sábado, 21 de maio de 2011

NO RASTRO DA PÓLVORA

Ontem nossa equipe foi assistir ao Premiado Pólvora e Poesia, direção de Fernando Guerreiro para o também premiado texto de Alcides Nogueira, de quem eu já havia assistido VENTANIA com direção de Gabriel Vilela, há quase 15 anos atrás em Sampa. A ideia era fazer o DEZ MINUTOS COM... e o GOL DO ESPETÁCULO, mas infelizmente não foi possível.

O espaço onde o espetáculo acontece é realmente maravilhoso. Tudo bem que ontem a cidade estava um caos por causa da febre do momento PAULA FERNANDES e foi bem difícil chegar lá. Nada se mexia das imediações do Campo Grande até a Praça Castro Alves, onde acontecia um show de forró. Quem disse que nossa cidade é um paradeiro? Agora é preciso melhorar a estrutura da cidade, porque se não, corremos o risco de achar que um evento atrapalha o outro, ou cairmos na besteira de desejar que um ou outro evento não aconteça. Tem que acontecer este, aquele e aquele outro. Mais, muito mais eventos, festas e espetáculos. Em todo canto, a toda hora!

A proximidade com o cine Glauber Rocha, com o Pelourinho, com a vida prosaica da Carlos Gomes, da Av. Sete e da própria Barroquinha faz do ESPAÇO CULTURAL DA BARROQUINHA um lugar realmente plural, por onde a cada momento passa uma figurina diferente. Por dentro, a reforma fez dele um espaço multiuso e bastante agradável. Tem uma elegância própria e um zelo tanto na estrutura física, quanto na equipe que nos recebe. Fiquei muito feliz com o espaço. No Foyer, uma exposição nos recebia.

Sobre o espetáculo, muito já se falou, obviamente. Ora, estamos falando de um dos mais famosos, senão o mais famoso diretor de teatro da Bahia. Diretor que apesar de ser associado frequentemente à comédia, ao besteirol, investe também em outros gêneros, como foi o caso de Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues e Um Bonde Chamado Desejo, de Tenesse Williams, só para citar algumas. E, não posso deixar de confessar, que me peguei algumas vezes me perguntando se deveria ou não comentar este espetáculo. Ora, é Fernando Guerreiro!!! Mas, aí, eu me lembrei que este espaço é o que é para Reginaldos Carvalhos e Fernandos Guerreiros, porque, a bem da verdade, este espaço não é para eles, é para mim, para eu experimentar minha escrita sobre o tema da recepção (meu universo de estudo no doutorado) sobre criação teatral (universo do meu fazer) e também para meus leitores que querem, por diferentes motivos, ler e dialogar comigo sobre o que achamos de espetáculos e de temas diversos. Então, mesmo com o tamanho do nome do homem, resolvi escrever, com a mesma leveza de espectadora com a qual escrevi todos os posts até aqui.

A encenação tem aquela pegada profissional e inconfundível do diretor tão experiente. A atenção dedicada aos detalhes, do cenário, do figurino, da luz, das marcações dá um toque especial ao espetáculo. O trabalho dos atores é contundente. O olhar e o suor são parte fundamental de suas interpretações. O trabalho de preparação de ator de Hilda Nascimento é irretocável. As cenas de luta ou de amor (de tão intensas se confundem) tiram a gente do marasmo que o texto às vezes acaba por nos levar.

E por falar nisso, me desculpe pela sinceridade, me desculpe o Prêmio Shell/2011, o Braskem 2010, mas eu acho o texto mutio chato e acho até que ele atrapalha o espetáculo, se é que se pode separar uma coisa da outra. Acho os diálogos verborrágicos, confusos e repetitivos, em alguma medida. A força da cena, das movimentações, os sustos provocados, me convocam muito mais do que algumas frases que a mim soavam pretensioamente poéticas demais.

Para mim ficou a impressão de que a peça tratava mais de questões pertinentes a um casal que vive na eterna corda bamba de estar junto ou se separar do que necessariamente de questões homoafetivas, como se diz no momento. Acho as discussões muito parecidas com as discussões entre casais héteros. Não que eu quisesse ver ali a bandeira do movimento gay, não é isso. Talvez ,ao fim e ao cabo, as questões de amor e convivência, sejam enfim, as mesmas, para parcerias entre seres humanos, sejam eles héteros, homos, ou bis.

Outra coisa me incomodou um pouco foi uma certa antipatia presente no espetáculo que talvez seja natural dos personagens de que trata: poetas europeus do final do século XIX. Há uma glória e uma empáfia na figura de Paul Verlaine, interpretado por Caio Rodrigo que me incomodou muito. Um 'engasgar' constante aliado a uma fala empostada que me afastou definitivamente de sua figura. O Rimbaud demasiadamente confuso para a praticidade do nosso dia-a-dia, foi bem defendido pelo jovem  ator Talis Castro, apesar do tom aéreo, entre 'aparecer off line" e gargalhar no meio da fala, típico dos personagens psicologicamente desequilibrados. Por uma questão muito pessoal, essas dores dos poetas sofridos de outrora (sobretudo os europeus) me cansam um pouco. O que me impressionava mesmo era como os atores não se machucavam naquelas quedas perfeitas e barulhentas. Maravilhoso trabalho de Lucas Tanajura, na assessoria coreográfica. O fazer do espetáculo para mim, acabou ficando maior do que a temárica, ou mesmo do que a história que contava. E eu, honestamente, não sei se isso é bom ou ruim.

Nas apresentações de sexta-feira, acontece logo em seguida, um sarau de ideias, onde convidados especiais debatem temas polêmicos, relacionados ao espetáculo. Ontem o tema foi Pecado e Culpa, com representantes de difrerentes correntes religiosas. Lamentamos mais uma vez não termos conseguido bater nosso papo nem com a plateia nem com a equipe, mas está aqui registrada nossa visita ao Pólvora e Poesia. Agradeço à produtora executiva, minha querida loira Xanda Fontes pela tentativa e pela gentileza com que nos recebeu.

Ficha técnica:
texto: Alcides Nogueira
elenco: Talis Castro e Caio Rodrigo
direção geral: Fernando Guerreiro
assistente de direção e preparação de elenco: Hilda Nascimento
produção: Xanda Fontes
direção musical e guitar man: Juracy do Amor
trilha sonora para VT: Raiden Coelho
iluminação: Irma Vidal
operador de som e luz: Ed Pool
cenário: Rodrigo Frota
figurino: Hamilton Lima
costureira: Salvelina Pacheco da Silva
cabelo e maquiagem: Deo Carvalho
fotos: Maira Lins
vídeos: Apus Filmes e Tiago Gomes
ass de comunicação: Comunika Press [Aleksandra Pinheiro]
realização: Hiperativa Produção e Cultura

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