Se Paulo Freire estivesse vivo ou a educação seria diferente, ou ele enlouqueceria e sairia doido correndo.
O que se tem praticado nas escolas de ensino básico hoje em dia, muitas vezes em seu nome, pobre Paulo Freire, é impressionante.
Vamos começar pelas atrocidades do currículo mínimo.
Quem vai ter coragem de admitir, por exemplo, que o ensino de Inglês no Ensino Básico é uma firula total? Não se aprende nada de útil nas aulas de inglês, nada. Verbo to be, presente, passado e futuro e olhe lá. O que se lê, se conversa ou se ouve com essa titica de informação? Para que serve esse inglês mínimo se ele não te ajuda a ler nada, nem a travar a mais infame conversa. Pra que, então, aprender o mínimo do mínimo da gramática inglesa se jamais se usará aquela regra fora de um contexto de "responda às questões abaixo". Eu não aguento mais gastar fortunas com livros bonitinhos que vêm com cd'zinho e que toda unidade, toda unidade eu explico a mesma coisa pra Hannah. Ela já comprovou sua inteligência e capacidade cognitiva em outras experiências educacionais. Se ela não aprende aquilo por mais que aquela lição se repita (e como ela se repete) é pelo simples fato de que aquilo não faz o menor sentido na vida dela e que portanto, sabiamente, sua memória apaga.
As tarefas de Português, redação e gramática do Fundamental I viraram verdadeiras teses de doutorado. Os termos usados são simplesmente surreais em se tratando de eudcação de crianças. E o argumento é sempre o mesmo e torpe argumento da preparação para o vestibular. Que ódio!
João tem tomado ódio mortal da escola. Quando ele não está na escola, ele está fazendo tarefa. A escola em que ele estuda, considerada uma das grandes escolas da cidade, passa uma maratona diária de tarefas que é assustadora. João não tem mais tempo de brincar, de ver TV, de ler o que realmente gosta, como quadrinhos e revistas e nem de ficar apenas existindo.
E como ele sofre com as tarefas. Também não é pra menos. Textos de mais de duas páginas, retirados de revistas como a Veja (SOCORRO!!!!) com temas clichês como sustentabilidade (será que a escola tem lixo seletivo?) Saúde (a cantina não oferece lanche natural) e tolerância (a escola está preparada para os estudantes gays, ateus e outros diferentes?) Uma moralidade tosca e torpe que me envergonha e me irrita.
Há tempos que estou pelas tampas com a pedagogia atual.
A maioria das pedagogas (como tem mulher nesse meio, gente) tem um discurso moralista de quem sabe tudo, de quem já estudou tudo e de que as teorias cognitivas dão conta da vida. Não dá mais pra conversar com coordenadoras pedagógicas sem sentir vontade de dar-lhes na cara. Elas dão aquele riso cínico dos que julgam saber tudo e lhe metem na cara uma frase onde citam pelo menos três teóricos da educação, meia dúzia de teorias e ainda com o sorrizinho cáustico, terminam com o célebre: "não é, mãe?"
Que vontade de matar!
O que me mobilizou a escrever foi uma tarefa de João que tem a pergunta cavernosa: "Na conclusão do texto, foi feita uma citação (...) Em sua opinião, essa citação fortalece a argumentação do texto?"
Gente, eu tô exagerando ou FORTALECER A ARGUMENTAÇÃO não é coisa pra criança normal de 9 anos?
E tem mais, João tem que fazer resenha dos textos lidos, como estratégia para ele gostar de ler. HAHAHA. Qualquer estudante de graduação sabe que depois de uma RESENHA ninguém mais vai gostar de ler. Gente. Resenha na 3ª série é demais, eu tenho certeza.
Fora as atrocidades conceituais contidas nestes textos que ele tem que ler todo santo dia. Esse, sobre o dia do livro:
"Não existe melhor veículo cultural do que o livro. O grau de civilização de um povo pode ser medido pela quantidade e qualidade dos livros que lê. O livro é o meio insubstituível da difusão da cultura, transmissão do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica".
Ok, quer falar bem do livro, ótimo, eu concordo.
Agora jogar fora toda a tradição oral, todas as demais formas de cultura, como a música, as danças, os filmes, as festas, é um pouco demais, não?
E todas as pessoas da família do meu filho que não foram alfabetizados? Não sabem de nada da vida? Não têm cultura? Como um texto pode trazer preconceitos como este?
E ainda pedem uma resenha sobre esse texto. Há, se a gente dissesse o que relamente achou do texto, João não entrava mais na escola. Sim, a gente, porque as tarefas são um convite à mãe ou à tia da banca ajudarem na resposta. É evidente!
E as professoras preferem as respostas certas feitas a quatro mãos (quando não só pelo adulto) do que as respostas irregulares, incompletas talvez do conceito que se queira, mas plenas da capacidade da criança de se expressar. A carinha que João faz diante das perguntas cavernosas é de dar dó! É como se ele soubesse que o que ele quer dizer nãov ai servir e aí ele fica procurando qual a resposta que ele deve dar. Que tristeza.
Sobre essa tristeza da criança diante da escola, Adélia Prado comentou lindamente, num texto que transcrevi num post no FUTEBOL DE ARTISTA. Para conhecer o post clique aqui.
E ainda tem outra coisa. Perguntas disfarçadas de democráticas, como por exemplo: "Na sua opinião...", "o que você entendeu por..." "o que você acha de...." e depois, na correção, corrigem o que a criança escreveu. Oxente. Se tá perguntando o que a criança acha, qualquer resposta estará certa. Eu já briguei na escola de Hannah, há alguns anos atrás porque isso aconteceu numa prova. Eu fiz a professora dar o ponto, porque a pergunta era: "o que você acha". Qualquer coisa que se responda vai estar certa, é o que a pessoa acha.
Enfim. Desabafo porque estou irritada com a escola de João que apesar de falar de teorias de desenvolvimento numa perspectiva humanista, não passa de uma prisão de conceitos, preconceitos, metodologias e estratégias que nada mais fazem do que coibir o prazer, a brincadeira, a diferença no aprendizado.
Por exemplo, anteontem, eu estava narrando um acidente que houve aqui na rua para Alam, por telefone e no final da conversa João, que ouvia a história me mostrou uma sequência em quadrinhos sobre o que eu tinha narrado. Ele não sabia do acidente até então. Impressionante a capacidade de expressão dele. Cada quadrinho era uma parte da história. Lindo. Aí, ele quis levar para mostrar pra professora. Eu já sabia o que o esperava, mas deixei. Aprende-se de tudo na prática! Quando ele chegou eu perguntei como tinha sido. Ele disse, não para minha surpresa: "Ah, ela não quis ver, não, disse que já tinha visto na TV".
É disso que eu estou falando. Mil textos por dia e nenhuma capacidade de valorizar o que ele fez por conta própria, por prazer, através de outra linguagem, de outra fonte de expressão e conhecimento que não apenas o livro. Eu vou acabar tomando raiva da hegemonia do livro.
Não é à toa que a escola é o lugar mais detestado por crianças, adolescentes e jovens.
Eu não acredito mais em educação formal e espero, com minha indignação, que eu possa me juntar aos que também estão tentando outro tipo de educação, que eu sei que não são poucos, são apenas evitados.
Fica o desabafo, o registro e a indignação.
Adriana, eu me diverti demais com o texto: "Qualquer estudante de graduação sabe que depois de uma RESENHA ninguém mais vai gostar de ler. Gente. Resenha na 3ª série é demais, eu tenho certeza". hahahaahahahahhahahahahahahahahah LOLLLLLLLL
ResponderExcluirNão tô certa, amigo? hehehehhe!
ExcluirAdriana,
ResponderExcluirGostei do seu texto e não sei se coincidência ou coisa de destino estou estudando Jesus Matin Barbero em Comunicação e Historia, onde ele faz uma narração histórica para comprovar que a escola e o livro perderam a hegemonia e que os jovens não gostam da escola por ela ainda querer separar o corpo da mente como o sujeito cartesiano enquanto esse novo sujeito moderno, criado com os novos saberes “saberes mosaicos”, provocados principalmente pelas novas tecnologias, a internet e sua hipertextualidade, onde o aluno lê e vê de tudo, que o faz conhecedor de algum saber, mas que a escola nega, colocando como legítimo apenas o conhecimento científico.
Segundo Barbero, “enquanto o sujeito do aprendizado emerge desse entorno fortemente corporal e emocional, a escola exige que ele deixe de fora o corpo de sua sensibilidade porque atrapalha; e suas emoções desestabilizam a autoridade dos professores”.
Entendo que esse tipo de escola está fazendo com que esses meninos e meninas sejam competidores no futuro e que saibam desde já que para conseguir algo, precisam ser competentes e para isso precisam de rigor e disciplina, para ganhar dos outros competidores na capacidade de produzir. Não já vimos isso outras vezes?
Essa escola quer formar cientistas mirins, não poetas, escritores, atores, antropólogos e sociólogos. Sim as ciências sociais não são vistas nesta escola como ciências.
Agora me perdoe à intromissão, sigo seus blogs, mas acho que nunca comentei nenhum post, mas é minha curiosidade na qualidade de leitora do que acabei de ler: Porque mesmo com pena das atrocidades que essa escola está fazendo com seu filho de 9 anos você não o tira de lá? Essas atrocidades de certa forma não podem prejudica-lo futuramente como pessoa? Essas atrocidades não podem transformar crianças em adultos frustrados por não terem vivido a infância que é a fase mais importante da vida?
aguardo
Valdíria, querida. Obrigada pelo primeiro comentário tão bacana. Que venham outros. Adorei as suas considerações. Sobre sua pergunta, eu juro que já pensei nisso, mas estamos vivendo um momento muito específico, acabamos de nos mudar para Conquista, Alam ainda está em Salvador, eu passo metade da semana trabalhando em Jequié e meus filhos ficam com a avó. Ainda nem temos casa aqui. Aí, eu fico pensando como seria pra cabeça dele mudar de escola de novo. Ele estudou dois anos no Dois de Julho aí em Salvador e sentem muita saudade. Esse é um dos pontos. Outro ponto é que eu não sei em que outra escola colocá-lo, porque acho que não há escolas alternativas aqui em Conquista, eu não conheço. E acho que de algum modo o nosso estilo de vida, os amigos que nos cercam a forma como tratamos todos os temas com os nossos filhos, sempre na basa da verdade, sobre sexo, drogas, amor, profissão, arte, isso os forma mais do que a escola os deforma. As experiências artísticas deles (João e Hannah) com música, teatro (no rebanho) e com as criações artísticas como os quadrinhos que João produz desde pequenininho dão uma compensada. Enfim, querida. Pra mim já é quase certo que o tirarei de lá no ano que vem. Acho que fazer isso agora, com tantos senãos seria puxado pra ele. O que você acha?
ExcluirPor Cibele Nunes:
ResponderExcluirNápis, os nossos filhos têm um problema: nós! Nós que sobrevivemos a uma educação cruel, burguesa e capitalista (hahaha) e que vimos uma outra possibilidade de aprender com mais criatividade e prazer. Mas como nem tudo está perdido, eles também têm a nós para entender e transpor juntos essa Educação formal (lembra que não tivemos isso em casa e conseguimos?). Para juntos, a gente aprender a regra e depois brincar com ela
Bela, Eu penso nisso e é isso que me faz continuar normal (hahahah, essa foi boa!!!!). Aos demais leitores: Nápis é como Cibele me chama carinhosamente há milênios. hehehe.
ExcluirPor Naia Pratta:
ResponderExcluirDrica, fico perplexa com essa situação persistir, pq estudei em escola publica e vivi grande parte dessas situações. Está cada vez mais dificil fugir dessa massificação da escola, as que conseguem olhar para a criança generosamente com verdade são muito caras e poucas. Por isso faço um esforço enorme pra manter meu filho numa dessas escolas. Por que acredito que se ele tiver essa possibilidade de se desenvolver num ambiente como esse ele poderá contribuir com o nosso discurso de mundo e melhorá-lo(assim eu espero). Fico revoltada como vc de saber o quanto as escolas estão terriveis e me pergunto: o meu filho está num lugar onde ele é escutado, mas quantos existem que são ignorados? Como contribuir pra que tudo melhore?
Naia, eu te digo que não é necessariamente uma questão de grana. A escola de João é uma das mais caras e tradicionais daqui. É esse mo meu desespero. Eu juro que acho que talvez fosse melhor ir para uma escola mais barata, mas talvez mais humana. Eu fico besta com tanta arrogância e falta de preparo de profissionais da educação com níveis báixíssimos de humanidade, se é que se mede isso em níveis!
ExcluirPor Ludmila Santos:
ResponderExcluirDrica, o que me deixa maluca é que estudei na mesma escola que joão, no ensino medio! e me da uma tristeza tamanha em ver que é uma instituição que esta regredindo!! Eu adorava a escola e pra mim, foi de fundamental importancia estar la. juro a você que as atividas extracurriculares eram as melhores e os professores, na sua maioria eram otimos. Outros tipos de saberes eram explorados e aproveitados, me lembro que nas aulas de ingles, agente trabalhava com música, tinhamos festival de cinema, museu vivo. fico imaginando o que leva uma escola, que estava quase falindo, a se tornar esse lugar de aprisionamento da mente! Meu sonho era q yasmin estudasse la, mas repenso com muta tristeza no coração!
Ludi, tenho uma boa notícia pra vc: O 2 de Julho continua muito legal. Estamos em Conqusita, em outra escola. Apesar de pequenos embates com o 2 de Julho, com certeza lá eles eram mais livres.
ExcluirPor Naia Pratta:
ResponderExcluirPra completar o que penso, é o seguinte: concordo que não é uma questão de grana. E piora quando vc investe uma grana na educação dos filhos acreditando que as instituições particulares vão dar conta do que o governo não da, ou seja estamos com poucas saídas. O que falo dessa minha escolha é por que encontrei uma escola que é muito humana, ouve e faz dos interesses das crianças motivação para o aprendizado. Mas infelizmente é cara e o acesso é para poucos. Reafirmo sempre essa escolha por que não sei se consigo deixar Diogo numa escola que não o escute. Apesar de ter "resolvido" o problema do meu filho, fico indignada em saber que muitas crianças não tem acesso ao que é de direito delas.
Por Maria de Souza:
ResponderExcluirUma vez li de Hermann Hesse que o homem não nasceu para nadar, como não nasceu para pensar e que , nos dois casos, ele pode morrer afogado. Pensar exige mais do que reprodução de idéias. Casos (como os que vc alude) em que a citação substitui a real articulação entre pensamento e prática é um dos males do academicismo pedagógico que deve ter a franqueza de não achar que sabe tudo, que compreende todos os contextos e situações.
Temas como a violência nas escolas aparece sempre um problema que entrou muro adentro e que ela foi tomada como num motim. Não a vejo como principal geradora de conflitos, mas vemos que muitas vezes se tenta calar as crises com sopa de letrinhas.
De modo amplo acho que todo mundo deve ousar um pouco mais (como vc, Dri!) desconfiar do estabelecido, relatar transformações no planejamento e propor abordagens por caminhos que sejam mediados pela presença humana e não pelo autor citado, ausente daquela especificidade de situação.
Imagino um professor expondo em seu relatório anual: este ano não cumpri o programa à risca do exigido pela instituição: quando meus alunos me perguntaram qual a cor das caravelas investigamos, fizemos um campeonato de ilustrações, pintura e vimos vários filmes que tratavam da época...o tema das grandes navegações nos permitiu falar das orientações estelares e tivemos aulas noturnas em que aproveitamos para cantar ao luar...não sei se o conteúdo foi tratado a contento, mas se um dia eles voltarem a falar do assunto, certamente o farão com risos e o coração livre da idéia da obrigatoriedade de aprender.
Maria, meu amor. Obrigada pelas lindas, esclarecedoras e inspiradoras palavras. O problema é que cansa tanto estar no embate. Eu ja falei umas coisas para a coordenadora, sobre o que penso, já mandei recado para a professora, justo sobre o FORTALECE A ARGUMENTAÇÃO, vou ter uma entravista com a psicóloga na segunda-feira, mas é uma luta a mais, né, diante de tantas que a gente tem que travar diariamente. Mas, é como vc diz, tem que ser.
ExcluirDri, já lecionei no Fundamental I e gostava muito da experiência de incentivar os pequenos à criação. Pena que a liberdade de expressão, o pensar "diferente", seja encarada como ameaça na maioria das escolas... Ontem li um trecho do Nachmanovitch que fala sobre uma criança que desenhava árvores expressivas aos 4 anos, mas aos 6, iniciando sua vida escolar, passou a desenhar "árvores pirulitos" como os demais coleguinhas. Volta e meia percebo o quanto a escola tende a instrumentalizar os estudantes de forma técnica, mecanizada. Uma pena! Mas sou otimista, suas irritações e conversas com professoras/coordenadores aos poucos vai mudar o quadro... As formigas são maioria no mundo!
ResponderExcluirAnother brick in the wall - Pink Floyd
http://www.youtube.com/watch?v=YR5ApYxkU-U
Flaviana
Pois é Flavi, eu fico besta é que os pais querem da escola este comportamento, na maioria das vezes. No 2 de Julho, até a 4ª série, não há provas, mas avaliações processuais, dia-após-dia. Eu juro que numa reunião muitos pais reclamaram dizendo que os filhos não estavam sendo preparados para fazer avaliações sérias no futuro, nem para competir com os outros. Meninos de 7 anos!!!! Faz o que? Obrigada pela visita e pelo vídeo.
ExcluirAdriana adorei seu texto você diz que é um desabafo seu, mas eu acho que é um desabafo de todos os pais desse país ou quase todos, mas digo que me traumatizei com o Inglês por causa do tal verbo me questionava o porque aprender a verbo de uma outra língua se malmente sabia dominar a minha, mas enfim vivemos num país que as estatísticas educacionais tem que está sempre a frente mesmo não conseguindo.
ResponderExcluirHá tantos meios pra mudar a estatísticas educacionais no Brasil, meios simples e eficazes tal como todos os professores serem tão legais quanto aquele professor super doidão e engraçado que faziam com que os aprendizado se torna-se bem mais simples que a tabela periódica.
No Brasil tem que mudar coleiras e também os cachorros...
Abraços, JOMIR GOMES
Pois é, Jomir, tem uma coisa também aí, muitos de nós - e eu juro que me incluo nisso, e chego a perder noites (exagero) pensando no assunto - acham que estão fazendo tudo certo e pronto. A maioria que faz o que a gente está debatendo aqui é capaz de entrar na sala, cometer tiranias e não se dar conta de que está fazendo isso. Quem foi ou é estudante em minhas turmas pode entrar e dizer se de repente, eu mesma não comenti deslizes, contradições entre o que digo e o que faço. Vc vai em congressos de educação e blargh, só o que tem é gente falando sobre isso. Quero ver é na prática. Quero ver é ter - mais do que humanidade - coragem para fazer diferente. Obrigada pela visista. Cada comentário me emlouquece mais - se isso é possível!
ResponderExcluirQueridíssima,
ResponderExcluirQuantas sensações arrepiantes me chegaram ao ler este desabafo-contundente-bem-vindo que você escreveu, a partir do acompanhamento lúcido e crítico da formação dos seus dois filhos.
Então, a primeira coisa que quero pronunciar é como eu estou com água na boca de ser mãe e ser mãe assim com este grau de acompanhamento da construção do saber dos filhos, como você mostrou ser neste texto. Ando doidinha para vivenciar a experiência materna e, quando me vejo tomada por este desejo, me localizo em relação à escola, portando uma voz como esta que você faz ecoar.
Menina, uma das coisas na formação dos adolescentes e dos jovens que mais me impressiona é a canalização de tudo e de todos para o tal vestibular. Fico assustada, por exemplo, com @s professor@s de redação que criam esquemas para compor um texto, sempre buscando estreitar o imaginário e a expressão de quem o escreve. O valor defendido pel@ profess@r jamais é o elo dos meninos e das meninas com a palavra, jamais se busca brincar de imaginar como seria caminhar, tendo a palavra como parceira da expressão de si e de contato com o outro e com o mundo. Tudo fica numa reprodução de conteúdos registrados nas revistas detestáveis, como é o caso da Veja, por exemplo.
Ai, e pense como tenho paciência quase zero para o povo da Pedagogia... Concordo totalmente com você, neste sentido: "A maioria das pedagogas (como tem mulher nesse meio, gente) tem um discurso moralista de quem sabe tudo, de quem já estudou tudo e de que as teorias cognitivas dão conta da vida. Não dá mais pra conversar com coordenadoras pedagógicas sem sentir vontade de dar-lhes na cara. Elas dão aquele riso cínico dos que julgam saber tudo e lhe metem na cara uma frase onde citam pelo menos três teóricos da educação, meia dúzia de teorias e ainda com o sorrizinho cáustico, terminam com o célebre: "não é, mãe?".
Ai, Sarinha, ter filhos é, para mim, a grande experiência desta vida. Porque é viver de novo, porque é viver diferente, porque é sair de si e se continuar. Se joga, amiga, se joga que o precipício é bom demais. E a gente tem que deixar gente barulhenta e transgressora para quando a gente estiver velhinha e eles, nossos filhotes, agora adultos estiverem dando barraco nas clínicas que estiverem tratando a gente com menos carinho e cuidado do que a gente merece!
ExcluirAqui pelas bandas francesas também tem se vivido um indagar permanente do modelo de educação que é desenvolvido, pois, de um modo geral, os estudantes não são motivados a mostrarem seus erros e limites, visto que a disciplina francesa é extremamente rígida e penaliza demais os que não se vinculam às regras.
ResponderExcluirEu não saberia falar muito bem como as coisas se desenvolvem no Ensino Fundamental e Médio, pois meu contato com este universo é quase nulo, mas gosto de saber que aqui homens também são educadores de crianças bem pequenas, função que no Brasil é somente das mulheres. Não sei se isso alimenta ou não, não sei o que alimenta o quê, mas é bem verdade que a quantidade de homens empurrando carrinhos de bebê aqui é muito maior do que encontramos no Brasil.
Já no mundo acadêmico, creio que estamos muito, muito à frente no que se refere ao desenvolvimento de uma prática mais aberta e desapegada do princípio conteudista. As aulas na graduação que eu acompanhei aqui me impressionaram muito no quesito impessoalidade. Acredito ser impossível um professor aprender o nome de um aluno sequer que faça parte da sua turma a cada semestre. Além disso, as provas são extremamente cartesianas e é possível um estudante fazer várias provas seguidas e no mesmo dia.
Escutei um jovem francês falar do seu cansaço após horas e horas de exame e disse para ele que no Brasil, na universidade, possivelmente a turma externaria a insatisfação quanto ao modo de avaliação, pelo menos foi assim comigo quando ensinei em algumas instituições (claro que, neste caso, também há o cadinho das faculdades particulares, onde a relação professor x aluno é algo altamente problematizável), mas não podemos deixar de considerar o percurso emancipatório que alguns processos formativos têm desenvolvido nas universidades, embora ainda tenhamos muito ainda a caminhar.
Após minha consideração sobre os universitários brasileiros, o estudante francês me disse: "nós, franceses, adoramos brigar, mas brigar nas ruas, e não dentro das instituições, não, dentro de casa, dentro da sala de aula, dentro dos escritórios etc". Fiquei a pensar sobre isto e ainda continuo.
Para fechar este meu comentário quase post, rs... tenho um vizinho que é professor aposentado. Ele me disse que, quando prestou concurso para ensinar na universidade, perguntaram como ele via o erro do estudante, ele desenvolveu sua resposta, na perspectiva bem Paulo Freire (por isso, adoraria encontrar um livro dele em francês para presenteá-lo) e, em seguida, devolveu para a banca: "e como vocês percebem o erro do professor"?
Segundo ele, a resposta foi o silêncio.
Beijos, meu anjo, e seguimos nas trocas
Menina, tô bege com essa história da graduação aí. Eu aqui ja vejo tantas distorções. Acho dar nota, pro exemplo, o fim. Queria que fosse como no mestrado, que vc coloca (em algumas atividades) se a pessoa cumpriu ou não. Já dá pra andar entre pessoas sem lhes reduzir a números, né? Pelo menos na Universidade. Mas, seu comentário/post (kkkk, adorei) é bom para nos mostrar, pra mim mesma, inclusive, que temos boas experiências no Brasil e tamo aí. Paulo Freire que o diga. Ouvi dizer que Maffesolli não é bem cotado por essas bandas daí, né, e ele bota uma fé doida na América Latina e sobretudo no Brasil, como cultura capaz de viver integralmente a pós-modernidade, por não esta atrelada a um passado pesado e difícil libertação. Eu concordo tanto com ele quando leio. Mas sair na ruas é tão diferente! Enfim, sempre é né. Bjos, lindona!
ResponderExcluirOlá! Vim conhecer seu blog, muito bacana.
ResponderExcluirDifícil essa questão da educação, né. Tem tanta ideia equivocada, mas ao mesmo tempo parece ser difícil encontrar soluções práticas, uma via alternativa que funcione em grande escala.
Apesar das agruras da educação formal, eu sou uma apaixonada pelo ambiente acadêmico. Não necessariamente pela aulas tradicionais (no meu curso havia muito professor vigarista...rs), mas pelo ambiente extra-classe, que me parece tão encantador e cheio de possibilidades.
Mais ou menos sobre o assunto, tem um post no meu blog, não sei se chegou a ver:
http://cartasaojorge.blogspot.com.br/2012/05/picareta-ele-vigarista-eu-sobre-arte-da.html
Enfim, parabéns pelo blog e pelos temas abordados. Inté.
A quem interessar possa: João está em uma nova escola, uma escola menor, mais acolhedora e está muito feliz. às vezes a gente tem mesmo que tomar decisões radicais. Alam falou muitas vezes em tirá-lo de lá, eu achava apressado, mas a decisão mostrou-se a melhor e de fato, não me arrependo de jeito nenhum. Nesta escola a professora é muito acolhedora e - pasmem - a diretora só aprovou a recepção de João, com o aval da professora da sala, que para a escola é a maior autoridade. Enfim. Nada como tomar uma atitude.
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