domingo, 12 de maio de 2013

ARNALDO ANTUNES NO FESTIVAL DA JUVENTUDE: A Fúria de um jovem Sr. Titã

Arnaldo aquece a inspirada e fria noite conquistense


Ele é mesmo um Titã. E dos grandes.

Titãs são aqueles irmãos dos deuses, deuses eles mesmos, parentes dos Ciclopes e Hecatônquiros, inimigos dos deuses do Olimpo, filhos de Urano e Gaia que ajudaram a povoar a Terra, segundo a Mitologia Grega.

Não tem a empáfia nem a arrogância dos deuses, mas tem seus poderes e sua força. E que força. Com 52 anos o cabra não parava no palco, pulando como se estivesse em plena década de 80. E que delícia foi passear pelo seu digníssimo repertório, com canções novas e antigas, ligadas por uma delicada relação com a ideia de casa. Casa abrigo, casa corpo, casa mundo.

E foi com a sabedoria não de um ser mitológico, mas de um ser humano maduro, artista sensível, poeta de olhar atento e delicado para o mundo, que ele abrilhantou o sábado do FESTIVAL DA JUVENTUDE DE VITÓRIA DA CONQUISTA, tanto no bate para com um Centro de Cultura lotado quanto no belíssimo  e inesquecível show à noite na Praça Barão do Rio Branco.


Papo de Poeta - Arnaldo Antunes e Luís Galvão - 11 de Maio de 2013


Eu não estive no bate-papo, pois estava envolvida com tarefas de filha, produzindo o almoço da mamãe. Mas a família, fã, foi e adorou. É só o que posso dizer sobre a doce tarde. O encontro com o velho e eterno novo baiano Luís Galvão, foi, segundo relatos, memorável.

Mais tarde estava cansada como quem rala, mas fui ver meu querido poeta e músico por quem tenho profunda admiração e por quem me sinto tão representada sempre que ouço suas poesias em forma de canção. Fui e foi uma linda noite.

Pelo show, que foi de uma beleza ímpar e também pela força que é o Festival.

Claro que fiz minha crítica no post anterior à organização, mas jamais deixe de ressaltar a importância deste evento. É visível o interesse e até mesmo a surpresa que os artistas expressam quando vêm para os eventos culturais de Vitória da Conquista. Por mais que haja muito a fazer, e sempre haverá. Por mais que a música ainda seja o forte da gestão cultural. Mesmo assim, é muito importante reconhecer que nossa cidade tem uma produção cultural incrível e que esforça-se constantemente - com muito sucesso - para garantir ações ligadas á cultura em seu sentido mais amplo, para a população.

Quem conhece outras cidades sabe disso. Eu que trabalho em Jequié vejo a indiscutível diferença do trato que se dá à cultura lá e aqui. Meu marido que é de Alagoinhas e trabalha em Catu também não se cansa de comparar os investimentos em cultura lá e aqui e não digo apenas investimentos financeiros, mas investimentos no sentido de não medir esforços para realizar eventos na contra mão do que acontece na maioria esmagadora das cidades brasileiras.

Não estou acompanhando a muitas atividades, porque afinal de contas já não sou mais tão jovem e o cansaço me vence com frequência. Mas, mãe de adolescente, confesso que fico muito otimista em ver que a juventude de Conquista tem ótimas perspectivas.

Hoje, ela está lá, no show e eu aqui no blog. Diferença de geração. Não um conflito de gerações, apenas o exercício de suas diferenças.

Um grande Salve a Arnaldo Antunes esse Hecatônquiro de muitas cabeças e infinitos braços.

Um Salve à Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista e aos demais realizadores deste lindo e importante evento.

Que sigamos construindo sempre, errando às vezes e desistindo nunca. Exercitando nossos direitos, nossas críticas, nossas belezas. Disso deve ser feito o caminho entre a juventude e a maturidade.

Que venha o São João, a festa mais linda do mundo!

Boa semana para todos.

Leia mais sobre o show em:

http://www.pmvc.ba.gov.br/v2/noticias/arnaldo-antunes-apresenta-grandes-sucessos-de-sua-carreira-no-festival-da-juventude/


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Cidadania pra quem mesmo? Abertura do II FESTIVAL DA JUVENTUDE DE VITÓRIA DA CONQUISTA


Sim, foi lindo. Ariano Suassuna é Rei e em qualquer circunstância será sempre um evento mágico estar diante dele.

Sim, o FESTIVAL DA JUVENTUDE DE VITÓRIA DA CONQUISTA é um evento maravilhoso, importantíssimo, com uma programação bem estruturada e diversificada.

Sim, eu poderia escrever um post sobre as vantagens e belezas do Festival e de sua palestra de abertura, mas, infelizmente o que me motiva neste exato momento é a evidência da contradição.

A contradição de, num festival onde se supõe que o tema é o respeito e a cidadania, ver centenas de pessoas comuns serem desrespeitadas sem nenhum constrangimento por parte dos organizadores do evento.

Ora, tantas mesas redondas, tantas palestras, debates e oficinas provavelmente debaterão questões relacionadas aos Direitos Humanos, às noções de respeito e cidadania. No entanto, enquanto essas coisas forem apenas tema de discurso, em nada avançaremos.

Não avançaremos enquanto não se praticar cidadania e respeito ao próximo, quando ele de fato estiver próximo, pra ser mais preciso, ao seu lado, ou mais preciso ainda, à sua frente.

Pois bem, o evento, marcado para as 15h já contava com uma fiel plateia desde antes das 14h. Gente organizada e planejada que chegou cedo para se sentar num bom lugar, para ter uma boa visão e ouvir o bom velhinho (não, não era o Papai Noel) de perto. Garantir alguma tranquilidade na tarde tão esperada.

O espaço escolhido é ótimo porque é grande, bem localizado e muito organizado. Mas não tem boa acústica e não tem desnível de plateia, de modo que é um horror assistir ao que se passa lá na frente. E eu adoraria entender porque o sofá onde se sentaria o palestrante estava num palquinho baixo, quase no mesmo nível das cadeiras da plateia, ou seja, apenas a primeira fileira assistiria com qualidade de visão à palestra. E como tem uma acústica ruim aquele espaço, sua arquitetura já denuncia o problema. Eu tenho certeza que a Prefeitura de Vitória da Conquista tem condições de contratar um serviço de sonorização profissional. Mas esse é assunto de outro parágrafo.

De cara, mais ou menos cinquenta cadeiras reservadas, logo na frente, para uma infinidade de celebridades e autoridades, que realmente beirava o cômico. E essas cadeiras reservadas são sempre um antipatia, porque estão bem na frente de quem chegou cedo, reservadas pra quem vai chegar tarde. Tudo bem que autoridades não podem chegar cedo, porque são importantes e tem uma agenda cheia (coisa que quem não é importante também tem, mas vamos lá). Pois que paguem o preço e se sentem onde sobrou lugar. Acho que é um princípio de justiça. É o ônus. Pessoas normais não vivem pagando o ônus de usas vidas? Que fossem lá 10 cadeiras para o Prefeito, o Reitor e um ou dois assessores, talvez eu até entendesse, mas dezenas de cadeiras reservadas, ficou realmente feio.  Mas, vamos pra frente. Ops, pra frente, não que tá reservado!!!!





Às 15h, horário marcado para começar a palestra, os organizadores do evento começaram a testar o data-show, com uma tranquilidade constrangedora, como se fosse meio dia e como se não houvesse ninguém na plateia. Aos poucos foi chegando um monte de gente lá na frente. Era gente pra lá e pra cá, fio aqui, fio acolá, microfones, câmeras e uma infinidade de 'coisas importantes' de 'gente importante'. Já ia pra mais de 15h30 quando  começam a exibir vinhetas e um vídeo sobre o festival do ano passado. 'Oba!', Pensei. 'Legal, vai começar'. Ledo engano!



16h10, eu já num estado de nervos próprio de quem estava ali havia 2 horas sentada, esperando, começo a perder a paciência.

Nenhuma, eu disse nenhuma palavra dos organizadores sobre o motivo do atraso, sobre a perspectiva de que horas começaria a palestra, nenhum pedido de desculpas.

ALOOU, SOMOS SERES HUMANOS, TÁ?

É muita contradição na abertura de um FESTIVAL DA JUVENTUDE com evidente caráter político, tratar de forma tão negligente e desrespeitosa uma plateia. Puxei uma tentativa de "COMEÇA, COMEÇA" que teve pouca repercussão.

Claro, ninguém queria ofender o mestre Suassuna. Nem eu! Jamais.

Se alguém fosse à frente, pegasse o microfone e desse alguma satisfação sobre o que estava acontecendo, a dor do atraso e da negligência seria esquecida, mas o desrespeito só piorava. Em nenhum momento se tratou com respeito quem estava ali esperando. Era como se a gente não estivesse ali.

E colocaram o vídeo de novo. Um vídeo sem qualidade de som que ninguém entendia nada e que não ajudava a acalmar quem estava ansioso para ver o que tinha ido ver: Ariano Suassuna.

Pois bem, eis que às 16h15 começa o evento. Na frente do palco, um mar de gente. E gente bem mal educada, conversadeira e meio sem-noção. Desculpa, gente, mas foi a impressão que me deu. Uma pergunta: Era tudo autoridade ou celebridade ali na frente, era? Que coisa cafona!

Aí as autoridades falaram, os artistas fizeram suas belas apresentações, mas a plateia já estava no seu limite. Pelo menos eu estava!

Suassuna mesmo, só às 17h. Tem noção? 17h horas começou a palestra marcada para as 15h.

Aí veio o show de horrores.


Deixa eu perguntar: Tem alguma disciplina nos cursos de JORNALISMO e de COMUNICAÇÃO que diz para os cinegrafistas ou fotógrafos que eles são invisíveis ou que são melhores do que as pessoas que estão na plateia?

Não só pode ser isso!

Gente, eu fui cedo pra ver Ariano Suassuna A-RI-A-NO  SU-AS-SU-NA . Mas só via as costas de meia dúzia de cinegrafistas que se chatearam quando a gente pediu para eles saírem (e não saíram, claro) É o fim da picada. Respeito nenhum, absolutamente nenhum, por quem chegou cedo, reservou seu lugar.

É tratar a gente como um nada, como bosta. O que eu acho engraçado é que quando se fala de direitos humanos e de cidadania só se pensa nas relações macro de poder - o governo e o povo (estas duas instâncias subjetivas) nunca se pensa em quem está do seu lado, uma pessoa como você, que existe de fato, que não é uma abstração ou um conceito. Povo mesmo, gente real que quer e merece respeito.

O povo invadiu a frente da plateia, claro, tá certo, ser virando como pode. Aí ninguém respeita mais ninguém! Eu fui parar sentada no chão pra poder ver Suassuna de perto.

Mas eu fui pra ver e ouvir Suassuna. É não era exatamente uma tarde preparada para estes sentidos.

Um microfone que parecia de gincana de escola fundamental. O pobre do Suassuna com aquele microfonizinho num pedestal, sem poder se mexer porque senão deixava-se de ouvir o pouco que se ouvia com o microfone. Gente o som era impossível de ouvir. Abafado, grave, sem qualidade nenhuma. Suassuna com aquela vozinha de um senhor de 85 anos de idade, fazendo sua linda palestra e metade do público sem ouvir. Meu deus que tristeza. E depois, ainda pediram para ele sair de um sofá largo e macio pra sentar numa cadeirinha minimalista... para dizer o mínimo! Constrangedor!


Ao fim da palestra, pouca gente ainda conseguia ouvir e prestar atenção às sábias palavras do mestre. Celulares e bate-papos pioraram a situação. Aos poucos foi-se concluindo a contraditória tarde da mais pura beleza e de um inacreditável show de horror.

Sou entusiasta do FESTIVAL DA JUVENTUDE, sou entusiasta do governo do PT em nossa cidade, muita gente sabe disso, inclusive por conta do conteúdo de muitos posts neste blog.

Mas, talvez a produção do evento não tenha dimensionado o que é receber Ariano Suassuna (ainda mais a essa altura do campeonato).

Talvez a produção do evento tenha que tentar funcionar a partir de novos paradigmas que estão sendo debatidos nas mesas do próprio festival. O pessoal da imprensa tem que respeitar a plateia ao vivo. É um contra senso as câmeras serem mais importantes que o público, isso não faz sentido! É um contra senso o registro do evento ser mais importante do que o evento.


Se o próprio festival não operar sob novas bases de relacionamento com as pessoas que dele fazem parte, sob novas bases do real e concreto exercício de Direitos Humanos, mudando práticas tradicionais e equivocadas de gestão, produção e cobertura, o FESTIVAL corre o riso de ser apenas uma simulação do que poderia ser de fato.

Fica o meu desabafo e minha torcida de que a gente não caia na armadilha de que o debate sobre cidadania e direitos humanos de alguma forma nos exime de praticá-los na prática (O pleonasmo é intencional!).

E não estou falando aqui do POVO subjetivo, do ponto de vista de Kant (para citar a palestra de Suassuna) mas do povo real e concreto, como a onça de Suassuna.

Falo da pessoa que está do nosso lado e que não é nada mais nada menos do que um outro exemplar de mim mesmo.

OBRIGADA, SUASSUNA, PELAS LINDAS PALAVRAS, PELA ILUSTRE E ILUMINADA PRESENÇA!

PARABÉNS PREFEITURA, PELA ESCOLHA DA PALESTRA DE ABERTURA!

VIDA LONGA AO FESTIVAL DA JUVENTUDE DE VITÓRIA DA CONQUISTA!


QUE O RESPEITO AO OUTRO SEJA UM FATO E NÃO ENXERTO DE DISCURSO!




Outas informações sobre a palestra de abertura do II FESTIVAL DA JUVENTUDE DE VITÓRIA DA CONQUISTA:

http://www.pmvc.ba.gov.br/v2/noticias/ariano-suassuna-diverte-e-ensina-o-publico-na-abertura-do-festival-da-juventude-ano-ii/

http://www.pmvc.ba.gov.br/v2/noticias/noticia-destaque/mais-de-4-mil-pessoas-estao-prestigiando-a-abertura-do-festival-da-juventude/