quinta-feira, 2 de junho de 2011

Reunião da SECULT com representantes do teatro profissional - um passo atrás

Gente, eu ouvi e nem fui verificar obstinadamente a verdade da notícia, nem pesquisei fontes, nem nada. O próprio burburilho já me foi suficiente para lamentar. Se não for verdade, tanto melhor.

Ouvi a boca pequena que a FUNCEB e posteriormente a SECULT estão promovendo encontros, quase às escondidas, com o PESSOAL DO TEATRO PROFISSIONAL. Tem até um indicativo de não espalhar o convite!

Nooooooooossa Senhora. Que belo começo, hein.

A única coisa que me veio à cabeça foi:

As viúvas de ACM venceram!!!

É, isso mesmo, aquele grupo que sugeriu num manifesto, muito arbitrariamente, que a Cultura da Bahia estava na UTI.

É, aquele grupo que tentou durante quatro anos detonar as ações de Márcio Meirelles.

É Márcio Meirelles, aquele secretário que no início de sua gestão encarou a classe ABERTAMENTE numa primeira das muitas reuniões ABERTAS, eu insisto. Ele teve coragem de encarar as Tainãs da vida - coisa que pouca gente tem - os radicais do Teatro de Rua, Movimento Negro, numa reunião sobre Cultura, sobre Teatro e não somente numa reunião específica, fechada, separada sobre teatro de rua.

Ora, quantos equívocos a gente pode cometer fazendo essas distinções ultrapassdas e que não podem de jeito nenhum servir ao bem comum. TEATRO DE RUA, TEATR PROFISSIONAL, TEATRO AMADOR, TEATRO DE ARENA, TEATRO ITALIANO, TEATRO REALISTA, TEATRO-SOCIAL. TEATRO BOM, TEATRO RUIM...

E aí eu fiquei pensando em como a gente pensa e faz teatro aqui em Salvador. Em como a gente divide o tempo todo TEATRO PROFISSIONAL e TEATRO RUIM, que chamam por aí eufemesticamente de SIMPLIZINHO..

Fiquei vendo e pensando em como a gente separa os pequenos dos grandes e como uns tratam os outros.

Tem gente que no facebook grita que somos uma roça, uma provincía, mal sabendo que eles próprios fazem dessa cidade um feudo! Suas posições e ideias ultrapassadas, colonizadas, escravizadas por um modelo vigente, esvaziadas de vigor e criatividade, lamentam nossas principais características chamando-as apenas de defeitos ou incapacidades. E nunca é demais lembrar: ESSA VONTADE DE SER EUROPEU QUE NÃO PASSA!

Nós, do blog (e quando eu encho a boca para falar nós eu tô falando eu e Alam) temos feito esse acompanhamento dos espetáculo, vocês sabem. Só que, mais do que as peças em si, vemos bizarrices sem noção.

Percebemos a diferença GRITANTE no modo como as produções nos recebem. A forma como algumas pessoas nos olham, como se perguntassem: quem são esses?

Fora os que nem se nos dirigem a palavra. Vocês acreditam que tem diretor que manda resposta pelo produtor, e se quer vem falar com a gente? É, seu secretário, são os artistas profissionais. Será que eu sou blogueira profissional? Eu não ganho dinheiro fazendo o blog (muito pelo contrário) - Eu bem que queria um milhão!!! Mas eu também não fiz curso superior de blog. E tem? Como faz para ser profissional?

ETIQUETAS, ETIQUETAS!!!

Percebem como as etiquetas não servem mais? Percebem como não dá mais para ficar brincado de ser moderno quando o mundo já é pós? A quem serve dividir os artistas da Bahia em profissionais e amadores? A quem serve fazer reuniões às escondidas? Para resolver o que? O que vai ficar para eles e o que vai sobrar para nós? Sim, porque eu não fui convidada, então eu sou o resto, eu sou nós. Nós somos os nós!

Pois eu digo: Eu sou profissional e não fui convidada para essa reunião!!!

Você é?

Você foi?

E que eu não fosse profissional, que fizesse teatro declaradamente amador. Vai me chamar para definir sobre o destino do resto? do que sobrou?

E eu acho que o mais grave de tudo é essa coisa fechada, chamar alguns e depois outros. Por quê? Como vai ser possível tocar uma pasta de cultura assim, separando e elegendo? Quem fez a lista do profissionais de Salvador? Ou foi da Bahia?  Porque a Secretaria é estadual.

Quando é que eu vou ser chamada? Vai ter uma reunião para blogueiros de teatro?

Eu vou para umas mil reuniões, então, porque eu sou atriz profissional (tenho DRT), tenho um grupo de 10 anos de atução, sou professora de teatro, sou fomentadora cultural através do meu trabalho no blog, sou espectadora, sou pesquisadora (doutoranda em teatro)... e aí? Como vai ser? Pra que reunião eu vou?

E olha que eu sou muito otimista com Nehle Frank, uma mulher de teatro, desbravadora, de vanguarda, realizadora. Mas, esse começo, realmente, não foi dos mais simpáticos e promissores.

Espero que eu esteja enganada e que o barulho dos que querem grandes cifras do governo para fazer suas peças européias não venha a dar resultados nesse começo de segundo mandato DESASTROSO de Jaques Wagner.

Não, porque de um governador que vai bater recorde de pedágio (4 de Salvador a Alagoinhas, 7 a Vitória da Conquista), que corta salário de professores em greve legítima, diz na TV que não cortou e que aparece vendendo a barba para ajudar ONG paulista, realmente pode se esperar de um tudo.

Espero ainda que as ações realizadas na gestão de Márcio Meirelles em relação ao interior da Bahia não sejam abandonadas, mas sim ampliadas e melhoradas.

Espero que os editais continuem contemplando grupos dos mais diversos perfis e tamanhos e com as mais diversas linguagens e estéticas e tempo de experiência. Estávamos construindo um belo modelo de gestão de cultura, onde os resultados não são imediatos. Espero que não troquemos este modelo por uma grande estreia que saia na lista da Bravo um mês e da qual nunca mais se tenha notícia.

Era só isso mesmo.



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11 comentários:

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  2. As Viúvas estão aí, com seus híbridos resnascendo... Retrocedemos, Drica, e a cultura voltou - ou parece que retorna - ao coronelismo do finado Toninho. Pobre de mim! Também profissional (com DRT), professor de Teatro, pesquisador,com um grupo atuante a 3 anos, que só toma porta fechada na cara sempre, Desde de coisas mínimas às máximas. Não sei mais... Tem momentos que dá vontade de desistir. E olhe que nem sofri o que você e muitos sofrem e sofreram, eu so estou começando a trilhar minha jornada. Mas a coisa só degringola... Os projetos europeus vão sim imperar, se a coisa caminhar como promete. Os PROFISSIONAIS devem estar felicíssimos e já ouvi burburinhos de coisas já se articulando. Não sei... Não sei... A coisa é gritante. O que é ser PROFISSIONAL? Profissional nos parâmetros de que? De quem? Falta tudo! Falta tudo! FALTA... Falta... Um dia eu vou ser chamado? Quando vou ser chamado? Não quero ser poupado!

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  3. E dá um cansaço, né Tássio. Mas, é preciso estar atentos e fortes. Não temos tempo de temer a morte. E não podemos nos render jamais. Precisamo continuar lutando, bradando e expressando nossas opiniões, brigando por aquilo que julgamos justo. Uma das mais eficazes estratégias de nos fazer nos calarmos é ridicularizar nossa fala, nossas opinões, porque assim, temos medo do ridículo e ficamos quietos. Temos medo de ao nos expor, ficarmos marcados e não ganharmos a merreca do edital. Grande mixaria! Prefiro urrar e bancar minhas próprias produções do que me calar para manter amizades vis e ser contemplado com o edital que sobrar para ser de fato público, se é que isso vai acontecer. Enfim, não vou escrever outro post,né. O que tinha a dizer está dito. Obrigada pela participação, pela parceria e pela coragem de se expor assim, publicamente. Abraços.

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  4. Drica, Alan e Tássio, tudo bem?

    Drica, sempre dô uma bizóiada por aqui (e no outro blog também, sou Bahêa por família), mas passei desta vez porque eu recebi esse texto por você lá no orkut.

    Vou ficar só num ponto dele, apesar de ter querido falar sobre muita coisa... Estou completamente enlouquecida com a escrita da tese e não dá para parar. Um dia, me liberto.

    Soube que houve uma reunião há pouco e por alto, mas não soube do modo da chamada. Portanto, por princípio, achei importante discutir mercado e teatro profissional em Salvador. Havia acabado de postar o trecho que segue no Cultura e Mercado e, por isso, partilho com vocês (acho que é apropriado):

    “Por que no futebol pode existir as categorias profissional e amador?
    E por que, ainda assim, o futebol não deixa de ser um incrível sistema que, entre outras coisas, permite a inserção social de meninos carentes que mostram talento 'em campo', que permite a integração social de milhares de crianças em atividades recreativas, que permite a existência de cartolas também, que permite a existencia de hierarquias de base, de grupos reguladores e, mais ainda, que permite que, além de tudo, ele seja um entretenimento de milhares?”

    Depois, sobre o modo da chamada, e só para constar, o mesmo procedimento – de chamar núcleos setoriais de uma grande área - foi feito, ao menos, na diretoria de teatro no final da gestão de Márcio.

    Vamos conversando,

    Beijo em todos,
    Jussi

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  5. Jussi, vc é danada, hein, me pegando pelo futebol. Vamos lá. Eu acho bem diferente a abordagem. O que vc está chamando de futebol amador, o cara que joga o baba solteiros X casados? Não acho que seja esse tipo de teatro que quem é considerado (eu se lá em que perspectiva) amador faz. se há uma linha divisória que separa o jogador do teatro amador e do teatro profissional, isso diz respeito a um jogador passar a fazer disso sua principal função ou não, o que eu não acho que seja o caso do teatro. eu acho infinitamente mais difícil definir o que é teatro profissional de teatro amador, sobretudo quando esta distinção fica sob responsabilidade de sabe-deus-quem. Diga pra mim, vc Jussi, quem diz o que é teatro profissional na Bahia (e não falo só de Salvador)e quem não é? Quem fez essa listinha/ Baseado em quais critérios? Eu adoraria saber, porque eu acho exercício de poder, definir isso num gabinete. E um exercício de poder perigoso, porque serve a algus e nunca a todos, nem a uma boa parte. Acho que os critérios são frágeis, pobres e ultrapassados. Ainda acho que teatro até mesmo enquanto mercado, bem diferente do futebol, sobretudo neste ponto se estamos falando de um jogador, ou de um clube, de um artista ou de seu grupo. e ainda, em se tratando de futebol e mercado, sabemos que o caminho trilhado pelo futebol - talvez semelhante ao trilhado pelo teatro burguês - o esteja tirando o brilho, a originalidade, a criatividade, fazendo dele um mero mercado, indústria e fábrica de milhões. O excesso de profissionalização, técnica e organização em castas tem matado o futebol no que ele tem de mais original, que é o exercício do jogo e do prazer. Queria tanto que o futebol não fosse por este caminho que eu á desconfio onde vai dar. Não concordo, flor, com essa divisão, não feita assim, a facão, à revelia de todo um mercado de gente produzindo pra porra e que fica de fora das discussões porque não fazem o teatrão que a velha guarda considera teatro bom, isso é um fato! Não concordo com esta reunião assim, às escondidas e sei que Márcio fez reuniões setoriais, mas não no arriar das malas, né. enfim, obrigada pela visita delicada e construtiva. Vou ficar aguardando a tréplica, se a tese deixar. Bjos.

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  6. Na terceira linha onde está escrito teatro profissional de teatro amador, lê-se futebol profissional de futebol amador. A pessoa mistura tudo, vcs sabem, né...

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  7. Drica, você que é danada. Só o teu blog para me fazer dar essa ‘parada’ (não conte ao meu orientador). Mas paro também porque acredito que minha tese tem a ver com isso (no fundo, no fundo, tudo tem a ver com nossa pesquisa, né? você sabe o nível da paranóia..)

    Pois, então, vamos pular logo pro que concordamos. Mas, primeiro e apesar de óbvio, gostaria de lembrar que respondo abaixo pelo que “EU penso” para “toda a área de teatro”, que eu respondo por MIM, não estou me responsabilizando/justificando por nada mais além disso.

    Então, ao que concordamos:

    1) A definição de profissional: “sim, é o cara que faz daquilo a sua principal função”. Eu só acrescentaria: “de trabalho e remuneração”. Essa é a definição. Seja utilizada no design de moda, no futebol ou na fotografia. Por que no teatro seria diferente? Sobretudo por uma questão conjuntural? Mas não de princípio ou de conceito! Não pela definição. E volto à conjuntura mais abaixo.

    2) Os mercados são bem diferentes.

    Não existe MERCADO de teatro em Salvador,. Existe, eu bem sei, “uma porrada de gente produzindo e trabalhando, muitas vezes fazendo disso a atividade central da vida, até conseguindo acumular coisas aqui e ali que as remuneram”. Mas produzir não significa “ter mercado”. Mercado (seja em que área for) não é só oferta.

    Para haver um mercado é preciso haver um sistema. Sistema que funciona em rede, com diferentes “instituições” acionando diferentes encargos. Envolve muito além da oferta de peças/produtos, envolve a demanda, instituições reguladoras/debatedoras de preços e salários, instituições de pesquisa de consumidor, instituições de promoções e vendas, instituições de ensino, sindicatos, conselhos de classe, grupos profissionais, empresas, companhias etc. Isso é um sistema.

    O que vemos em Salvador? Bom, além dos zilhares de operários de diferentes gerações e estilos que oferecem seus trabalhos? Temos o ESTADO (que de uma forma ou de outra concentra a maioria das ações “do sistema” listadas acima, ações que deveriam - não sei se conseguiriam - estar nas mãos de terceiros; estado que no MELHOR e no pior sentido termina por concentrar tudo) e temos instituições de ensino que absorvem/remuneram parte da mão-de-obra, para que ela faça as demais de graça.

    Nunca houve “mercado teatral” em Salvador, Drica. Nos anos 1990 houve, no máximo, um mercadinho de secos e molhados. Esse movimento embrionário de mercado foi provocado por uma trinca de fatores (peças que chamaram atenção do grande público pagante + apóio do novo governo carlista que queria pegar carona nas ‘artes da baianidade’ + uma lei de incentivo fiscal). O mercadinho 1990 nasceu com falhas, perdeu o fôlego depois de 10 anos, mostrando que precisava reavaliar seus princípios para se fortalecer, mas, ao contrário, com a troca de governo, mudou-se foi tudo.

    Viver de fazer teatro não é uma invenção do mundo capitalista. Teatro profissional não é só ‘burguês’. Quem “vivia de teatro” no passado podia até ter outro nome, mas “viver de teatro” não foi algo inventado pela ‘classe histórica burguesa’!

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  8. Mas essa coisa de rotular como “burguês”, essa sim, ultrapassada forma de entender o simbólico, achando que ao “entrar o vil metal, a estrutura e a organização” a coisa toda vai degringolar (ou estar na iminência de degringolar - como você aponta no futebol – que ainda não degringolou! E será que vai mesmo degringolar? Nem todos acham que futebol é só um ‘mero mercado’!! Apesar dos MILHOES há MUUUITA paixão! Quem sou eu para dizer! O que é que mostra o futebol do artista? Se não pura paixão?? O que são os jogadores, que ‘apesar’ de milionários e do peso da ‘estrutura’ que carregam, continuam sendo ‘artistas em campo’?).

    E essa outra coisa, sim, na minha humilde opinião, absurdamente frágil, de dizer que o mercado “vai tirar o brilho, a originalidade e a criatividade”....?

    Sobre isso, outras duas coisas:
    1) E o que garante que SEM estrutura/mercado/dinheiro a coisa TENHA brilho, originalidade e criatividade?
    2) E por que não permitir quem quer “pagar para ver” se (com estrutura/mercado/dinheiro) vai perder mesmo – em sua produção – tais valores?

    Drica, a área teatral de Salvador (please, vamos nos ater em Salvador...) tem uma grande característica de nascença. Ela cresceu de tal maneira (há 50 anos, e aqui a conjuntura que falei acima e minha TESE ) que conseguiu fazer com que a gente de teatro conseguisse separar o SER profissional (saber fazer uma coisa e viver daquilo) em dois: “saber fazer” e “viver daquilo”.

    E voltamos ao início. Se nossa conjuntura (no acúmulo de experiências históricas) nos faz achar que “ser profissional” com teatro é diferente, o problema não é propriamente da definição.

    Tem muita gente que sabe fazer teatro em Salvador E QUE gostaria também de viver disso. Mas sabe que como está a estrutura não agüenta (nem existe, como vimos), daí, a necessidade de repensá-la.

    E, para finalizar, um sistema de mercado para ser realmente COMPLETO conta ainda, não se admire, com os amadores (isso não é invenção minha!!). Os amadores (aqueles que amam a coisa e não carregam tanto o peso da estrutura, posto que sem tantos vínculos e, por isso, tem mais possibilidades de errar/ousar/experimentar) são UMA PARTE extraordinariamente viva de um sistema. Agora, não é para se guiar com a ‘definição’ de amador/profissional em voga em Salvador, ne?

    (não xingue o tamanho da coisa, vc ‘me provocou’),
    Nem implique com os trechos em caixa alta. É a veemência de atriz.

    Beijos,
    Jussi

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  9. Jussi, não tenho condições de debater sobre as coisas todas que você fala, sobre os conceitos e fatos históricos. Mas, pra mim uma coisa é fato: em Salvador há um grupo que se considera profissional – mesmo sem necessariamente responder a todos os quesitos que vc lista – e que se dedica a separar o que chamam de bom e mau teatro. Sei que estou repetindo o que já disse no post, mas acho que isso é o centro nervoso da questão. Se pensarmos em São Paulo, por exemplo, que eu conheço mais, não tem essa briga par identificar quem faz mais, quem faz melhor, quem vai ganhar dinheiro ou fama. Eu mesma fiz teatro em Sampa e mesmo sendo uma Maria-ninguém fiquei com minha peça em cartaz no Centro Cultural Vergueiro, no Sérgio Cardoso e tínhamos público, e nomes renomados iam nos ver, como Lélia Abramo, Fernando Peixoto e, repito, nós éramos uns Zé-ninguém. Saía reportagem no jornal e a gente conseguia divulgar, tinha público. Quando cheguei em Salvador fiquei abismada, como só havia espaço para um grupo de pessoas. Eu julgava que ia ser mais fácil fazer teatro aqui, porque lá eu era uma gota no oceano. Ledo engano, aqui eu não era nem uma gota, eu não era nada. Ou você se dedicava a tentar entrar nesse grupo ou nada feito. Acho que o atraso do teatro em Salvador é sustentado, sobretudo, por quem julga que ele precise operar (esteticamente) nos modelos de fora. De tanto bradar que ele tem que 'avançar' acabam por promover seu atraso.Acho que perdemos a oportunidade de aprimorar o que fazemos, de dar respaldo ao que fazemos aqui. Insisto, é essa vontade de não sermos nós mesmos. O mercado da música na Bahia é formidável de vários pontos de vista porque cabe todo mundo, quem der certo deu, a escolha é posterior ao fazer e no teatro, não. Existe uma pré-etiqueta, que esteriliza o desenvolvimento do teatro como atividade em geral. Não há, no meu ponto de vista, um trabalho unificado da classe para alimentar o nosso mercado (que ainda que não seja nos moldes que vc descreve eu acho que podemos falar assim, de alguma forma. Não é muito forte dizer que – como capital de um importante estado – não temos mercado de teatro?) Olha, eu acho que eu já estou é me perdendo... Acho que se pensássemos juntos, ou se, minimamente, não ficássemos julgando uns aos outros (como acabo fazendo no post e nos comentários) estaríamos muito mais satisfeitos com o que produzimos e com o que temos chamado de teatro em Salvador e teríamos realizado – e mantido – conquistas para todos e não para este ou aquele grupo e nos fortaleceríamos nacionalmente. Enfim, por hoje é só. Mas, o debate continua.

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  10. Drica, como comecei falando na outra postagem, reafirmo que “respondo por mim”, “escrevo o que acredito, o que defendo”, posto que não entrei no debate para justificar ou atacar a ação de nenhuma instituição. Pode parecer o contrário, mas entro aqui ‘para entender’. Não falo “em nome” (nem poderia!) de nada, a não ser de minha consciência. E só posso começar dizendo que não vejo as coisas de uma forma tão preto no branco como você vê...

    Vamos ficar só num ponto que realmente tive dificuldade em entender na sua última resposta: Você coloca como coincidente ‘o grupo’ “dos que se dizem” profissionais e “aqueles que operam (esteticamente) nos modelos de fora”? É isso?

    Mas, para início de conversa, o grupo (se é que posso organizar a turma que listarei agora ‘num grupo’) que RETOMOU e deu VISIBILIDADE à história de profissionalização no teatro baiano nos anos 1990 foi exatamente um ‘grupo’ de artistas que se ancorava nos seus recentes sucessos de público montados exatamente sobre temas e assuntos da BAIANIDADE!! Lá vai: A Bofetada, Recital da Novíssima Poesia baiana e Oficina Condensada. Depois vieram outros, mas esses três foram os que tiveram mais apóio e/ou visibilidade dos jornais, apoiados que estavam num grande sucesso de público. E aí virou a história ‘tostines’: recebeu apoio porque teve público e teve mais publico porque recebeu apoio e...enfim, é fato pesquisado que alguns já tinha um apóio de saída dos jornais, mas, enfim, chegou na galera. Chegou.

    Os atores e diretores envolvidos com esses espetáculos iniciaram tais produções no final da década de 1980 das maneiras ‘mais amadoras’ das quais todos estamos carecas de saber:

    O 1º foi um espetáculo entre os demais (era o segundo do grupo), em que eles viram a receptividade do público e PERSISTIRAM em cartaz, persistência que era coisa RARA de acontecer (“insistir até pegar... E se não pegar? Como manter até lá?!”). A alta dose de improviso desse besteirol permitiu a entrada de assuntos baianos do dia e quase da hora, causando grande comunicação com o público;
    O 2º foi uma atividade dos alunos/professor da ET (durante a ‘grande’ greve de 1988) que satirizava as músicas da recém-denominada axé music;
    E o 3º foi um monólogo que, como tais, com sérias restrições orçamentárias, baseado na capacidade de comunicação de uma atriz que, até aquele momento, vendia cestas de café da manhã.

    Tais espetáculos começaram a fazer tantas apresentações que os envolvidos foram ‘convocados pelo destino’ a abandonar as ‘outras coisas que faziam para garantir o pão’ e optar pelas peças, afinal, com elas estava dando para sobreviver (apesar da absurda labuta que era/é) daquela bilheteria que estava entrando.

    Aliás, essa “coincidência” primitiva entre essa nova onda de profissionalização e os temas da baianidade (que terminaram, afinal, por formar um público) renderam muita polêmica. Esse público atraído para o espetáculo XX , não estava muito a fim de ver XY. Mas, mesmo assim, havia um público que conheceu a “qualidade do teatro baiano” e se permitiu viajar por outros gêneros.

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  11. E aí um adendo importantíssimo da conjuntura política: O novo governo carlista, de 1991, entrou capitalizando ‘as artes DA BAHIA’ em nome de seu próprio jogo imagético-político e apoiou a música, o cinema, a dança e o teatro baianos (1º governo pós Ditadura de ACM 1991-1994). O teatro se estruturou entre 1997 e 2007 basicamente em cima dos erros e acertos da Lei de Incentivo Fiscal. Que tinha falhas de gênese e de aplicação, mas que terminou por mais ou menos articular alguns elementos desse “mercado teatral baiano”. Após dez anos, as leis como estavam sendo aplicadas se tornaram grandes empecilhos para a produção. A produção “profissional” já estava xoxa antes da mudança de governo. Era preciso mexer/criar/fortalecer/ampliar os elementos que compõem o “mercado”, mas aí, mercado virou palavra inglória (novamente). Mas deixa isso para outra vez....

    Mas, enfim, essa (segunda) onda profissionalizante, de gente que queria viver só de teatro, teve início por aí. E teve MUITA gente que mostrou trabalho profissional (em se tratando de Bahia, desde os anos 1950 repleto de artistas profissionais...reapareceu/nasceu gente de tudo que é geração) por essa mesma época e não se pode esquecer a mídia toda que o Olodum/Bando reuniu para o teatro baiano.

    Os artistas que sobreviviam ‘de teatro’ ANTES disso tudo estavam SUBSTANCIALMENTE ligados a atividade de ensino (mesmo que em ONGs e outras entidades). O que, logicamente (!), não acho um caminho ruim, só digo que PENSAR no caminho “artista de teatro que vive do palco” era algo praticamente inimaginável antes disso.

    Daí que fico só nesse ponto. Mas, mesmo assim, gostaria de saber o que você chama “de operar (esteticamente) nos modelos de fora”? E também o que é “sermos nós mesmos”.

    Mas entendo perfeitamente quando você diz que ‘a classe’ não é unificada. Concordo PLENAMENTE que ‘a classe’ não pensa JUNTO. É antigo isso. Muito antigo. E, como tal, é preciso se ter paciência para resolver. Talvez, para dar início à resolução, fosse necessário ACEITAR que a ‘classe’ não precisa ‘pensar junto’ esteticamente para pensar junto ‘uma estrutura’.

    Por fim, quanto ao ‘mercado’, não ‘sou EU’ que o defino assim. Se o nome mercado nasce, no geral, do lugar para se vender e comprar, um mercado como o artístico não é algo tão circunscrito... Eu só reproduzo o que ‘dizem’ ser um mercado em todas as áreas fora o teatro na Bahia... (:D) Não culpe a mensageira! (:p) E quanto ao seu “não é muito FORTE dizer que uma capital tão importante não tem mercado de teatro’, eu não acho forte, Drica, acho GRAVE!

    beijos,
    Jussi

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