ADRIANA (com voz queixosa, como de costume) - É muito complicado.
ELIAS (abrupta e agressivamente) - Não, menina, não é complicado. O que é complicado, me diga? Você quer fazer, o quê? Vai lá e faz. Você quer fazer par quem? Você quer fazer por quê? Mania de dizer que tudo é complicado. Pega a idéia e bota no palco, oras. O que for complicado vai aparecer lá e lá você resolve.
Foi com esse pito fenomenal que Elias Andreato me botou de volta no chão. E são essas palavras que eu sempre acesso novamente para tornar meus projetos uma realidade.
Era um curso de alguma coisa que eu nem me lembro direito, mas que me marcou profundamente, primeiro por eu ter conhecido aquela pessoa genial e humana, segundo por ter podido estar perto de seu talento, terceiro por ouvir suas histórias deliciosas, quarto pelas conversas na calçada do Anexo do Theatro XVIII, quinto porque ele me deu dicas fundamentais sobre o meu processo artístico, sexto, sétimo... enfim, o mote do curso talvez seja aqui um detalhe.
Eu quero fazer teatro. Eu preciso, eu mereço, eu devo, eu vou!!!
Porque não fui eu que escolhi esse troço. Porque por mais cafona que pareça, essa coisa me escolheu. Eu já tentei de um tudo pra me livrar dele.
Já fui tradutora, professora, garçonete, piriguete. Já fui vendedora de consórcio, revendodora avon, já fui recepcionista, caixa, atendente de academia, assistente de vendas e eventos, coordenadora pedagógica. Todas essas, porém, profissões do corpo e da mente.
Mas a alma...
Ah, essa é atriz.
É atriz, mas tão atriz que meus sonhos não são sonhados, são encenados.Minhas aulas são piores que aula de cursinho, uma performance.
Até meu casamento, não é um relacionamento é uma dramatrugia do acontecimento amoroso.
Eu sou feliz porque sou atriz.
E todos os meus outros saem de mim, com uma desenvoltura e uma autonomia que prendê-los, além de impossível, é inviável.
Seria um crime.
Há gente demais habitando em mim e essas vozes me ensurdecem.
É, sim, muito gostoso ser eu.
Muito curioso e desafiador fazer tudo aquilo que navega nessa cabeça doida de quem não pára de ver e refazer o mundo.
Dói toda a dor que dói, mas ela é elemento cênico e dramatúrgico.
Obrigada, Elias Andreato, por me descomplicar a existência.
Em cena, sempre. Sempre em cena.
esse negócio de ser artista vai mais além do que apenas encenar ou dar aulas, passa pela existência. eu tb me sinto muito feliz por ter optado por ser assim: artista! e por poder compartilhar dessa arte com todos ao meu redor. evoé!
ResponderExcluirMas, cuidado amigo. Concordo com sua colocação, mas às vezes me dou conta de que falo isso para justificar minha ausência do palco. O viver do artista é, sem dúvida, sua grande obra de arte. Mas não nos tirem, por isso, o direito de estarmos em cima do palco. Sem essa cachaça, eu sou menos eu. E lá em cima, nosso fala vira grito!!! Bjo grande.
ResponderExcluirDrica,
ResponderExcluirAo ler seu posto, me remeteu imediatamente essa poesia minha...
Criança
Pobre criança
Que sofre
Que dança
Que pede
Que sede
Que chora
Que cresce
Que vive, prudece
Feito flor ela cresce
E morre no fim
Não é flor de jasmin
Ela não rega sem mim
Que sou todo lustroso
Porém sou rugoso
Como todo adulbo
Fertilizo o fundo
Da alma infeliz
O simples menino
Nem sempre menino
Às vezes criança, adulto se lança
Nas flechas à frente
Sem dó nem repente
A causa carente
Habita o sepre
O vão do destino
O meu "Eu" artista é também assim... Criança, menino, carente, adulto... Estar em cena é necessário, mesmo que sempre morra no fim!
Que lindo, meu querido. Lindo e eloquente. Obrigada. Volte sempre. Volte toda hora.
ResponderExcluirLá em cima, da margem, somos poderosos.
ResponderExcluir