terça-feira, 17 de maio de 2011

UMA PEÇA EM WIDESCREEN - Namíbia, não!!!

Previously on ARTE DO ESPECTADOR:


No post anterior Adriana e Alam apresentaram as mudanças no blog e comentaram sobre a experiência de terem assistido na semana de 13 de Maio a dois espetáculos com a temática negra, se é que se pode chamar assim. Foi comentada a peça Bença e postado bate-papo com Chica Carelli... no DEZ MINUTOS COM.




WIDESCREEN

Foi a primeira impressão que tive ao abrirem-se as cortinas do Martin Gonçalves no domingo 15 de Maio. Um pesado, porém interessante, aparato compunha o cenário. Um mundo branco, exageradamente branco, recortado por um universo negro, escuro. As formas retangulares todas dentro do grande retângulo, retangulavam a visão.

A peça desenrola-se com um ritmo alucinante, envolvente. Texto e atores seguram um ritmo impressionante. Os recortes na narrativa ou na luz, promovem uma rica edição, como propõe Roberto Abreu em sua participaçã no Gol do Esptáculo (veja link no final do post). E o diálogo com o cinema extrapola o tela larga.

A peça tem aquele não sei o quê (mentira, eu sei, é o trabalho seguro e aterrado dos atores) que segura o público o tempo todo. Que delícia ver estes meninos em cena. Sua entrega, seu desejo, seu carisma, seu comprometimento e, claro, seu talento.





Da dramaturgia, um vai e vem que leva a gente pra lá e prá cá, pra lá e pra cá...

ACREDITAR OU DUVIDAR?

IR OU FICAR?

OBEDECER OU TRANSGREDIR?

ESCONDER OU ENTREGAR?

RETROCEDER NUNCA?

RENDER-SE JAMAIS?

...estas são algumas das questões que nos levam ao poeta maior:

SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO.


O universo do drama em questão é tão absurdo que, como muitas vezes na vida, a gente tem a sensação de que vai parar tudo e dizer: "Ah, era apenas um sonho!" Mas não era.
Não é.
Quase nunca é...


As discussões políticas, sociológicas e antropológicas passam longe do risco de serem didáticas. Repletas de humor e ritmo, as cenas jogam no nosso peito questões polêmicas, cruéis e violentas, e a gente se ri do ridículo que carregam em si. E olha que nem é aquele riso constrangido, não. É engraçado mesmo. Um humor bem construído, do texto à cena. O texto impresso, com mais cenasé vendido no final do espetáculo (apesar de que poderiam botar uma mesinha mais atraente do que a menina, bem intencionada, tadinha, mas que sem carisma nenhum fala, quase com medo, na porta de saída: "O TEXTO DO ESPETÁCULO!". Enfim) Sua publicação é fruto do Prêmio FAPEX de Teatro, concedido muito merecidamente, a Aldri.



E curiosamente, voltando à peça encenada, percebo que como na peça assistida no dia anterior, temos uma estrutura cênica branca, com uma luz muito fria e clara contando uma história negra. Isso me chamou atenção. E me chamaram atenção também outras proximidades entre Namíbia... e Bença.

Se o espetáculo do Bando fala de ancestralidade, de velhos e de origem, Namíbia... parece representar o outro lado do arco. A outra ponta da Diáspora. Jovens brasileiros inseridos, cada um a seu modo, na loucura da rotina de seu país pensando a questão da África, da origem, ao avesso. Discutindo através de um problema extremamente prático, não uma questão filosófica intransponível. Esse é um dos grandes trunfos do espetáculo. Não tem cabeçudisse ali. Tem um problema real e concreto diante do qual é preciso - mas talvez não suficiente - se posicionar.

A mão de Lázaro Ramos na direção me parece bastante precisa e arrojada. Eu não sentiria falta das cenas de audiovisual, como o programa de TV ou mesmo a reportagem em Angola. Acho gente demais atrapalhando os meninos que se bastam sozinhos no palco. É sempre uma delícia ver Luiz Miranda fazendo qualquer coisa, mas realmente acho que se algum dia esquecerem a mídia, não deixem de fazer o espetáculo por causa disso (a pessoa é desaforada!!! kkkkkkkkkk).

Deu né? Já entreguei coisa demais pra quem - por ventura e ingenuidade - tenha lido antes de assistir.

Amei ter ido assistir, vou levar minhas crianças que já tinham ido ver Bença no sábado e ficaram em casa no domingo, fazendo tarefa. É um espetáculo que precisa ser assistido, degustado, debatido. Sobretudo porque é teatro, dos bons. Não é panfletário, mas é político. Enfim. Uma delícia!


As fotos e os vídeos são de Alam Félix, se experimentando em sua nova profissão (não bastam as de ator, diretor, professor, pai e marido).

Não deixem de ver os vídeos relacionados:

DEZ MINUTOS COM (clique aqui) Flávio Bauraqui e Aldri Anunciação: um gostoso bate-papo sobre o público de Namíbia e

O GOL DO ESPETÁCULO (clique aqui), nova série onde o espectador decide se a peça, enquanto jogo ficou no 0 X 0, foi uma derrota ou um jogo ganho? (que eu não falo o nome daquele time...), elegendo o tento da peça.


E aí?
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Participe do baba. Pode até chutar a autora. Eu não sou bola, mas passo um GELOL.

ACOMPANHE A VIDA DA PEÇA FORA DOS PALCOS (debates,reflexões, bastidores e repercussões) NO BLOG OFICIAL DE  Namíbia, não!



FICHA TÉCNICA:
texto: Aldri Anunciação
elenco: Flávio Bauraqui e Aldri Anunciação
ator substituto: Fernando Santana
direção geral: Lázaro Ramos
assistência de direção: Ana Paula Bouzas e Caio Rodrigo
direção musical: Arto Lindsay, Wladimir Pinheiro e Rafael Rocha
supervisão artística: Luiz Antônio Pilar
produção musical: Rodrigo Coelho e Rafael Rocha

equipe de produção
coordenador de produção: Aldri Anunciação
produção executiva:      Socorro de Maria, Kalik Produções Artísticas (Susan Kalin); Terceira Margem (Caio Rodrigo); JLM Produções Artísticas Ltda (Laura Castro, Marta Nobrega)
desenho de luz: Jorginho Carvalho
engenhariade som: Rocha Studio (Filipe Pires)
cenografia e figurino
cenário: Rodrigo Frota
figurino: Diana Moreira
assistente de figurino: Mariane Lima
modelista: Dora Moreira
comunicação
assessoria: Comunika Press (Aleksandra Pinheiro)
projeto gráfico: Cartaxo Cria (Filipe Cartaxo)
edição de vídeos e câmera: Pacheco





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Um comentário:

  1. Drica, muito bom essa entrevista. Ouvir o autor falar sobre o espectador como outro diretor do espetáculo é muito bacana, pq eh assim mesmo q nós nos sentimos. Este espetáculo nos convida, aliás, nos arrasta com tudo para reflexão. Melhor ainda, para possíveis posicionamentos políticos. O texto é muito inteligente e o saque de lançar mão dos recursos tecnológicos da forma q eles lançaram só enriquece a encenação. Eh muito bacana, pq nesta encenação td funciona harmonicamente e tendo a mesma medida entende? Peraê, me deixaeu explicar: O texto é inteligente, riquíssimo em informações (inclusive históricas), mas n chega a sufocar o espectador com excesso de informações, o diálogo com a tecnologia é fantástica, n está ali só para “ser diferente” sabe¿ A linguagem tecno não é um enfeite, nem uma ferramenta, ela interage com a encenação, com os personagens, com o texto...Enfim gosto muito deste caminho q vc utiliza de ouvir os dois lados: quem atuou e quem assitiu!!! Arrase bonita!!!

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