quarta-feira, 29 de setembro de 2010

OGUM - DEUS E HOMEM de Fernanda Júlia


Imagem é tudo. Ou pelo menos boa parte.

E é por esta porta que quero entrar no espetáculo Ogum, Deus e Homem da minha querida amiga Fernanda Júlia.

O espetáculo é um show de imagens. Os elementos visuais da cena, são de longe, a melhor parte do todo. O figurino de Thiago Romero (esse menino é fera) é uma coisa encantadora e provocadora. Quando a gente estuda FIGURINO existe uma polêmica sobre o trabalho de estilistas assinando figurino para peças, coreografias, shows. Essa discussão nunca me seduziu, porque eu acho que estilistas têm muito a contribuir para a cena (os desfiles de moda têm ocupado cada vez mais este lugar cênico, mas aí é outro post, né, gentes.)

Voltemos ao trabalho de Romero. Sua obra transita entre estes dois espaços, o de uma roupa pensada para o teatro com fortes influências do que se vê atualmente no mundo da moda e do espaço cênico, que cada vez mais se confunde e se faz presente se não no cotidiano, pelo menos no mundo da alta costura e no lançamento de tendências e o de roupa do dia-a-dia, sem ser, necessariamente uma roupa pegada da gaveta e colocada no palco. Falo de criação da roupa neste sentido e não de uso da roupa cotidiana na cena.

Cá pra nós,  super dava para fazer um desfile com aquele Stylist maravilhoso, desde as peças de roupa mesmo, até o look, cabelos, maquiagens, sapatos e tudo mais. Porque diferente do que estamos acostumados no caso de idealização de figurino, onde geralmente a informação está na forma, no desenho, vemos que no caso de Ogum, a escolha do tecido é fundamental (sobretudo quando pensamos nas estampas) e a roupa/figurino revela(m) um toque cotidiano que quase a aproximam de um prêt-à-porter soteropolitano, sem necessariamente afastá-la de sua função cênica, muito pelo contrário. Amei, Thiago, sua produção!!!
Os atores/personagens ficam lindíssimos em cena e isso é bom demais de ver. Eu quero tranças da Negra Jhô.

O cenário e adereços de meu querido Yoshi Aguiar também colaboram para a beleza do espetáculo. Limpo, reduzido ao necessário, sem perder em qualidade estética, carece apenas - e aí não é culpa de Yoshi nem de Fernanda - de um material que dialogue mais com a proposta da forma e aí seria muito caro. Dá uma dor no coração - pelo menos no meu - saber que aquela estrutura que fica na direita alta, bem como as passarelas móveis  poderiam ser de um material mais high-tech, como o tema pede, com mais luminosidade, enfim, que dialogasse com a tecnologia presente no contexto. Dá pra ver a madeira e ainda o papel colado nela. Então, como resultado, a gente vê, mais do que a falta de material, a persistência dos artistas em dar seu recado mesmo na adversidade.

Ainda em termos de elementos visuais, a luz de Luiz Guimarães e Marcos Fernandes também é belíssima. Além de realizar os cortes precisos na composição de imagens, ilumina o espetáculo, o que pode parecer meio óbvio, mas eu tenho visto cada vez mais espetáculos escuros e isso me incomoda muito (sou atriz, e gosto de ser vista em cena, é importante que se diga!). As cores, discretas, ganham vida no branco do palco. não vou negar que o contra verde de Oxossi fazendo sombra do elenco me lembrou a capa de O Teatro Pós-Dramático de Lehmann. Gostei muito.

O espetáculo é quase dança, porque as coreografias de Zebrinha mais do que ilustrar determinadas cenas, são o espetáculo em si. Por isso mesmo, acho que deveriam ser mais precisas em alguns momentos em que sugere precisão. Um pouco mais de vigor nas danças, sobretudo de Jussara Mathias (que está muito bem e é uma grande atriz), mas que às vezes parece que ela tá espantando mosca, meio Marisa Monte, enquanto Clara tem uma pegada mais afro, que eu tenho certeza que Jussara pode chegar. Acho que o vigor associado ao rigor técnico, sobretudo quando as coreografias são em conjunto e requerem unidade podem fortalecer a estrutura da peça.

Esse bolodório todo para chegar agora, na linha dramatúrgica, que eu considero um dos lugares mais frágeis do espetáculo. Às vezes em que temos uma linha dramática para acompanhar acho que a obra enfraquece, sobretudo quando os atores adotam um interpretação mais realista. Nada que atrapalhe, mas eu acho que contrasta com os demais momentos da peça.

Enfim, o espetáculo é muito bom e importante em nosso cenário. A trajetória de Fernanda Júlia é admirável, bem como dos demais membros da equipe, ai meu deus, eu esqueci de falar da trilha que é linda, linda mesmo, com o encontro do terreiro com a rave! Jarbas Bittencourt, meu querido amigo, que devia ser proibido de concorrer a prêmio especial no Braskem. O elenco tem gente nova e gente das antigas que a gente sempre vê em cena porque é gente guerreira que batalha pelo feijão mas que não larga a paixão.

Vida longa a OGUM, ao NATA (Por que Fernando não tá em cena? O outro?) e a todos nós que fazemos teatro, colocando naquele lugar mágico uma parte do que entendemos e desejamos para o mundo. O mundo que nós criamos em cena é uma bela versão do que vemos, vivemos e entendemos do mundo prosaico dessa existência estranha.

Bom, se gostou do comentário, vá ver o espetáculo. Se já viu, dê um pulinho no blog http://ogumdeusehomem.blogspot.com/ e se gostou do post comente aqui para eu melhorar minha escrita sobre o nosso querido teatro de Salvador.


OGUM - DEUS E HOMEM

FICHA TÉCNICA (Segundo o blog)

Dramaturgia
Fernanda Júlia e Fernando Santana
Direção
Fernanda Júlia
Orientação
Luiz Marfuz
Consultoria litúrgico-antropológica
Babá Margio Luis Régis de Souza
Cenografia e adereço
Yoshi Aguiar
Iluminação
Luiz Guimarães e Marcos Fernandes
Figurino e Maquiagem
Thiago Romero
Direção Musical
Jarbas Bittencourt
Coreografia
Zebrinha
ELENCO
VAL PERRÉ
JUSSARA MATHIAS
MARINHO GONÇALVES
FERNANDO SANTANA
JEFFERSON OLIVEIRA
LUIZ GUIMARAES
CLARA PAIXÃO
DEILTON JOSÉ
EQUIPE DE DIREÇÃO
Diretor assistente
Thiago Gomes
Estagiário de direção
Diego Pinheiro
EQUIPE DE CENOGRAFIA
Cenotécnicos
ADRIANO PASSOS
PAULO THUCO MAURÍCIO
ISRAEL LUZ
GEORGE SANTANA
TARCIO PINHEIRO
EQUIPE DE FIGURINO E MAQUIAGEM
Figurinista
THIAGO ROMERO
Figurinista Assistente
TINA MELO
Costureira
MARIA DAS DORES DE SANTANA
Cabelo
NEGRA JHÔ
BILOCA
EQUIPE DE PALCO
Operação de luz
Tarcila Passos e Marcos Fernandes
Operação de Som
Diego Pinheiro
Contra-regra
Tarcio Pinheiro
Camareira
Jaildes dos Santos
EQUIPE DE PREPARAÇÃO
Preparação corporal
Zebrinha
Preparação vocal
Marcelo Jardim
Instrumentista de processo
Jandiara Barreto
EQUIPE DE COMUNICAÇÃO
Assessoria de Imprensa
JOÃO SALDANHA E AGNES CARDOSO
Programação Visual
THIAGO ROMERO
Fotos
LABFOTO
RODRIGO FROTA
THIAGO GOMES
Midias Alternativas
THIAGO GOMES
LAÍS ALMEIDA
Conteúdo Audivisual e OGUM.DOC
THIAGO GOMES
EQUIPE DE PRODUÇÃO
Produção
KALIK PRODUÇÕES ARTÍSTICAS
Direção de Produção
SUSAN KALIK
Produção Executiva
GABRIELA ROCHA
FRANCISCO XAVIER
Estagiário de Produção
DIEGO VALLE

O ESPECTADOR DE WOODY ALLEN

Gentes.

Se alguém aí ainda não foi assistir TUDO PODE DAR CERTO do maravilhoso Woody Allen, nem termine de ler o post. Corra agora para o Cinema da UFBA, caso estejamos perto das 17h20 e hoje seja segunda, terça, quarta ou quinta. Se não for, termine de ler o post e se organize para ir depois.

É que além de toda a maravilha que Allen sempre nos proporciona com suas obras artístsicas e filosóficas, este filme tem um toque especial. Nada que ele ainda não tivesse experimentado nos seus outros títulos, mas neste ele escancara de vez.

O personagem principal olha para nós e fala com a gente. É, com a gente que tá sentado ali nas cadeirinhas do cinema. Eu sei, eu sei que ele num tá inventando a pólvora, mas é que de um diretor tão nobre e já estabilizado a gente não espera - talvez sim - atitudes tão simples e tão deslavadas e sinceras e com uma pegada tão humana que eu sinto que eu mesma seria capaz de ter feito aquela cena, mas jamais faria porque ela é obvia demais.

E o filme segue assim. Toda a profundidade da existência num jogo de histórias e cenas simples. Atuações brilhantemente simples. Um enredo... simples. As piadas simples que quase não parecem piadas, mas que por isso mesmo se tornam a mais engraçadas.

Eu só pensava no blog. Tudo bem que ultimamente eu só penso nos blogs, mas ver o diretor conversar com o espectador para quem tem um blog chamado arte do espectador é de fato uma provocação...

Agora, um toque: você corre o risco de se identificar com as esquisitices de Allen, sem isso ser, necessariamente, a coisa mais agradável do mundo, o que não quer dizer que não seja você mesmo, ali, exposto numa tela de cinema. É duro ver o lado da gente que a gente esconde. Mas, não deixa de se uma experiência divertida e - quiçá - pedagógica.

Bom, e se você não for iniciado em Woody Allen, aproveite para fazer  um pacotão. Vá à locadora e faça uma agenda de todos os seus filmes. Tem os mais recentes que são mais digeríveis, mas nem por isso menores. E tem os filmes mais loucos, louco mesmo, de rasgar pedra e jogar dinheiro, que são os mais antigos, simplesmente enlouquecedores.

Atente para as recorrências de sua poética: um barzinho, loiras com cara de nada (mas que no fundo levam a gente para lugares impensados), discursos ácidos (mas aparentemente leves), umas casinhas londrinas, um veneno danado para o american way of life, muita metalinguagem e um pessimismo que apesar de ser apregoado pelo próprio artista, acaba sendo contraproducente, porque ao nos depararmos com as concluções apocalípticas de Woody Allen, sempre saímos de seus filmes achando que vale a pena viver.

E vale a pena viver, desde que com um filme de Woody Allen de vez em quando.


No escurinho do cinema, sempre. Sempre no escurinho do cinema!



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sábado, 25 de setembro de 2010

Espectar ou expectar???

De tanto olhar a vida.
De tanto buscar leituras.
Cansaram-se-me as vistas.
'A vida das minhas retinas tão fatigadas.'

Sem pedras.
Sem caminhos.

Que cores vejo no vermelho?
Que notas ouço neste blue?

Não sei ler as letras deste meu poema.
Perdida no meio de um silêncio cru.

Romeu e Julieta me perturbam.
Me incomodam.
Me entristecem.

Só Prado me salva.

Leio 'tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita.'

Não tenho coragem de traduzir o que vejo.

Espero?

Expecto?

Espectros?

Adeus, meus poucos anos.

Não sei mais o que perguntar.

Assisto às voltas do ponteiro.
Durmo apenas para sonhar.



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terça-feira, 21 de setembro de 2010

O PROGRAMA

Gentes,

tem uma galerinha fazendo umas coisas bem bacanas por aí, quem tiver olhos que veja.

Vcs sabem que eu gosto da molecada, né, acho que tô virando tia.

Ana Antar, que de anta não tem absolutamente nada, tem feito um certo barulho com suas montagens e suas propostas provocadoras.


Ela está montando o espetáculo O PROGRAMA e tem convidado o seu futuro público a participar deste processo, quer seja doando jeans para sua criação plástica, quer sendo através de festas para angariar fundos para a produção, o que não é nenhuma novidade mas que não estava mais tão comum quanto na década de 90.


Então, fica a dica. Sabe que até eu que raramente saio do casa tô pensando em ir. Eu gosto muito dessa menina.

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O PROGRAMA a festa chega à sua segunda edição. Contando sempre com bandas e artistas do cenário baiano, trazendo mais uma opção para suas noites de quarta feira. Em parceria com o Tarrafa Botequim, esse projeto visa, além de arrecadar fundos para o espetáculo O Programa (que tem estréia prevista para a última semana de novembro), promover a interação entre a equipe de criação e público, que poderá deixar registrada a sua impressão através de filmagens/entrevistas que acontecerão durante as festas. (OLHA QUE BARATO!!! - comentário meu)
 

Então, fica aí a dica pra quem quer curtir uma boa festa, e ainda ajudar a promover o teatro baiano.


Sua quarta à noite já tem programação garantida Com:

Banda Indra, Paia de Milho e DJ Alessandro Carvalho

Onde?
No TARRAFA BOTEQUIM (Rio Vermelho)

Quando?
29/09/2010

Que horas?
A partir das 20h

Quanto?
R$ 7,00 ou doe um Jeans e pague R$5,00

Maiores informações com a produção:
Lorena Geambastiani  (71) 8832-4349
Gabriela Lima (71) 8794-6436


É isso aí, Ana. Como diria meu querido Gilberto Gil: Fé na Festa!!! 

Sempre em festa. Em festa, sempre!!!



 

domingo, 19 de setembro de 2010

PÓS DRAMÁTICA É A VIDA - por Helena Mello

Últimos desdobramentos da vinda de Lehmann ao Brasil, eu juro:




Helena Mello é Jornalista e mestra em Artes cênicas pela UFRGS, colega de Grupo de Trabalho da ABRACE - Associação brasileira de pesquisa em Artes Cênicas e autora do blog 

http://www.palcosdavida.blogspot.com/

"Quando anunciaram que Lehmann estaria em Porto Alegre parecia uma destas crônicas de Luis Borges ou mesmo algo ligado ao teatro do absurdo. Afinal, ele havia sido nossa fonte de estudos, um dos nomes mais importantes entre os pensadores do teatro contemporâneo. Mas, como o nome de Marta Isaacsson estava envolvido no evento, sabíamos que era para valer. Então, estávamos todos no Goethe onde a coordenadora do pós-graduação em artes cênicas da UFRGS falou da importância de criar este espaço de diálogo. Agradeceu a seus colaboradores, entre eles Mirna Spritzer e nossa colega Laura Backes, dizendo que contava com pessoas solidárias e competentes

Lehmann começa sua fala dizendo que o conceito do que é teatro mudou completamente, que não pode mais ser visto separado da música, da instalação, que há uma grande diversidade de linguagens que vai além do drama tradicional. Existe um teatro de imagens, das vozes de coro e monológico. Existe o teatro multidisciplinar. Segundo ele, todas estas formas de teatro não tem mais atrás de si o modelo dramático e se apresentarmos a arte do vídeo e da dança e o uso de novas mídias, se acrescentarmos os computadores, apresentações como um jogo, para atividades da arqueologia, por exemplo, performances e as formas híbridas, se a gente juntar tudo isso, fica bem claro o seguinte: surgiram estruturas no teatro e continuam surgindo que são arranjadas de formas diferentes do drama e do sistema narrativo. Formas mistas de teatro e filme abertura do teatro para a festa ou documentação, de materiais documentários ou situações íntimas em quartos de atores, muitos elementos se aproximam da forma art-perfomance.

Lehmann conta que, recentemente, houve em Berlim uma encenação na rua na frente de um  teatro em que as  pessoas que passavam por ali eram transformadas em atores, ler textos dentro do teatro. Este processo na rua foi filmado por uma câmera de vídeo. O público assistiu a negociação inclusive do honorário modesto. Estas pessoas leram textos no palco. Esta prática, segundo ele, rompe com a narrativa dramática, óbvio do teatro. Ele diz que a sociedade tem cada vez mais necessidade de ir ao encontro um do outro e que o teatro dramático continua existindo e determinando grande espaços teatrais.

No entanto, se o teatro dramático predomina não pode ser o critério decisivo. O grande poeta Goethe dirigia um teatro. Mas só uma vez por ano eram peças dele próprio. Em geral, peças melodramáticas que o povo gostava. O efeito sobre as artes de Goethe seria pelos seus textos e não por estas peças. Lehmann pergunta se conhecemos uma zombaria que é feita na Alemanha sobre a pergunta: Qual é o teatro mais bem sucedido do século XX? Cuja resposta seria: O teatro do século XIX.

Ele diz que, no nível literário a chamada crise do drama era conhecida há muito tempo. Fala de um livro de Peter Szondi chamado Teoria do drama moderno. Para Lehmann,  no nível da prática teatral, esta transformação não foi analisada corretamente. Explica que em Peterson tem um conceito chamado drama puro, é o conceito ideal, um instrumento heurístico. 

Fala que na tragédia classicista de Racini, o drama se realizou quase inteiramente. 

Bem, tudo que for aparecendo daqui para frente  serão falas de Lehmann e como estou recém na primeira página de nove acho melhor deixar o texto correr daqui para frente como um registro, sem interferir.

Drama puro –designa seu fim interior, ele não questiona que sempre houve monólogo coro, linguagem épica do drama. Neste diálogo são tomadas as decisões das pessoas no âmbito de uma colisão dramática.

Com esta pequena lembrança da essência do dramático também podemos dizer que alguns aspectos que podem ser mencionados para a problematização do drama como forma. Na realidade sociopolítica as decisões são resultado de tensões – coerções econômicas. Mesmo os políticos muito poderosos decidem muito menos do que eles querem convencer a si mesmos e aos outros. Dizer que Obarak Obama está ficando com os cabelos grisalhos. Mesmo bem intencionado, como presidente ele só pode mudar poucas coisas na política americana.
São menos decisões de protagonistas individuais. Não surgem da interação dialógica, o drama se depara com dificuldades de dramas socialmente relevantes.  Nestes momentos o chão lhes é tirado debaixo dos pés.
A estrutura do drama não é mais plausível em termos de conteúdo atualmente. Um ator como Heiner Muller constatou que se tornava impossível escrever um drama. Este é um caso muito interessante neste contexto. Ele começou com dramas socialistas realísticos. Ele se afastou disso para uma estrutura pós dramática de seus textos.

E também a vida privada íntima e individual é menos experimentada por nós segundo o modelo de uma personagem dramática, ele não segue mais ordens dramáticas.
A vida é cada vez mais o contingente fragmentário e não estilo dramático, mas em episódios, fases, trechos, sessões. Precisamos mais de mudança ou troca, somos colados em função.

Está cada vez mais claro que uma pessoa troque as fases da vida de forma muito mais intensiva. Muitas pessoas que estão na universidade ainda podem viver com uma identidade, com uma profissão que nos forma como pessoa, mas isso é um privilégio raro e uma exceção. Hoje temos ideia de um sujeito conectado em rede.
Lidamos com redes sociais em vários níveis. Uma forma de vida dramática não é mais concebível.
Outro aspecto que torna o drama problemático. Vive do conflito, da colisão dramática. Em geral, o drama tem um conflito com o objeto. De interesses ou a rivalidade em torno do amor e da influência.
Isso pode servir dos conflitos clássicos até a modernidade. Será que estas configurações predominam entre os artistas onde não existem conflitos reais? Esta suspeita não pode ser descartada.

O pós-dramático deve estar ligado a não poder conceber a vida baseada em conflitos. Conflitos graves e crescentes mas a natureza destes conflitos se transformou de tal forma, que não aceita mais uma forma de colisão dramática. Não temos mais condições de identificar o agente social. Não existe o inimigo concreto.
Surge uma reflexão: A partir das observações do desenvolvimento da sociedade podemos deduzir a crise do drama. O desenvolvimento da filosofia – das últimas décadas – desconstruiu as ideias. Deleuze – o nível mais influente das últimas décadas – intitulado império – se baseia no pensamento de Deleuze e não mais em outros modelos de análise clássica.

Eu creio que podemos descrever a situação – encontrar respostas significa inventar formas adequadas. Não é fácil. Existe em nós um desejo do drama. Nós adoramos o drama. A minha suposição é que este amor se mostra muito mais no cinema e na televisão, menos no teatro. As receitas para fazer filmes bem sucedidos se encontram na antiga tradição das leis do drama.

Há algum tempo descobri um livro chamado “Aristóteles em Hollywoord” e conclui que as regras da poética são úteis para um filme com ressonância com o público. Não faz uma reflexão artística profunda. A arte é uma prática essencialmente crítica – e entretenimento que todos queremos ter até certo ponto. Eu não desprezo o entretenimento. Apenas digo que, como teórico não me interessa. É uma questão que diz respeito mais aos sociólogos

Bem a primeira vista a ideia de um teatro pós o drama poderia parecer estranho, mas devo dizer que isso a partir dos filólogos, mas os espectadores vem de outras áreas. Estes observadores vem no teatro o significado simbólico dos textos. O teatro dramático tem uma tradição europeia. Temos que lembrar constantemente o seguinte: existem outras culturas teatrais que jamais desenvolveram outros modelos. Na Ásia, no entanto, sempre existiram estas formas não dramáticas. Outras formas que não mostram uma narrativa. No drama o que importa é que alguma coisa aconteça. No teatro controversy – o que importa é que alguém chega.
Na verdade, o  ciclo da vida do teatro dramático é curto. O teatro da antiguidade está muito distante do drama que conhecemos desde o renascimento. Não é um exagero ilustrativo dizer que o teatro da antiguidade é pré-dramático. A rigor a tragédia da antiguidade é pré-dramática e apresenta muitas analogias com o teatro pós-moderno. É só desde o Renascimento se transformou algo diferente de uma cultura de festas. O espetáculo dos olhos e da música,  tudo isso era antes muito mais importante.O teatro dramático literário existe até o século XIX quando é questionado pela vanguarda. O teatro sempre foi muito mais amplo.
No segundo nível eu chamei estas formas de pós-dramático para um conflito entre a ideia do drama e do teatro. 

O drama tem uma tendência de “cloture” como se diz em francês. O teatro implica em uma abertura. Exagerando, o teatro dramático é uma contradição em si mesmo. Evidenciou esta contradição de muitas formas. Estão mais implícitos e assim aparecem nos livros.
O pós-dramático é um conceito que contem toda uma diversidade de linguagens teatrais que aparece como um guarda-chuva para abrigar todas estas formas de teatro.
Em junho do ano que vem haverá uma conferência no RJ do pós-humano e do pós-dramático. Será uma continuação desta discussão.

O conceito do pós-dramatico abrange formas teatrais muito distintas que se estende de um teatro ainda quase dramático e até onde o drama não aparece mais como texto literário. Sobre a pergunta: o que acontece com o ator do teatro pós-dramático? Eu sempre posso dizer: isso depende.
Não existe o teatro pós-dramático no singular. Existe o teatro com elementos pós-dramaticos e diz claramente que existe uma multiplicidade diferenciada de formas. Em Shakespeare é diferente de em Ibsen. É uma tentação muito grande utilizar conceitos genéricos como se eles definissem as coisas e a s colocassem em uma caixinha fechada.

Os artistas não precisam ficar tristes. Existe uma tradição da modernidade. Porque a mesma coisa não é a mesma coisa sobre condições teóricas diferentes. As fantasias vanguardistas assumem outras formas sobre a cultura midiática. Temos que nos perguntar o que o teatro pode fazer que as mídias não podem fazer. Isto explica muitos desdobramentos do teatro pós-dramático.

Isto é uma lei antiga da arte – surge uma nova, precisa se perguntar pela sua essência. Um bom exemplo é a fotografia. A pintura precisou se perguntar o que ela é, que a fotografia não é. Quando o teatro se pergunta o que uma encenação fílmica pós-dramática pode fazer surgir as novas criatividades e formas

(Aqui Lehmann pula uma parte do texto, dizendo que com a tradução parece que o tempo fica menor). 

O teatro pode implicar o espectador de uma forma diferente, isso nenhum filme pode fazer. Pode enfatizar a presença de atores e espectadores de forma particular, envolver habilidades artísticas, co-presença. Convidar o espectador para uma contemplação de um cosmo fícticio separado dele.

O teatro é entendido agora como situação que acentua os desafios , questiona a contemplação passiva. Na medida em que o teatro espelha a si mesmo, transforma a assistência em um problema ético. Da tv eu recebo informações não estou envolvido na produção. Minha responsabilidade não existe. No teatro, é diferente. Guy Debord mostra que a sociedade tem tendência a mostrar a sociedade como espectador. O cidadão como recebedor passivo de processos que lhe são ensinados. O teatro muda esta mera recepção passiva. Consiste em romper com esta concepção e isso pode acontecer de formas muito diferentes.

Há uma concentração toda especial por parte deste espectador. Um teatro do ato de fala. Todo o acento do teatro é colocado nos atores que falam no palco. Elemento decisivo do teatro e não a história. Existem alguns diretores que hoje colocam a concentração totalmente na palavra falada. Tem que prestar atenção que este teatro não significa um retorno ao teatro do texto, o que muita gente pensa em um primeiro momento, mas é um teatro que se volta para a perfomance onde a fala da pessoa é um acontecimento todo especial.
Pode utilizar elemento lúdico, do jogo, em todo caso, o fio que liga o ator e o público se torna mais forte que o eixo intracênico.

Long time performance –mescla claramente isso. Não faz muito sentido perguntar se isso ainda é teatro ou é performance. – O teatro assume características de performance e a performance se teatraliza.
Nas artes visuais acontece há mais tempo esta  discussão do conceito teatralidade. Arte e o caráter do objeto. Mark Fried  chamou isso de teatralidade, a relação com o espectador. Nós podemos usar para discutir as transformações do teatro. Que coloca em primeiro plano esta relação com o espectador.

O objetivo da arte é achar o caminho para se  habitar um universo.

Eu sou de opinião que não existe só prazer e alegria  na arte. Assim como o teatro não deve ser uma festa, mas uma festa que tem uma memória e que se lembra das pessoas que não podem participar da festa. Do contrário, ele não é nada. Eu fiz referencia a Aristóteles  pois esquecemos que nosso pensamento ainda está impregnado por ele. Para Aristóteles a encenação do teatro, é o elemento mais inferior de teatro. A famosa catarse para ele não está associada ao teatro como creem muitas pessoas que falam que este conceito da catarse do teatro provém de Aristóteles.  Para este já começa da leitura da tragédia.

Para Aristóteles, o teatro era para as pessoas mais burras que não conseguem pensar por conta própria. Esta predominância do lógico define a nossa compreensão do teatro hoje. Temos que nos voltar contra isso de forma deliberada.
O teatro é uma coisa bonita, em linhas europeias. Mas tem uma coisa que perturba no teatro que é o teatro.  
Platão falava na Teatrocracia. Criticava os seres humanos por se entregar ao teatro ao invés de pensar rigorosamente com a lógica. É assombroso o quanto isso se aproxima dos dias de hoje. Existem muitos críticos que dizem a mesma coisa. Não acontece mais pensamento e assim por diante. Isso é um esquema do nosso pensamento que esta profundamente arraigado.

Baudelaire, quando a fotografia surgiu, ele disse que seria  o fim da arte. Esta reação de medo, da superficialidade do teatro, isso sempre existiu e continua existindo hoje em dia. Para finalizar, gostaria de abordar dois conceitos. Um deles é de uma autora belga o teatro atual se define a partir de uma dramaturgia do espectador. A pergunta é: qual é a posição do espectador? Onde ele precisa estar para ter novas experiências?

Para Aristóteles, a arte sempre precisa ter uma forma de ordem – A Definição do belo em artistóteles fala de uma totalidade, unidade, coerência, do contrário não é belo. Por isso, ele diz que esta totalidade precisa para que eu possa entender bem deve ser de fácil apreensão, com um único olhar, do contrário eu fico confuso e a confusão não pode ser bela

Em uma ideia clássica da obra de arte, a arte precisa ser como o organismo animal. Havia uma comparação com a totalidade orgânica. Só a modernidade rompeu com isso.

O belo deve ser como um animal, mas o animal deve ter o tamanho certo. Não pode ser pequeno demais, nem grande demais. Um animal de dois quilômetros Jurassic park porque eu não consigo vê-lo de uma vez, não posso aprendê-lo de uma única vez. Já esqueci o começo quando chegar ao fim. O belo é organizado como a compreensão lógica. Aristóteles diz algo que eu sempre gosto de incluir nas minhas aulas, os alunos pensam que é besta. Totalidade é uma coisa que tem início, meio e fim. Assim deve ser o teatro drama. Naturalmente, este tipo de coisa nem existe. Esta ideia de Aristóteles é uma tese muito perspicaz, a produção de uma moldura dentro da qual eu incluo e tiro coisas. Acho que não preciso explicar que a arte moderna invalidou esta ideia de começo, meio e fim.

Godard cineasta da Nouvelle Vague fazia filmes nos quais os espectadores tinham grandes problemas de perceber o nexo. Foi atacado por um crítico que disse que o filme precisava ter inicio, meio e fim. Este conceito era forte. Ele respondeu: você tem razão, mas não necessariamente nesta sequência. A psicologia da percepção nos ensina.  


Temos uma predileção pelo drama. O tique-taque de um relógio, por exemplo. Todos nós sabemos de qualquer desenho animado que ouvimos como tique taque e os psicólogos da percepção afirmam que sempre estruturamos nossa percepção. Construimos automaticamente um pequeno drama. É preciso se perguntar porque a ideia de Aristóteles teve tanto poder. Ricoeur afirmava que era um modelo que tinha a ver com a teologia do tempo. Criação – desenvolvimento – apocalipse. – O argumento estético e teológico se alimentaram mutuamente. De fato é interessante que o nosso aparelho perceptório construa esta ordem do tique pausa – taque, criando essa pequena apocalipse no final
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Este belo exemplo nos mostra que os nossos aparelhos de imaginação encontram esta estrutura de Aristóteles em toda parte. O grupo Bloody mess tem uma montagem que fala de um palhaço que tenta contar a história do mundo mas que sempre é interrompido. 

Nosso aparelho de percepção consegue conviver com muita anarquia, labirintos, montagem, colagem sem que basicamente nossa pulsão para o drama desapareça. Este sempre encontra uma possibilidade de satisfazer o instinto da dramatização porque quer manter esta forma dramática na qual não acreditamos mais.
A ideia de que tudo é essencial. Implicações associadas ao drama. Que já abandonamos há mito tempo. O teatro dramático parece um resquício que sobreviveu a passagem do tempo. 

Não precisamos recorrer a este recurso do drama. Deixemos por conta da tv e para o nosso teatro que nós entendemos como espaço de reflexão crítica da sociedade podemos abrir mão e problematiza-la. Sempre estivemos além do drama. Este parece ser o caminho. 




quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O ESPECTADOR É PÓS-TUDO

Gentes, realmente o babado do pós é o espectador. Super 'In', falar de espectador.

Vamos por partes, como diria Jack.

Nos dias 14 e 15, como vocês viram no post abaixo, Hans Thies Lehmann esteve conosco no PPGAC. Foi uma palestra e uma tarde de bate-papos. Como extra, ele esteve no lançamento do livro da queridíssima Antônia Pereira, coordenadora do programa, lá no Tom do Saber.

Das muitas coisas interessantes que ele disse - e realmente foram muitas - duas delas me acharam especial atenção e me esclareceram boa parte do que eu não entendia nas discussões sobre o teatro pós-dramático. Tudo bem que eu não li o livro (que eu já comprei e ele autografou, claro) mas eu ouvia as discussões e ficava meio sem entender porque este homem é tão apedrejado. então, voltando ás coisas... ele disse que os elementos do teatro pós-dramáticos estão na cena e não no texto. Que falar sobre pós-dramático é falar, sobretudo, de encenação. Eu adorei isso.

Outra coisa foi ele ter citado um livro que eu vou pesquisar, que se chama Dramaturgia do Espectador. Eu dei um pulo na cadeira, porque na minha dissertação eu falo de uma possível dramaturgia da leitura, que seria essa dramaturgia pós-cena, que se configura no espectador. A autora é MarianneVan Kerkhoven. Parece que não tem em português.

Claro que eu fiz uma pergunta sobre o futebol e as respostas dele foram bastante provocadoras. Tanto as coisas que ele acha sobre o tema, quanto algumas lacunas que eu percebi que há quando ele respondeu. Logo, a certeza de que eu ainda tenho muito o que pesquisar e o que organizar enquanto pensamento, pois para mim ficou muito claro que a forma como eu entendo a relação do torcedor com o futebol ainda precisa ser descrita com clareza e embasamento.

Bom, foi um momento muito enriquecedor do nosso programa.

Aproveito para parabenizar Antônia Pereira pelo belíssimo livro Alteridade, Memória e Narrativa. Olha eu e minha metade com nossa querida professora e amiga.


É isso, Dr. espectador.
Você é o centro das atenções na pós-modernidade.


Sempre na platéia. Na platéia, sempre.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

TEATRO PÓS DRAMÁTICO



Gentes, olha eu e o Hans-Thies Lehman, o homem do pós-dramático.

Não vai dar para fazer o post que eu queria, mas vai a foto, que já diz um bocado. Hoje foi a palestra e amanhã tem debate. Vai ser muito bom, eu imagino, porque a palestra já foi bem legal. 

domingo, 12 de setembro de 2010

INFERNO ASTRAL

Ai, que esse 16 de setembro se aproxima.
Ai, que os meus é que sabem a soma do inferno astral com a TPM, no que é que dá.
Ai, que 36 noves fora é nada, e justo agora, que quero tanta coisa.

Quinta-feira é dia estranho. Acho que tem cara de dia de vampiro.

Mas 16 é um número lindo. Gosto da sonoridade, da imagem, da melancolia.

Tantas dúvidas acumuladas entre 16 e 36.

Vem quarenta, vem quarenta,
Pode vir que nós aguenta.

Eita rima besta, meu Deus.

Vou ali, olhar para a cara dos meus 35 que se despedem com certa alegria. Bons anos, senhor, bons anos. só o medo é que enche o saco.

sábado, 11 de setembro de 2010

HÁ DEZ ANOS... aniversário de Grupos da Cooperativa

Em Novembro haverá uma grande comemoração (mentira, não vai ser tão grande assim) dos 10 anos de três grupos da Cooperativa Baiana de Teatro.

O rebanho de atores (dessa blogueira que vos escreve e seu delicioso marido, que tem como marco o espetáculo Os Ovos de Militão - tem duas fotos porque o blog é meu, ora essa).

 








A Cia Rapsódia (famosa pelo inesquecivel Deus Danado)




O Palhaços para Sempre (grupo que trabalha principalmente com a arte do palhaço e que está com seu repertório de espetáculos em cartaz no SESC Pelourinho).


 
Será uma festa linda, que ainda está sendo produzida. Vai ser na sede da Cooperativa, lá no Pelô. Av das Laranjeiras, 46 (em frente ao bar Vital que tem uma maniçoba criminosa de tão boa!!!)

Só vai a fina flor do teatro baiano. (Porque a sede é pequenininha...)

E aí, Você vai???

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AUDIENCE - Pedro Barateiro




É pra sentar ou só apreciar???

19ª BIENAL DE ARTES DE SÃO PAULO  - 2010
A partir de Setembro no Parque Ibirapuera.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Ladeira da Fonte por Rino Carvalho

Acompanhe a produção literária de Rino Carvalho que será publicada aqui no melhor estilo novela de revista. A primeira novela de blog (pelo menos que eu saiba).

Acesse a página e acompanhe a história periodicamente.

INTRODUTÓRIO:

então:
esse é um entrecho do livro
"a ladeira da fonte"
que comecei a inscrever
e parei no meio da ladeira...
a minha vaidade
soou mais alto,
quando vc disse:
escreva algo no meu blog:
me senti exibidamente
importante,
me senti timidamente vivo...
como quem está ali,
fazendo reverberar o eco,
num imenso estádio,
num intenso estágio!
essa é a minha forma
de amar a bahia
porque foi aqui
que o meu dente da frente
se quebrou em diagonal!


Minha cabeça explode em dor, enquanto a cheia lua, clara lua, grande lua, linda lua, num claro céu de março, enfeita o vazio absoluto.
A ladeira começa numa igreja. E termina numa delegacia. É tudo que posso dizer.
E no meio dela , a morta fonte, ainda com peixes, mas morta fonte...
E mais acima, um pouco, pelo mesmo lado da morta fonte, o vermelho portão da casa trinta.

E é dali que eu começo essa história: (VÁ PARA A PÁGINA, CLICANDO LOGO ALI EM CIMA. ACHOU?)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

EU QUERO MAIS É SER MUITO FELIZ - Para Elias Andreato




ADRIANA (com voz queixosa, como de costume) - É muito complicado.


ELIAS (abrupta e agressivamente) - Não, menina, não é complicado. O que é complicado, me diga? Você quer fazer, o quê? Vai lá e faz. Você quer fazer par quem? Você quer fazer por quê? Mania de dizer que tudo é complicado. Pega a idéia e bota no palco, oras. O que for complicado vai aparecer lá e lá você resolve.




Foi com esse pito fenomenal que Elias Andreato me botou de volta no chão. E são essas palavras que eu sempre acesso novamente para tornar meus projetos uma realidade.

Era um curso de alguma coisa que eu nem me lembro direito, mas que me marcou profundamente, primeiro por eu ter conhecido aquela pessoa genial e  humana, segundo por ter podido estar perto de seu talento, terceiro por ouvir suas histórias deliciosas, quarto pelas conversas na calçada do Anexo do Theatro XVIII, quinto porque ele me deu dicas fundamentais sobre o meu processo artístico, sexto, sétimo... enfim, o mote do curso talvez seja aqui um detalhe.

Eu quero fazer teatro. Eu preciso, eu mereço, eu devo, eu vou!!!

Porque não fui eu que escolhi esse troço. Porque por mais cafona que pareça, essa coisa me escolheu. Eu já tentei de um tudo pra me livrar dele.
Já fui tradutora, professora, garçonete, piriguete. Já fui vendedora de consórcio, revendodora avon, já fui recepcionista, caixa, atendente de academia, assistente de vendas e eventos, coordenadora pedagógica. Todas essas, porém, profissões do corpo e da mente.


Mas a alma...
Ah, essa é atriz.
É atriz, mas tão atriz que meus sonhos não são sonhados, são encenados.
Minhas aulas são piores que aula de cursinho, uma performance.
Até meu casamento, não é um relacionamento é uma dramatrugia do acontecimento amoroso.


Eu sou feliz porque sou atriz.
E todos os meus outros saem de mim, com uma desenvoltura e uma autonomia que prendê-los, além de impossível, é inviável.
Seria um crime.

Há gente demais habitando em mim e essas vozes me ensurdecem.

Não, não é muito complicado.
É, sim, muito gostoso ser eu.
Muito curioso e desafiador fazer tudo aquilo que navega nessa cabeça doida de quem não pára de ver e refazer o mundo.
Dói toda a dor que dói, mas ela é elemento cênico e dramatúrgico.

Obrigada, Elias Andreato, por me descomplicar a existência.
Em cena, sempre. Sempre em cena.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

I Colóquio sobre História do Teatro no Piemonte Norte do Itapicuru - O Centenário de José Carvalho (1910-2010)

Hoje é aniversário do queridíssimo Reginaldo Carvalho, professor, ator, diretor, pesquisador, virginiano, como eu, e batalhador (muito mais do que eu) pelo teatro e pelo desenvolvimento de ações das mais diversas no interior da Bahia. Seu mais novo feito é a realização do Colóquio citado aqui, a acontecer neste final de semana com uma programação deliciosa e provocadora. A seguir descrição do evento, como está sendo divulgado na mídia.

Um grande abraço aos participantes deste lindo evento, que sem dúvida é parte da História do Teatro Brasileiro.



A História do Teatro no semi-árido da Bahia é o tema principal do I Colóquio sobre História do Teatro no Piemonte Norte do Itapicuru, que será realizado entre os dias 04 e 07 de setembro no município do Senhor do Bonfim, distante 376 km da capital.

O evento debaterá as práticas teatrais na região, durante todo o século XX, envolvendo os nove municípios que compõem o Território de Identidade 25 (Senhor do Bonfim, Jaguarari, Andorinha, Filadélfia, Ponto Novo, Caldeirão Grande, Pindobaçu, Antônio Gonçalves e Campo Formoso). Além disso, o evento homenageará o Centenário (1910-2010) do diretor e dramaturgo bonfinense José Carvalho, um dos precursores do teatro na região.

Na abertura do Colóquio o grupo de teatro Aroeira Cênica (Senhor do Bonfim) irá apresentar a remontagem do espetáculo Condenado Inocente, uma das peças do homenageado, montada nos anos 50 e 60. Outros grupos teatrais também farão parte da programação no decorrer do evento, é o exemplo da premiada companhia Finos Trapos (Vitória da Conquista/Salvador). Além de mesas redondas sobre a história do teatro, haverá homenagem a antigos artistas de teatro, lançamento de cordel, exposições, alvorada e outras atividades no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e no Centro Educacional Sagrado Coração. “As atuais pesquisas sobre teatro no Brasil e no mundo mostram a grande necessidade do registro da história dessa arte milenar em diferentes contextos culturais. Posteriormente iremos lançar um livro com o registro de todo o encontro”, destacou Reginaldo Carvalho, um dos coordenadores do evento.

A realização do Colóquio conta com o patrocínio de Microprojetos, do Programa Mais Cultura (Ministério da Cultura - MinC). Além da parceria da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Banco do Nordeste (BNB), Secretaria de Cultura da Bahia (Secult) e apoiadores locais. A organização ficou por conta da ganhadora do edital Microprojetos, Alexandrina Carvalho, do Grupo Teatral CANOART, além da coordenação dos professores Reginaldo Carvalho e Ângela Reis. Os organizadores buscaram a parceria do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, através do Grupo de Pesquisa Tradição e Contemporaneidade no Teatro Brasileiro e do Curso de História da Faculdade Cenecista de Senhor do Bonfim

 
CENTENÁRIO: José de Souza Carvalho, ou Zé da Almerinda, como era chamado por muitos devido ao nome da sua mãe, nasceu em Senhor do Bonfim-BA em 1910 e faleceu na mesma cidade em 1974. Entre os dados biográficos de José Carvalho destacam-se: a temporada de seis meses no Circo Merediva; a localização da sua residência próxima a um terreno onde companhias circenses se instalavam; e a função de estafeta na Viação Férrea Leste Brasileiro - aonde chegavam muitas companhias circenses - como fatores preponderantes para a constituição da sua identidade artística. Essas experiências pessoais e estéticas culminaram com a criação de um Quintal-Teatro, lugar em que as peças deste artista eram ensaiadas e apresentadas antes da sua transferência para os auditórios do Instituto de Assistência à Infância, Salão Paroquial, e Ginásio Sagrado Coração, Marista. O resultado foi a criação de um teatro popular fruído por moradores de Senhor do Bonfim e de outras cidades do Piemonte Norte do Itapicuru, onde as suas peças foram apresentadas. José Carvalho tem sido considerando entre os pesquisadores brasileiros do circo-teatro como um importante representante da teatralidade circense no semi-árido da Bahia em meados do século XX. Entre outras peças, escreveu e montou: Suplício materno, Filho do mar, Família maldita e Condenado inocente.


SERVIÇO:

O quê: I Colóquio sobre História do Teatro no Piemonte Norte do Itapicuru
Quando: 04 a 07 de Setembro (manhã, tarde e noite)
Onde: (Senhor do Bonfim, Jaguarari, Andorinha, Filadélfia, Ponto Novo, Caldeirão Grande, Pindobaçu, Antônio Gonçalves e Campo Formoso)
Contatos: (71) 8753-8636
reginocarvalho@hotmail.com
(74) 9121-3671
xanda_xanbinho@hotmail.com





http://mais.cultura.gov.br/2010/08/23/i-coloquio-sobre-historia-do-teatro-no-piemonte-norte-do-itapicuru/