro com o título sofrido de 1979. Emociono-me com as estrelas que brilham em nossa bandeira e que emocionaram meus pequenos.

Eu estava comentando com Alam sobre estas questões das quais falo agora e Hannah manda uma real pra gente:

- "Vocês são dois chatos. O espetáculo é perfeito!"

Até a gente explicar que também adoramos o espetáculo, mas estamos falando de questões técnicas do fazer teatral, ela já nos virou as costas e foi cuidar da vida.

João, então, nem se fala. Até homenageado no final ele foi, por sua empolgação e participação durante o espetáculo. Sentiu-se em Pituaçu.

O espetáculo é um primor, deve ter longa vida porque ainda está achando a pegada certa para divulgar entre os milhões de torcedores do Bahia que podem, devem e hão de ir assisti-lo. Estou feliz com o espétáculo e acho que temos muita coisa a fazer da relação de teatro e futebol, enquanto tema ou mesmo enquanto vivência espetacular. É só um começo. E que belo começo.

Conversamos com algumas pessoas na saída da platéia, mas infelizmente a qualidade de áudio e imagem ficou muito ruim. Estamos tentando editar para tirar o ruído e se conseguirmos juro que posto aqui depois. Vamos ao bate-papo? Escreve aí o que você achou do que eu achei!!!

A VOZ DO CAMPEÃO
FICHA TÉCNICA:

Texto: João Alfredo Reis e Edvard Passos
Direção: Edvard Passos
Assistente de Direção: Norma Santana
Elenco: Narcival Rubens
Cenografia: Rodrigo Frota
Figurino: Miguel Carvalho
Uniformes de Época: Paulo Borges
Adereços: Maurício Pedrosa
Iluminação: Irma Vidal
Coreografia: Norma Santana
Pesquisa de Imagens: Álvaro Brandão

sábado, 9 de abril de 2011

A VOZ DO CAMPEÃO - NO 10 MINUTOS COM...

Demorei, mas fui. E gostei muito.

Ontem eu e família fomos assistir ao espetáculo A Voz do Campeão, de Edvard Passos que continua em cartaz no SESC Casa do Comércio.

Ao final do espetáculo, um bate-papo gostoso com o ator Narcival Rubens e com o próprio Edvard. A novidade é que eu apareço no vídeo, ao contrário das outras entrevista em que eu ficava escondidinha. Entrevistados VIP's, tive que aparecer. Outra novidade é que fui agraciada pelo Youtube em poder postar vídeos com mais de 15 minutos, assim o 10 minutos com, na verdade tem 13 e a tendência é aumentar.

Sobre o espetáculo comentarei amanhã, no VI E QUERO COMENTAR - porque sábado é dia de faxina!!!

Espero que curtam o bate-papo. Você pode acessar indo logo ali em cima, ou clicando aqui no link:



quinta-feira, 7 de abril de 2011

LUTO PELAS CRIANÇAS DO REALENGO - quem atira em quem?

Sentindo uma enorme dor no coração com toda essa história das crianças no Rio de Janeiro. Dor profunda e estranha. O mundo é estranho. Choro pelas crianças. Sofro pelo que temos nos tornado.

Eu acredito que nós, seres humanos, somos todos uma mesma e única coisa. Quando acontece algo desse tipo com um de nós, acontece com todos nós, acho que isso a gente ainda conserva de humanidade. Não acho que a gente sinta apenas o medo da possibilidade de que possa acontecer com a gente a qualquer momento. Também fico pensando, meu Deus, se fosse Hannah? 12 anos, menina... Mas acho que de alguma forma foi Hannah, fui eu, foi você, porque foi um ser humano e, no fundo, no fundo, somos um. Apenas um. Se um dia essa tristeza passar ou não nos tocar, porque foi com alguém de longe, é porque não temos mesmo mais como seguir adiante, porque como humanidade estaremos condenados ao fracasso enquanto espécie. As conquistas do homem só fazem sentido se forem para todos. Senão, é apenas um detalhe. Só fica, histórica, cultural e biologicamente aquilo que ajuda a todos. Que ainda seja a capacidade de nos comovermos com o que acontece ao outro.


Ontem, uma mulher brigou com o motorista do busu (que também é cobrador) e concluiu com uma frase impactante, alto e em bom tom, sentindo-se ourgulhosa da declaração: "É por isso que pessoas como vc não saem do lugar que estão". Desceu do busu (frescão) sacudindo seu belo cabelão e trotando sobre seus saltos. Ela não percebe que faz parte (como eu, como todos nós com nossas posturas de ódio, preconceito e frieza) dos alicerces que constróem o mundo como este que desemboca num massacre de crianças. Aí, uma outra pessoa, em outra ocasião, mas no mesmo dia, vem se queixar comigo de que a babá é muito folgada. Só chega atrasada e fica mentindo que a filha tá doente. Que ela é uma mal agradecida, porque esta digníssima patroa paga salário, carteira assinada e plano de saúde. Que no outro trabalho ela era humilhada e deveria, portanto, tratar este emprego com mais gratidão. Eu lembrei a ela que ela não faz mais do que a obrigação e que a empregada não deve gratidão nenhuma a ela e nem ela é uma heroína só por cumprir seus deveres de empregadora. Aí me parece estar ilustrada uma parte pequena, mas representativa, de algumas causas de estarmos num mundo tão torpe. Não nos vemos como iguais, humanos. Talvez nunca tenhamos nos visto assim, mas hoje eu penso que a encruzilhada é: não somos vítimas de um sistema, somos a causa dele. E ele se vira para nós. Estamos piorando o mundo para nós mesmos. Ai, cansei. Tô bem triste hoje. E assustada. Queria um mundo mais levezinho. Quero voltar para Capela. É mutia expiação!


Detector de metais? Máquina nenhuma vai nos deter de nós mesmos. Nã é uma máquina que resolver nossos problemas. Só afeto. "A culpa do crime, nunca é da faca". Eduardo Galeano

É preciso muita disposição e coragem para fadermos auto-críticas sinceras. Repousar a cabeça sobre o travesseiro tem sido cada vez mais difícil. Deve haver algo de muito produtivo em cada semente de amor que a gente planta numa sala de aula, em cima de um palco, na mesa do café com as crianças. Ou eu acredito nisso, ou nem levanto da cama.

Em Tomates Verdes Fritos, uma personagem diz que deve haver um deus especial só para as criançãs. Eu quero acreditar nisso agora, tanto pelas que foram, quanto pelas que ficaram com a lembrança de um dia tão terrível.


LUTO. DEDICAREI BOLINHAS DO MEU ROSÁRIO PARA ESSAS FAMÍLIAS QUE DEVEM ESTAR SENTINDO A  MAIOR DOR DE SUAS VIDAS.