Gentes.
Se alguém aí ainda não foi assistir TUDO PODE DAR CERTO do maravilhoso Woody Allen, nem termine de ler o post. Corra agora para o Cinema da UFBA, caso estejamos perto das 17h20 e hoje seja segunda, terça, quarta ou quinta. Se não for, termine de ler o post e se organize para ir depois.
É que além de toda a maravilha que Allen sempre nos proporciona com suas obras artístsicas e filosóficas, este filme tem um toque especial. Nada que ele ainda não tivesse experimentado nos seus outros títulos, mas neste ele escancara de vez.
O personagem principal olha para nós e fala com a gente. É, com a gente que tá sentado ali nas cadeirinhas do cinema. Eu sei, eu sei que ele num tá inventando a pólvora, mas é que de um diretor tão nobre e já estabilizado a gente não espera - talvez sim - atitudes tão simples e tão deslavadas e sinceras e com uma pegada tão humana que eu sinto que eu mesma seria capaz de ter feito aquela cena, mas jamais faria porque ela é obvia demais.
E o filme segue assim. Toda a profundidade da existência num jogo de histórias e cenas simples. Atuações brilhantemente simples. Um enredo... simples. As piadas simples que quase não parecem piadas, mas que por isso mesmo se tornam a mais engraçadas.
Eu só pensava no blog. Tudo bem que ultimamente eu só penso nos blogs, mas ver o diretor conversar com o espectador para quem tem um blog chamado arte do espectador é de fato uma provocação...
Agora, um toque: você corre o risco de se identificar com as esquisitices de Allen, sem isso ser, necessariamente, a coisa mais agradável do mundo, o que não quer dizer que não seja você mesmo, ali, exposto numa tela de cinema. É duro ver o lado da gente que a gente esconde. Mas, não deixa de se uma experiência divertida e - quiçá - pedagógica.
Bom, e se você não for iniciado em Woody Allen, aproveite para fazer um pacotão. Vá à locadora e faça uma agenda de todos os seus filmes. Tem os mais recentes que são mais digeríveis, mas nem por isso menores. E tem os filmes mais loucos, louco mesmo, de rasgar pedra e jogar dinheiro, que são os mais antigos, simplesmente enlouquecedores.
Atente para as recorrências de sua poética: um barzinho, loiras com cara de nada (mas que no fundo levam a gente para lugares impensados), discursos ácidos (mas aparentemente leves), umas casinhas londrinas, um veneno danado para o american way of life, muita metalinguagem e um pessimismo que apesar de ser apregoado pelo próprio artista, acaba sendo contraproducente, porque ao nos depararmos com as concluções apocalípticas de Woody Allen, sempre saímos de seus filmes achando que vale a pena viver.
E vale a pena viver, desde que com um filme de Woody Allen de vez em quando.
No escurinho do cinema, sempre. Sempre no escurinho do cinema!
.
Adoro Woody Allen, desde da minha adolescência que curtia ver aqueles filmes esquisitos que eu não entendia nada. Acho que o primeiro que eu degustei e digeri depois foi o "Poderosa Afrodite" onde ele se apropria de mitos gregos para compor uma tragédia contemporânea. E como em "Melienda e Melinda" a tragédia e comédia estão separadas por uma linha tênue, não podia dar em outra, é a cara do woody Allen. Woody Allen construiu ao longo de sua carreira seu papel fixo: Ele mesmo, e, acho, que desde de "Assim como tudo na vida" ele vem tentando encontrar um substituto para desempenha-lo em seus filmes, aprecece-me que em "Tudo pode dar certo" até ele deve ter ficado surpreendido pois fazer um Woody Allen como o fez Larry David, nem mesmo o próprio Woody Allen o faria. Enfim, muito bom.
ResponderExcluir