terça-feira, 31 de maio de 2011

AMOR E TEATRO: UMA COISA DE DOIDO

 Primeiro, segundo e terceiro sinais...





Fumaça.
Luzes.



Uma oração aos deuses do teatro. Cuidem de nós, santos anjos da doidice.

Folhas ao vento.

E os anjos logo apareceram: Andreato, Shakespeare, Artaud (tinha um Artaud ali, não tinha?), Adélia Prado, Fernando Pessoa, Edith Piaf e tantos outros que eu talvez não tenha reconhecido a cara, reconhecido a fala, reconhecido as asas.



Roupa de louco tem asas. Aquelas grandes mangas para prender. Aquelas grandes asas para voar.

Folhas ao vento.



Todo doido é meio rei. Todo rei devia ser meio doido.

E segue o desfile de santos e doidos, desfile de dores e pruridos, desfile de acertos e desmandos, desfile de humanidades, ali, se declarando palco, se declarando arte, se afirmando vida.

Folhas ao vento.

E aos poucos a gente era um só. Essa gente estranha de teatro. Do lado de cá, do lado de lá, tudo junto reunido sobre o manto sagrado de ser gente.

UM BOCADO DE GENTE SOZINHA, TUDO JUNTO. SOLIDÃO COMPARTILHADA. FORTALECE E REDIME.*


Gente que ama, que confessa e que abandona.

Gente que admira o amor que dorme. Gente que espera a volta.

Folhas ao vento.



Amor de vela acesa. Amor de vela queimada. Amor de velas ao mar.

Só faz arte quem ama. Só ama quem é gente. É mais gente quem faz arte.

O amor e a arte. O amor é a arte.

Silêncio. Escuro. Aplausos.

Plácida, sutil e silenciosamente Elias sai do palco.

A plateia enlevada, começa a voltar a si, transformada.

Mas existe uma coisa chamada realidade:

"Atenção. Nós pedimos a todos os presentes que desçam cautelosamente ou que aguardem, porque houve um tiroteio no Pelourinho, alguma coisa muito grave, porque o ensaio do Olodum foi suspenso. Já chamamos a Polícia para que faça a saída de vocês com segurança." Aninha Franco

Como assim? Depois de um espetáculo sagrado de amor e magia, a realidade nos dá assim, esse tapa na cara? Como assim? Nossos filhos assustados, eu, vítima do medo, já me tremendo toda, os espectadores sem saber se comentavam a peça assistida ou a peça pregada pela vida.

Mas, no meio da confusão que aos poucos se dissipava, ninguém tinha muito ânimo para falar e nem a gente tinha clima para abordar os assustados espectadores. Vale a pena conferir, mesmo assim, o depoimento emocionado de Igor Epifânio que nos atendeu carinhosamente no GOL DO ESPETÁCULO, CLIQUE AQUI.

Quando a paz já voltava a reinar, a calma e a sensatez nos reencontravam, Elias surge como o doido que é: Doido-calmo, doido-tranquilo, doido-gentil, doido-suave. Um homem que vive por amor. Um doido doce, humano e generoso.

Foi assim, nesse clima de paz que fizemos, com muito respeito e admiração o DEZ MINUTOS COM... Compartilhe com a gente este momento, clicando aqui..

Assistiu? Se emocionou? Não viu? Ficou com vontade? Comenta aí, vai.


* Trecho de Solo Compartilhada, de Adriana Amorim, sobre trecho de Calendário da Pedra de Denise Stoklos.

FOTOS DESTE POST: alam félix.
LEIA ESTE POST ANTIGO QUE EU ACHEI SOBRE ELIAS TAMBÉM:

EU QUERO MAIS É SERMUITO FELIZ - Para Elias Andreato


FICHA TÉCNICA

Texto, roteiro e direção: ELIAS ANDREATO
Luz: WAGNER FREIRE
Figurino: LAURA HUZAK ANDREATO
Cenário: LUIS ROSSI
Programação visual: ELIFAS ANDREATO
Assistência de direção: DAVID KAWAI
Fotos: SELMA MORENTE
Realização: MORENTE FORTE COMUNICAÇÕES





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domingo, 29 de maio de 2011

PEÇAS PELAS QUAIS VALE A PENA VIVER

Este título é inspirado em COISAS PELAS QUAIS VALE A PENA VIVER, programa do Canal Brasil, que absurdamente ainda é um canal fechado, onde Domingos de Oliveira e Priscila Rozembaun entrevistam pessoas interessantes que fazem um trabalho que justifica o nome do programa.
Ontem, ao descer para o camarim do Gamboa Nova depois do espetáculo SEBASTIÃO do Território Sírius, escrito, dirigido e interpretado por Fábio Vidal, foi o que consegui dizer para ele: “Que bom estar viva para assistir a este espetáculo!”

O trabalho de Fábio Vidal já havia me contagiado antes. Seu Bonfim é para mim um dos grandes espetáculos que eu já assisti em toda minha vida de espectadora. E Fábio repete a receita. Se no primeiro espetáculo ele une um texto primoroso, baseado na obra A TERCEIRA MARGEM DO RIO de Guimarães Rosa, a um trabalho corporal impressionante, a uma direção de cena que envolve e seduz o espectador, somando a isso ainda doses precisas de drama e comédia, em SEBASTIÃO ele faz isso tudo e ainda acrescenta a cerejinha do bolo: ele brinca com sua própria trajetória, trazendo referências sutis de seus outros trabalhos, um presente para quem acompanha sua carreira.

Vidal tem um processo criativo muito instigantes. Não deve ser coincidência que os títulos de seus espetáculos sempre remetam à pessoa da qual falam:

Seu Bonfim


Erê, o eterno retorno
Velôsidade Máxima

Sebastião

Hoje, ele está mais maduro, obviamente, pois já se vão quase dez anos desde S. Bonfim e se o velho aleijado ficava parado no centro do palco, o jovem cearense Sebastião não pára quieto, não se cala e, sobretudo, não está sozinho no palco. Com um trabalho primoroso de corpo, com alguns elementos muito precisos da mímica, Vidal bota em cena mais de uma dúzia de personagens, que dialogam, convivem, discutem, brincam, batem, apanham. É simplesmente impressionante quando, ao fim do espetáculo, você lembra que é só um ator em cena. Porque muitas das cenas são repletas de personagens e, repito, a gente vê todos e cada um deles, isolados em sua existência pessoal, e integrados naquela coletividade a quem Fábio, ou Sebastião, nos ensina a gostar.

Vidal é muito feliz porque cria um personagem extremamente carismático. Há uma simpatia imediata pela pessoa de Sebastião, por sua humanidade, graça e vulnerabilidade e a comunidade de Maracangaia vai sendo nos apresentada como um coletivo pelo qual nos afeiçoamos muito rapidamente. Numa comparação rápida, seria como nos relacionamos com os moradores da cidade de Macondo, de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques. A diferença, BÁSICA, é que no universo da literatura, nós leitores que construímos visualmente os personagens, e no palco, é Vidal e apenas Fábio que dá vida (talvez por isso Vidal) a tantos personagens, e tudo ali, na nossa frente, num tempo tão curto e tão dilatado.

Eu tenho aquela mania de comentar, falar bem, elogiar e depois partir para o MAS... apontando um ou outro detalhe, digamos, negativo (palavrinha pedagogicamente proibida).

Sem chances. Não há ‘mases’ em Sebastião. A entrega de Fábio Vidal ao seu ofício é algo como sagrado. Não é á toa que parte de sua formação inclua o Teatro Essencial de Denise Stoklos, onde a vida e a obra do ator têm uma relação muito íntima.  Sua presença cênica, seu corpo vigoroso, seus grandes olhos acessos, roubam-nos de toda a vida prosaica e nos conduzem a um jogo onde a cena é realidade, onde a cena é a experiência valorosa.

Por este espetáculo Fábio ganhou o BRASKEM de melhor ator de 2010 e concorreu a melhor texto dramático. O espetáculo faz parte do projeto COOPERATIVA EM CENA, onde os grupos cooperados ocupam diferentes teatros da cidade, apresentando suas peças de repertório ou suas estréias.

Num espetáculo que fala de ganhar ou perder, de valores, só posso dizer que o prazer de ver o trabalho de Fábio Vidal em cena e uma grande vitória, é uma experiência transformadora, reveladora e de muito, muito valor. VALOR REAL E NÃO VALOR EM REAL!
Agora, vocês vão se deliciar com um super bate-papo com o ator, autor e diretor Fábio Vidal, na página DEZ MINUTOS COM.... Dessa vez sem problemas tecnológicos, veja que bom.



Assista também aos comentários do público no GOL DO ESPETÁCULO. Mas, só uma dica, se você se importa com revelações do enredo do espetáculo, é melhor não ver as entrevistas antes de assistir, porque tem uma espectadora que entrega umas coisinhas que talvez você prefira não saber antes. Mas, depois que você assistir – porque Fábio tem que voltar! – aí você assiste. Agora, se você é pós-dramático e não liga para essas revelações tipo fim de novela, então, pode assistir à vontade. Só não diga que eu não avisei.

Acesse aqui o blog do PROCESSO CRIATIVO DE SEBASTIÃO que tem curiosidades curiosíssimas.

E aqui o site do TEATRO GAMBOA NOVA este teatro lindo de viver, com o melhor camarim do mundo, com uma vista que faz a gente até entrar atrasado no palco.

Obrigada por nos visitarem! Os comentários são sempre bem-vindos!


FICHA TÉCNICA:
Autor, encenador e ator: Fábio Vidal
Orientação e colaboração dramatúrgica: Gil Vicente Tavares
Assistente de Direção e operação de som: Gabriela Sanddyego
Assistente de Direção (1ª etapa): Caio Rodrigo
Direção de Arte: Moacyr Gramacho
Assistente de Cenografia: Renata Mota
Figurino: Silvia Costa
Iluminação: Fernanda Paquelet
Assistente de iluminação: Tuca Gomes
Direção Musical: Emerson Cabral
Produção de Trilha Sonora: Cassius Cardozo
Locuções: Evelin Buchegger
Foto: Alessandra Nohvais






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quinta-feira, 26 de maio de 2011

BEFORE THE BEEP - dançando com a tecnologia

Gente. Eu tenho que confessar. Nessa coisa de dança e tecnologia quase que quem dança sou eu. A Tecnologia está me dando um chocolate, como dizemos no futebol. Eu diria que está na base de uns 10 X 0.
O engraçado disso tudo é que o post - além do DEZ MINUTOS COM... e do GOL DO ESPETÁCULO é sobre BEFORE THE BEEP, um espetáculo de dança onde a grande estrela é quem? Advinha, advinha... Ela: a tecnologia. Na verdade não ela, pura e simples, mas a relação dos artistas com as possibilidades teconlógicas a serviço da criação de uma nova obra.
Primeiro, vamos às confissões: por problemas nos arquivos, ou por erro de operação (o que é mais provável) a entrevista com ROSA SANCHÉZ, diretora do espetáculo ficou pela metade, bem como as impressões de Alexandre Molina. Eu juro, foram mais de 24h trabalhando na edição, mas o máximo que conseguimos foi o que está postado aí. Depois da edição, tem que upar (eu adoro esse nome!) o vídeo no youtube e isso demora que chega a dar raiva. Mas é isso. Tamo avançando, tamo avançando. Já consigo editar, antes eu colocava o negócio no bruto.

Vamos falar então de quem sabe mexer com tecnologia?


Grupo 3 Marias trouxe para Salvador na última segunda-feira (23 de maio) os artistas da Plataforma Tecnológica KONIC THTR, de Barcelona, Espanha (atual campeã do mundo de futebol) para apresentarem no palco do maravilhoso Xisto Bahia (gente, eu tenho verdadeira paixão por aquele teatro, mesmo com todos os problemas estruturais que ele apresenta) o espetáculo BEFORE THE BEEP.

Espetáculo de dança e tecnologia (eu não sei bem o melhor termo a ser usado), Before the Beep é bastante provocador no sentido de promover uma série de sensações diversas que vão se produzindo a partir da cosntrução de imagens fruto da relação entre a performance dos artistas no palco e das projeções feitas no fundo, captadas ali mesmo na nossa frente. Assim, temos tanto a movimentação das dançarinas no palco, com a qual estamos acostumados, como as projeções, distorções e re-criações exibidas ao fundo.

Espectadores na cena de abertura
O começo e o fim do espetáculo conta com a presença de voluntários da plateia, o que torna o espetáculo ainda mais sedutor, posto que são propostos jogos e a participação do público é leve e divertida.

Para saber mais sobre esta apresentação dê um pulinho na página do DANCE.TECH.NET, clicando aqui..






Acompanhe os bate-papos, clicando nos links abaixo:




OUTRAS IMAGENS
(todas as fotos são de alam félix)


DANÇARINAS E SUAS PROJEÇÕES

IMAGEM REAL E IMAGEM VIRTUAL

NÃO É LINDO?

TÁ NA CARA QUE É TECNOLOGIA...

IMAGENS

ESPECTADORES NA CENA FINAL

ESPECTADORA ADRIANA AMORIM: presente!

SINTA OS SENSORES...

Agradecemos imensamente pelo convite e acolhimento de Jacqueline Vasconcelos, que produz a vinda do grupo a Salvador e que faria a tradução do DEZ MINUTOS COM... mas Rosa deu uma rebolada para falar em português.


Jacqueline Vasconcelos, Rosa Sanchéz, Adriana Amorim e Diogo Letelier

Agradecemos ainda a participação de JONILSON JESUS, MAÍRA GENTIL E ALEXANDRE MOLINA no GOL DO ESPETÁCULO.

Agora, é ficar ligado no que os palcos de Salvador tem nos oferecido e, claro, não deixar de ler e assistir nossos convidados aqui no ARTE DO ESPECTADOR.

Em breve estaremos lançando uma página de divulgação de espetáculos. Se vc tem espetáculo a estrear no mês de Junho, mande todos os dados e fotos para gente, que a gente tem o maior prazer de divulgar.



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terça-feira, 24 de maio de 2011

DEZ MINUTOS COM... BIRA AZEVEDO

Gente, dez minutos é só a entrevista, porque o resto do processo leva bem mais tempo. Desculpem esta blogueira recente, pessoa que já passou dos trinta e tá brincando de aprender coisas do mundo digital e virtual. Até por conta disso, estou postanto o vídeo sem edição, com umas esquisitices no final, porque editar dá um trabalho, requer programas, memória grande e enfim, um know-how que eu e Alam estamos adquirindo. Eu sei que vocês me perdoam, porque curtem mesmo é o conteúdo dos bate-papos.

Então, vamos a ele.

Bira Azevedo é professor, ator e diretor de teatro e tem uma forte atuação social e na área de arte educação e do ensino de teatro. É Coordenador da Casa do Sol, instituição em Cajazeiras que oferece atividades culturais e educativas aos moradore dessa comunidade.


Bira acaba de dirigir o espetáculo NASCE UMA FLOR, que foi apresentado na cerimônia de Beatificação de Irmã Dulce, que aconteceu no dia 22 de Maio de 2011 no Parque de Exposição de Salvador, quando colocou no palco 700 crianças vivendo, através do teatro a vida da futura primeira santa brasileira. É mole?

Já falei demais, né, veja Bira agora, clicando aqui.

Comente neste post, porque lá na página não tem como comentar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

DEZ MINUTOS COM... Hannah e João

Quem não viu vai ver.

Quem já viu pode rever, porque é realmente delicioso ver esses dois falando de teatro e futebol. Até porque eles já cresceram um pouquinho e é uma graça vê-los assim, pequenininhos emitindo suas sinceras opiniões.

Hannah Abnner e João Vicente comentando suas experiências com TEATRO e FUTEBOL.

Deliciem-se clicando aqui





sábado, 21 de maio de 2011

NO RASTRO DA PÓLVORA

Ontem nossa equipe foi assistir ao Premiado Pólvora e Poesia, direção de Fernando Guerreiro para o também premiado texto de Alcides Nogueira, de quem eu já havia assistido VENTANIA com direção de Gabriel Vilela, há quase 15 anos atrás em Sampa. A ideia era fazer o DEZ MINUTOS COM... e o GOL DO ESPETÁCULO, mas infelizmente não foi possível.

O espaço onde o espetáculo acontece é realmente maravilhoso. Tudo bem que ontem a cidade estava um caos por causa da febre do momento PAULA FERNANDES e foi bem difícil chegar lá. Nada se mexia das imediações do Campo Grande até a Praça Castro Alves, onde acontecia um show de forró. Quem disse que nossa cidade é um paradeiro? Agora é preciso melhorar a estrutura da cidade, porque se não, corremos o risco de achar que um evento atrapalha o outro, ou cairmos na besteira de desejar que um ou outro evento não aconteça. Tem que acontecer este, aquele e aquele outro. Mais, muito mais eventos, festas e espetáculos. Em todo canto, a toda hora!

A proximidade com o cine Glauber Rocha, com o Pelourinho, com a vida prosaica da Carlos Gomes, da Av. Sete e da própria Barroquinha faz do ESPAÇO CULTURAL DA BARROQUINHA um lugar realmente plural, por onde a cada momento passa uma figurina diferente. Por dentro, a reforma fez dele um espaço multiuso e bastante agradável. Tem uma elegância própria e um zelo tanto na estrutura física, quanto na equipe que nos recebe. Fiquei muito feliz com o espaço. No Foyer, uma exposição nos recebia.

Sobre o espetáculo, muito já se falou, obviamente. Ora, estamos falando de um dos mais famosos, senão o mais famoso diretor de teatro da Bahia. Diretor que apesar de ser associado frequentemente à comédia, ao besteirol, investe também em outros gêneros, como foi o caso de Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues e Um Bonde Chamado Desejo, de Tenesse Williams, só para citar algumas. E, não posso deixar de confessar, que me peguei algumas vezes me perguntando se deveria ou não comentar este espetáculo. Ora, é Fernando Guerreiro!!! Mas, aí, eu me lembrei que este espaço é o que é para Reginaldos Carvalhos e Fernandos Guerreiros, porque, a bem da verdade, este espaço não é para eles, é para mim, para eu experimentar minha escrita sobre o tema da recepção (meu universo de estudo no doutorado) sobre criação teatral (universo do meu fazer) e também para meus leitores que querem, por diferentes motivos, ler e dialogar comigo sobre o que achamos de espetáculos e de temas diversos. Então, mesmo com o tamanho do nome do homem, resolvi escrever, com a mesma leveza de espectadora com a qual escrevi todos os posts até aqui.

A encenação tem aquela pegada profissional e inconfundível do diretor tão experiente. A atenção dedicada aos detalhes, do cenário, do figurino, da luz, das marcações dá um toque especial ao espetáculo. O trabalho dos atores é contundente. O olhar e o suor são parte fundamental de suas interpretações. O trabalho de preparação de ator de Hilda Nascimento é irretocável. As cenas de luta ou de amor (de tão intensas se confundem) tiram a gente do marasmo que o texto às vezes acaba por nos levar.

E por falar nisso, me desculpe pela sinceridade, me desculpe o Prêmio Shell/2011, o Braskem 2010, mas eu acho o texto mutio chato e acho até que ele atrapalha o espetáculo, se é que se pode separar uma coisa da outra. Acho os diálogos verborrágicos, confusos e repetitivos, em alguma medida. A força da cena, das movimentações, os sustos provocados, me convocam muito mais do que algumas frases que a mim soavam pretensioamente poéticas demais.

Para mim ficou a impressão de que a peça tratava mais de questões pertinentes a um casal que vive na eterna corda bamba de estar junto ou se separar do que necessariamente de questões homoafetivas, como se diz no momento. Acho as discussões muito parecidas com as discussões entre casais héteros. Não que eu quisesse ver ali a bandeira do movimento gay, não é isso. Talvez ,ao fim e ao cabo, as questões de amor e convivência, sejam enfim, as mesmas, para parcerias entre seres humanos, sejam eles héteros, homos, ou bis.

Outra coisa me incomodou um pouco foi uma certa antipatia presente no espetáculo que talvez seja natural dos personagens de que trata: poetas europeus do final do século XIX. Há uma glória e uma empáfia na figura de Paul Verlaine, interpretado por Caio Rodrigo que me incomodou muito. Um 'engasgar' constante aliado a uma fala empostada que me afastou definitivamente de sua figura. O Rimbaud demasiadamente confuso para a praticidade do nosso dia-a-dia, foi bem defendido pelo jovem  ator Talis Castro, apesar do tom aéreo, entre 'aparecer off line" e gargalhar no meio da fala, típico dos personagens psicologicamente desequilibrados. Por uma questão muito pessoal, essas dores dos poetas sofridos de outrora (sobretudo os europeus) me cansam um pouco. O que me impressionava mesmo era como os atores não se machucavam naquelas quedas perfeitas e barulhentas. Maravilhoso trabalho de Lucas Tanajura, na assessoria coreográfica. O fazer do espetáculo para mim, acabou ficando maior do que a temárica, ou mesmo do que a história que contava. E eu, honestamente, não sei se isso é bom ou ruim.

Nas apresentações de sexta-feira, acontece logo em seguida, um sarau de ideias, onde convidados especiais debatem temas polêmicos, relacionados ao espetáculo. Ontem o tema foi Pecado e Culpa, com representantes de difrerentes correntes religiosas. Lamentamos mais uma vez não termos conseguido bater nosso papo nem com a plateia nem com a equipe, mas está aqui registrada nossa visita ao Pólvora e Poesia. Agradeço à produtora executiva, minha querida loira Xanda Fontes pela tentativa e pela gentileza com que nos recebeu.

Ficha técnica:
texto: Alcides Nogueira
elenco: Talis Castro e Caio Rodrigo
direção geral: Fernando Guerreiro
assistente de direção e preparação de elenco: Hilda Nascimento
produção: Xanda Fontes
direção musical e guitar man: Juracy do Amor
trilha sonora para VT: Raiden Coelho
iluminação: Irma Vidal
operador de som e luz: Ed Pool
cenário: Rodrigo Frota
figurino: Hamilton Lima
costureira: Salvelina Pacheco da Silva
cabelo e maquiagem: Deo Carvalho
fotos: Maira Lins
vídeos: Apus Filmes e Tiago Gomes
ass de comunicação: Comunika Press [Aleksandra Pinheiro]
realização: Hiperativa Produção e Cultura

quinta-feira, 19 de maio de 2011

FINO CAFÉ - 8 ANOS DE FINOS TRAPOS

Gentes, vai acontecer um evento muito massa em comemoração aos 8 anos de trabalho da FINOS TRAPOS. Prestigiem:


Em 2011 a Finos Trapos completa o seu oitavo aniversário de fundação. Para comemorar esse marco o grupo promoverá no Teatro Martim Gonçalves e na Aliança Francesa o “FINOCAFÉ” que compila... uma série de atividades organizadas no intuito de celebrar a sua identidade estética e todas as suas vitórias até aqui já conquistadas.


O grupo Finos Trapos foi fundado em Vitória da Conquista –BA, cidade conhecida como terra das rosas, do frio e do cultivo da cafeicultura. Desde então as suas pesquisas se engendraram pela defesa de uma Arte Contemporânea alicerçada na Cultura Regional procurando combinar esses conceitos como uma fórmula “café com leite”, como rege o ditado popular.

Dessa combinação surgiu a idéia de celebrar o seu aniversário de fundação com um evento que fosse a cara da Finos, ou seja, que ilustrasse as características peculiares de seu trabalho. Durante o mês de Agosto de 2011 a Finos movimentará a cena baiana com atividades que popularizarão o trabalho do grupo e apresentarão o seu teatro contemporâneo com sotaque regional. Fiquem ligados!


Serviço:


O quê? FINOCAFÉ
Onde? Foyer do Teatro Martim Gonçalves
Quando? 20, 21 e 22 de Maior de 2011
Horário? 18h às 20h

Vão lá e conheçam o nosso Café.
E ai, querem um cafezinho?


Acompanhem também o blog do grupo:

http://www.finostrapos.blogspot.com/

E leiam um comentário sobre o espetáculo Gennesius que eu escrevi quando ainda nem sonhava em ter este blog. Era um ensaio para o VI E QUERO COMENTAR, mas eu nem sabia...

http://finostrapos.blogspot.com/2010/03/sobre-gennesius.html

Tá divulgado, em nome de Dioniso!

UM MONSTRO DE ESPETACULARIDADE: ela nasceu assim!

O ruim da TV paga (além da conta todo mês) é que sempre que você procura uma coisa boa para sentar e assistir, dificilmente você acha. É incrível como as seleções de filmes são ruins. Ou isso, ou eu sou muito chata. É bem provável que vença a segunda opção. O Telecine Cut deveria se chamar Telecine Jurassic, porque só passa velharia. Melhor assumir, como o TCM. Gente, passa Macgiver, A Gata e o Rato e - pasmem - Casal 20!!! Desculpem os mais novos, só os da minha geração sabem do que estou rindo.
O bom, é que quando você liga a TV só para dormir, aparece um programa que você nem sonhava que ia passar e aí você acaba varando a madrugada vendo aquele programa que você não sabe se vai passar de novo. Enfim.

Isso aconteceu comigo muitas vezes. Nas semanas passadas peguei jogos maravilhosos da Libertadores assim, no susto.

Ontem eu fui surpreendida por um programa na HBO2, às 22h30. Era a THE MONSTER BALL TOUR da MA-RA-VI-LHO-SA da LADY GAGA.

Àsvezes eu desconfio que Michael Jackson teve um filho secreto com Madonna. Ou melhor, uma filha. E essa menina nasceu assim: poderosa. Nasceu Lady. Nasceu Gaga.

Não vou falar daquilo que todo mundo já falou. De que sua influência nos reis do Pop são evidentes ou que ela é apenas mais uma Madonna. Eu não me importo com isso.

Se Michael já se foi e Madonna está cansada, não há nada melhor do que ter uma substituta à altura, que reconheça suas influências e continue - com o mesmo talento - o trabalho de seus precursores. Ora, não é sempre assim?

Eu gosto de ver essa guria em cena. Meu Deus! Ela é pura energia. Ela é linda, ousada, inteligente, talentosa, gostosa, descarada e dona de si. E seu mais novo discurso é uma apologa à esquisitice. BORN THIS WAY é um elogio à diferença e ela repete isso incontáveis vezes no show, quer seja em suas canções, sua postura ou seus discursos inflamados e desaforados, gritados em plena Nova Iorque, sua terra natal.

Mas porque eu me inspirei para falar de Gaga, agora?

Porque ainda que eu siga seus clips no youtube e fique passada com o primor no visual, do figurino aos cenários, da maquiagem à edição, o que eu pude ter certeza vendo o show (primeiro show dela que eu assisto) foi que além da pegada pop no som, das coreografias e do visual, Gaga se aproxima de seus confessados ídolos porque, como eles, não poupa esforços quando o assunto é ESPETACULARIDADE. Seus shows são espetáculos impressionantes.

Jennifer Lopez, Byoncé e outras cantoras-dançantes talvez permancem à sombra de Gaga como tantas permaneceram à sombra de Madonna e Michael porque não foram às raias do exagero na espetacularidade não apenas de seus shows, mas de toda sua passagem pelas bandas de cá da existência. Eles são uma espécie de personagens constantes e sabem como manter essa construção, dramática e cenicamente.

Não há economias no show de Gaga. Os figurinos são o exagero corporificado. Tão lindos, tão exagerados, tão tão, que beiram o cafona e isso é tão gostoso de ver. É tão bom ver artistas sem medo no palco, pagando para ver onde é que o limite está, sem encontrá-lo jamais.

E exagerar a vida é tão teatral!!!

Onde mais, além de em cima de um palco, a gente pode espichar a vida pra ver até a onde a vida vai?

O encantamento que Gaga e sua equipe provocam talvez ainda represente um décimo do que foi o carisma de Michael Jackson, mas a menina é retada.

Um vozerão de negra americana quando quer, um piano doce quando cabe e lá vai ela  desfilando, pelas duas horas ininterruptas de show, suas inumeáveis qualidades.

São seus convidados, todos os 'freaks': gordos, feios, gays, pobres, marginais de um mundo empacotado em embalagem longa vida, que de longa tem tão pouco e de vida não tem nada.

Eu não sou do mundo da música, muito menos do show-business, mas eu sou do mundo do teatro. E eu sou espectadora, né,  isso me basta para dizer que Lady Gaga me seduz, me comove, me inspira e me faz mais feliz, toda vez que vejo seus vídeos ou qualquer outra alucinada aparição sua pelas ruas sujas e desoladas dessa vida estranha de começo de século.

Confira seu lindo vozerão:

PS.: Dedico este post a Wesner Filho, meu querido quase Designer de Moda, e ele sabe porquê.


COOPERATIVA EM CENA

Neste projeto, são divulgados os espetáculos da COOPERATIVA BAIANA DE TEATRO (Leia post do Futebol de Artista sobre a cooperativa clicando aqui) que estão em cartaz nos teatros da cidade.

O projeto tem longa duração e esperamos que a divulgação coletiva dos espetáculos cooperados fortaleça a vida das temporadas.

Não deixem de prestigiar!

terça-feira, 17 de maio de 2011

UMA PEÇA EM WIDESCREEN - Namíbia, não!!!

Previously on ARTE DO ESPECTADOR:


No post anterior Adriana e Alam apresentaram as mudanças no blog e comentaram sobre a experiência de terem assistido na semana de 13 de Maio a dois espetáculos com a temática negra, se é que se pode chamar assim. Foi comentada a peça Bença e postado bate-papo com Chica Carelli... no DEZ MINUTOS COM.




WIDESCREEN

Foi a primeira impressão que tive ao abrirem-se as cortinas do Martin Gonçalves no domingo 15 de Maio. Um pesado, porém interessante, aparato compunha o cenário. Um mundo branco, exageradamente branco, recortado por um universo negro, escuro. As formas retangulares todas dentro do grande retângulo, retangulavam a visão.

A peça desenrola-se com um ritmo alucinante, envolvente. Texto e atores seguram um ritmo impressionante. Os recortes na narrativa ou na luz, promovem uma rica edição, como propõe Roberto Abreu em sua participaçã no Gol do Esptáculo (veja link no final do post). E o diálogo com o cinema extrapola o tela larga.

A peça tem aquele não sei o quê (mentira, eu sei, é o trabalho seguro e aterrado dos atores) que segura o público o tempo todo. Que delícia ver estes meninos em cena. Sua entrega, seu desejo, seu carisma, seu comprometimento e, claro, seu talento.





Da dramaturgia, um vai e vem que leva a gente pra lá e prá cá, pra lá e pra cá...

ACREDITAR OU DUVIDAR?

IR OU FICAR?

OBEDECER OU TRANSGREDIR?

ESCONDER OU ENTREGAR?

RETROCEDER NUNCA?

RENDER-SE JAMAIS?

...estas são algumas das questões que nos levam ao poeta maior:

SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO.


O universo do drama em questão é tão absurdo que, como muitas vezes na vida, a gente tem a sensação de que vai parar tudo e dizer: "Ah, era apenas um sonho!" Mas não era.
Não é.
Quase nunca é...


As discussões políticas, sociológicas e antropológicas passam longe do risco de serem didáticas. Repletas de humor e ritmo, as cenas jogam no nosso peito questões polêmicas, cruéis e violentas, e a gente se ri do ridículo que carregam em si. E olha que nem é aquele riso constrangido, não. É engraçado mesmo. Um humor bem construído, do texto à cena. O texto impresso, com mais cenasé vendido no final do espetáculo (apesar de que poderiam botar uma mesinha mais atraente do que a menina, bem intencionada, tadinha, mas que sem carisma nenhum fala, quase com medo, na porta de saída: "O TEXTO DO ESPETÁCULO!". Enfim) Sua publicação é fruto do Prêmio FAPEX de Teatro, concedido muito merecidamente, a Aldri.



E curiosamente, voltando à peça encenada, percebo que como na peça assistida no dia anterior, temos uma estrutura cênica branca, com uma luz muito fria e clara contando uma história negra. Isso me chamou atenção. E me chamaram atenção também outras proximidades entre Namíbia... e Bença.

Se o espetáculo do Bando fala de ancestralidade, de velhos e de origem, Namíbia... parece representar o outro lado do arco. A outra ponta da Diáspora. Jovens brasileiros inseridos, cada um a seu modo, na loucura da rotina de seu país pensando a questão da África, da origem, ao avesso. Discutindo através de um problema extremamente prático, não uma questão filosófica intransponível. Esse é um dos grandes trunfos do espetáculo. Não tem cabeçudisse ali. Tem um problema real e concreto diante do qual é preciso - mas talvez não suficiente - se posicionar.

A mão de Lázaro Ramos na direção me parece bastante precisa e arrojada. Eu não sentiria falta das cenas de audiovisual, como o programa de TV ou mesmo a reportagem em Angola. Acho gente demais atrapalhando os meninos que se bastam sozinhos no palco. É sempre uma delícia ver Luiz Miranda fazendo qualquer coisa, mas realmente acho que se algum dia esquecerem a mídia, não deixem de fazer o espetáculo por causa disso (a pessoa é desaforada!!! kkkkkkkkkk).

Deu né? Já entreguei coisa demais pra quem - por ventura e ingenuidade - tenha lido antes de assistir.

Amei ter ido assistir, vou levar minhas crianças que já tinham ido ver Bença no sábado e ficaram em casa no domingo, fazendo tarefa. É um espetáculo que precisa ser assistido, degustado, debatido. Sobretudo porque é teatro, dos bons. Não é panfletário, mas é político. Enfim. Uma delícia!


As fotos e os vídeos são de Alam Félix, se experimentando em sua nova profissão (não bastam as de ator, diretor, professor, pai e marido).

Não deixem de ver os vídeos relacionados:

DEZ MINUTOS COM (clique aqui) Flávio Bauraqui e Aldri Anunciação: um gostoso bate-papo sobre o público de Namíbia e

O GOL DO ESPETÁCULO (clique aqui), nova série onde o espectador decide se a peça, enquanto jogo ficou no 0 X 0, foi uma derrota ou um jogo ganho? (que eu não falo o nome daquele time...), elegendo o tento da peça.


E aí?
Gostou das novidades do blog?
Gostou do VI E QUERO COMENTAR?
Gostou da peça?

Participe do baba. Pode até chutar a autora. Eu não sou bola, mas passo um GELOL.

ACOMPANHE A VIDA DA PEÇA FORA DOS PALCOS (debates,reflexões, bastidores e repercussões) NO BLOG OFICIAL DE  Namíbia, não!



FICHA TÉCNICA:
texto: Aldri Anunciação
elenco: Flávio Bauraqui e Aldri Anunciação
ator substituto: Fernando Santana
direção geral: Lázaro Ramos
assistência de direção: Ana Paula Bouzas e Caio Rodrigo
direção musical: Arto Lindsay, Wladimir Pinheiro e Rafael Rocha
supervisão artística: Luiz Antônio Pilar
produção musical: Rodrigo Coelho e Rafael Rocha

equipe de produção
coordenador de produção: Aldri Anunciação
produção executiva:      Socorro de Maria, Kalik Produções Artísticas (Susan Kalin); Terceira Margem (Caio Rodrigo); JLM Produções Artísticas Ltda (Laura Castro, Marta Nobrega)
desenho de luz: Jorginho Carvalho
engenhariade som: Rocha Studio (Filipe Pires)
cenografia e figurino
cenário: Rodrigo Frota
figurino: Diana Moreira
assistente de figurino: Mariane Lima
modelista: Dora Moreira
comunicação
assessoria: Comunika Press (Aleksandra Pinheiro)
projeto gráfico: Cartaxo Cria (Filipe Cartaxo)
edição de vídeos e câmera: Pacheco





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segunda-feira, 16 de maio de 2011

TEATRO EM PRETO E BRANCO - Bença, meu pai

A semana do 13 de Maio foi bastante movimentada para o Arte do Espectador. Incrementando mudanças no formato e nos posts, estamos reforçando uma atividade que já era ensaiada - se me permitem a brincadeira com o termo - aqui que é assistir a espetáculos, entrevistar pessoas da plateia, bater um papo com os profissionais envolvidos e depois comentar. Isso era feito separadamente e de forma irregular. Agora a proposta é fazer isso com mais frequência e de preferência tudo junto, sobre o mesmo espetáculo.

Para tanto, junta-se ao trabalho, na função de fotógrafo, cameraman, parceiro de direção e produção - sem deixar de manter a função de marido - o ator, diretor e agora fotógrafo certificado Alam Félix que chegou cheio de ideias.



Nesta primeira semana de corrida aos palcos do centro da cidade, assistimos - coincidentemente (ou não) a dois espetáculos cuja temática versa sobre o povo negro. Não por acaso, é a semana de 13 de maio, data que, querendo ou não, representa um marco para as discussões sobre o tema.


O VI E QUERO COMENTAR de Namíbia, não e o DEZ MINUTOS COM Flávio e Aldri vão ficar para amanhã, porque o tempo passa rápido aqui pelos trinta e tantos anos e também porque o post ficaria muito grande, coisa que eu não gosto, quem me lê sabe. Vamos à BENÇA, pois.




No sábado assistimos ao espétáculo de comemoração dos vinte anos de trabalho do BANDO DE TEATRO OLODUM, com direção de Márcio Meirelles e Co-direção de Chica Carelli. Apesar de ter assistido ao espetáculo de cima, o que eu não gosto muito, porque me sinto distante do evento, ali real, no quente, eu acredito que muitas imagens ficaram mais bonitas vistas de cima, como uma cena em que a saia de uma das atrizes se torna uma grande roda, ou mesmo as cenas realizadas sobre a imagem projetada no chão. Mas, confesso que senti falta de estar dentro do ritual, e espero voltar para assistir ao espetáculo na parte de baixo da plateia da Sala Principal do TEATRO VILA VELHA.

O grupo comemora seu aniversário oferecendo ao seu público um espetáculo esteticamente diferente do que tem oferecido ao longo de sua trajetória. Se quando falamos de Bando pensamos em um ritmo alucinante, em cores fortes e numa iluminação quente, o que temos em BENÇA é um espetáculo calmo, lento, e curiosamente branco. Branco no cenário, nos figurinos, nas luzes. Um azul anuncia o final do espetáculo, nada mais.

O impacto da atuação dos membros do Bando é sempre aquele, pungente e revigorante. A encenação mantém distância sempre propositada de qualquer traço de realismo, estando presente a pegada épica de sempre, mas desta vez, como confessa a própria Chica no bate-papo que se seguiu à apresentação, com menos cenas frontais que falam diretamente à plateia.

O audiovisual ocupa um papel importante no cenário e na narrativa do espetáculo, se é que podemos chamar assim. E ocupa de forma madura, consistente, bem elaborada. A palavra é um elemento quase físico, que para além do discurso que carrega, é imagem, é som, é elemento. Tanto que em muitas cenas, não podemos entender o que dizem (pois se sobrepõem), mas nem por isso a deixamos de sentir, enquanto palavra, enquanto sonoridade, enquanto fato, enquanto acontecimento.


Os velhos negros com seus sábios conselhos, depoimentos e reflexões, aliados à força de sua imagem, tempo de fala e empatia, parecem nos levar a um estado de meditação, de aquietação. Não por acaso, questões de ancestralidade, filiação, velhice, morte e benção andam rondando esta blogueira que vos fala. Bule-Bule me provoca quando constata: ninguém quer ficar velho, mas também ninguém quer morrer! Um toque em minha sensibilidade, medrosa que sou do avançar dos setembros.


É certo que em dado momento, sinto que a fórmula PROJEÇÃO-COREOGRAFIA-TEXTO começa a se repetir, quase que em ciclo - ora, mas não é disso que a peça fala? Não é isso que a vida é? O final, bom o final você vai ter que ir lá para ver, ou melhor, para viver.

Ao final do espetáculo, com João Vicente acordando (ele tem essa mania de dormir no teatro) e Hannah aos prantos (ela tem essa mania de se entregar de coração), saímos do teatro no tempo que é nosso. Uns com pressa, outros com dúvidas, mas cada um na sua. No seu tempo, no seu achado, na sua história. Não fossem as demandas da vida (deste blog, inclusive) eu talvez ficasse mais ali, Talvez estivesse lá até agora, esperando o tempo acabar. Pensando na frase que me disse minha mãe, três dias antes:

"A gente sempre dorme esperando o amanhã chegar. Mas quando a gente acorda, é sempre hoje de novo!" Iracy Viana

Bença, minha mãe.


ONDE LER MAIS SOBRE bença:




E não perca o bate-papo rapidinho com Chica Carelli na página DEZ MINUTOS COM.... É só clicar AQUI e assistir.


E lembre-se: seus comentários são sempre muito bem-vindos.


FICHA TÉCNICA:

Direção, concepção do roteiro cênico e de encenação - Márcio Meirelles
Fragmentos de textos - Bando de Teatro Olodum
Co - Direção teatral e Direção de Produção - Chica Carelli
Coreografia - Zebrinha
Direção Musical - Jarbas Bittencourt
Iluminação - Rivaldo Rio
Cenário - Márcio Meirelles
Elenco - Arlete Dias, Auristela Sá, Cássia Valle, Cell Dantas, Clésia Nogueira, Ednaldo Muniz, Elane Nascimento, Fábio Santana, Gerimias Mendes, Jamíle Alves, Jorge Washington, Leno Sacramento, Merry Batista, Rejane Maia, Rídson Reis, Robson Mauro, Sergio Laurentino, Telma Souza, Valdinéia Soriano.
Músicos - Maurício Lourenço e Daniel Vieira (Nine)
Realização - Bando de Teatro Olodum e Teatro Vila Velha







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