Este título é inspirado em COISAS PELAS QUAIS VALE A PENA VIVER, programa do Canal Brasil, que absurdamente ainda é um canal fechado, onde Domingos de Oliveira e Priscila Rozembaun entrevistam pessoas interessantes que fazem um trabalho que justifica o nome do programa.
Ontem, ao descer para o camarim do Gamboa Nova depois do espetáculo SEBASTIÃO do Território Sírius, escrito, dirigido e interpretado por Fábio Vidal, foi o que consegui dizer para ele: “Que bom estar viva para assistir a este espetáculo!”
O trabalho de Fábio Vidal já havia me contagiado antes. Seu Bonfim é para mim um dos grandes espetáculos que eu já assisti em toda minha vida de espectadora. E Fábio repete a receita. Se no primeiro espetáculo ele une um texto primoroso, baseado na obra A TERCEIRA MARGEM DO RIO de Guimarães Rosa, a um trabalho corporal impressionante, a uma direção de cena que envolve e seduz o espectador, somando a isso ainda doses precisas de drama e comédia, em SEBASTIÃO ele faz isso tudo e ainda acrescenta a cerejinha do bolo: ele brinca com sua própria trajetória, trazendo referências sutis de seus outros trabalhos, um presente para quem acompanha sua carreira.
Vidal tem um processo criativo muito instigantes. Não deve ser coincidência que os títulos de seus espetáculos sempre remetam à pessoa da qual falam:
Seu Bonfim |
Erê, o eterno retorno |
Velôsidade Máxima |
Sebastião |
Hoje, ele está mais maduro, obviamente, pois já se vão quase dez anos desde S. Bonfim e se o velho aleijado ficava parado no centro do palco, o jovem cearense Sebastião não pára quieto, não se cala e, sobretudo, não está sozinho no palco. Com um trabalho primoroso de corpo, com alguns elementos muito precisos da mímica, Vidal bota em cena mais de uma dúzia de personagens, que dialogam, convivem, discutem, brincam, batem, apanham. É simplesmente impressionante quando, ao fim do espetáculo, você lembra que é só um ator em cena. Porque muitas das cenas são repletas de personagens e, repito, a gente vê todos e cada um deles, isolados em sua existência pessoal, e integrados naquela coletividade a quem Fábio, ou Sebastião, nos ensina a gostar.
Vidal é muito feliz porque cria um personagem extremamente carismático. Há uma simpatia imediata pela pessoa de Sebastião, por sua humanidade, graça e vulnerabilidade e a comunidade de Maracangaia vai sendo nos apresentada como um coletivo pelo qual nos afeiçoamos muito rapidamente. Numa comparação rápida, seria como nos relacionamos com os moradores da cidade de Macondo, de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques. A diferença, BÁSICA, é que no universo da literatura, nós leitores que construímos visualmente os personagens, e no palco, é Vidal e apenas Fábio que dá vida (talvez por isso Vidal) a tantos personagens, e tudo ali, na nossa frente, num tempo tão curto e tão dilatado.
Eu tenho aquela mania de comentar, falar bem, elogiar e depois partir para o MAS... apontando um ou outro detalhe, digamos, negativo (palavrinha pedagogicamente proibida).
Sem chances. Não há ‘mases’ em Sebastião. A entrega de Fábio Vidal ao seu ofício é algo como sagrado. Não é á toa que parte de sua formação inclua o Teatro Essencial de Denise Stoklos, onde a vida e a obra do ator têm uma relação muito íntima. Sua presença cênica, seu corpo vigoroso, seus grandes olhos acessos, roubam-nos de toda a vida prosaica e nos conduzem a um jogo onde a cena é realidade, onde a cena é a experiência valorosa.
Por este espetáculo Fábio ganhou o BRASKEM de melhor ator de 2010 e concorreu a melhor texto dramático. O espetáculo faz parte do projeto COOPERATIVA EM CENA, onde os grupos cooperados ocupam diferentes teatros da cidade, apresentando suas peças de repertório ou suas estréias.
Num espetáculo que fala de ganhar ou perder, de valores, só posso dizer que o prazer de ver o trabalho de Fábio Vidal em cena e uma grande vitória, é uma experiência transformadora, reveladora e de muito, muito valor. VALOR REAL E NÃO VALOR EM REAL!
Agora, vocês vão se deliciar com um super bate-papo com o ator, autor e diretor Fábio Vidal, na página DEZ MINUTOS COM.... Dessa vez sem problemas tecnológicos, veja que bom.
Assista também aos comentários do público no GOL DO ESPETÁCULO. Mas, só uma dica, se você se importa com revelações do enredo do espetáculo, é melhor não ver as entrevistas antes de assistir, porque tem uma espectadora que entrega umas coisinhas que talvez você prefira não saber antes. Mas, depois que você assistir – porque Fábio tem que voltar! – aí você assiste. Agora, se você é pós-dramático e não liga para essas revelações tipo fim de novela, então, pode assistir à vontade. Só não diga que eu não avisei.
Acesse aqui o blog do PROCESSO CRIATIVO DE SEBASTIÃO que tem curiosidades curiosíssimas.
E aqui o site do TEATRO GAMBOA NOVA este teatro lindo de viver, com o melhor camarim do mundo, com uma vista que faz a gente até entrar atrasado no palco.
Obrigada por nos visitarem! Os comentários são sempre bem-vindos!
Autor, encenador e ator: Fábio Vidal
Orientação e colaboração dramatúrgica: Gil Vicente Tavares
Assistente de Direção e operação de som: Gabriela Sanddyego
Assistente de Direção (1ª etapa): Caio Rodrigo
Assistente de Cenografia: Renata Mota
Figurino: Silvia Costa
Iluminação: Fernanda Paquelet
Assistente de iluminação: Tuca Gomes
Direção Musical: Emerson Cabral
Produção de Trilha Sonora: Cassius Cardozo
Locuções: Evelin Buchegger
Foto: Alessandra Nohvais
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Muito bom Dri!
ResponderExcluirIncrível como você consegue despertar o "desejo de assistir"... É porque fala com a propriedade de quem viu, conheceu e validou.
Gata!!!!! eu venho aqui sempre..tô viciadinho nos seus escritos...me informo e ainda mato saudade dessa família delícia...agora veja, nunca tinha comentado. Aproveitei o post pra dizer q eu amo Fabinho, tenho um respeito e admiração imensos e que quando eu crescer eu quero ser um ator com metade do talento daquele safado (isso não é pouco). bjs muitos e tô colado na corda vu
ResponderExcluirAmigos, que visita boa. Olha, eu faço um esforço doido para conseguir escrever pouco, ainda mais assim, com Fábio Vital, ops, Vidal, ato-falho! Porque blog não é livro, né, e chega uma hora que a gente cansa. Mas, realmente, eu também queria ser a unha do pé esquerdo de Fábio. Eu comecei a fazer sua oficina de teatro físico, mas larguei no meio, por não aguentar nem física, nem emocionalmente. Tem que estar muito certo de si, pra se jogar tanto, e de tão alto. Grande beijos, queridos. Preparando os posts de Vira Lona, Lona Vira, da Via Palco e de Doido de Elias Andreato, ambos lindos. Se tiverem sugestão de espetáculo, é só deixar em algum post. Beijos. Fábio, a família sempre aqui, batalhando. Saudade também!
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