segunda-feira, 16 de maio de 2011

TEATRO EM PRETO E BRANCO - Bença, meu pai

A semana do 13 de Maio foi bastante movimentada para o Arte do Espectador. Incrementando mudanças no formato e nos posts, estamos reforçando uma atividade que já era ensaiada - se me permitem a brincadeira com o termo - aqui que é assistir a espetáculos, entrevistar pessoas da plateia, bater um papo com os profissionais envolvidos e depois comentar. Isso era feito separadamente e de forma irregular. Agora a proposta é fazer isso com mais frequência e de preferência tudo junto, sobre o mesmo espetáculo.

Para tanto, junta-se ao trabalho, na função de fotógrafo, cameraman, parceiro de direção e produção - sem deixar de manter a função de marido - o ator, diretor e agora fotógrafo certificado Alam Félix que chegou cheio de ideias.



Nesta primeira semana de corrida aos palcos do centro da cidade, assistimos - coincidentemente (ou não) a dois espetáculos cuja temática versa sobre o povo negro. Não por acaso, é a semana de 13 de maio, data que, querendo ou não, representa um marco para as discussões sobre o tema.


O VI E QUERO COMENTAR de Namíbia, não e o DEZ MINUTOS COM Flávio e Aldri vão ficar para amanhã, porque o tempo passa rápido aqui pelos trinta e tantos anos e também porque o post ficaria muito grande, coisa que eu não gosto, quem me lê sabe. Vamos à BENÇA, pois.




No sábado assistimos ao espétáculo de comemoração dos vinte anos de trabalho do BANDO DE TEATRO OLODUM, com direção de Márcio Meirelles e Co-direção de Chica Carelli. Apesar de ter assistido ao espetáculo de cima, o que eu não gosto muito, porque me sinto distante do evento, ali real, no quente, eu acredito que muitas imagens ficaram mais bonitas vistas de cima, como uma cena em que a saia de uma das atrizes se torna uma grande roda, ou mesmo as cenas realizadas sobre a imagem projetada no chão. Mas, confesso que senti falta de estar dentro do ritual, e espero voltar para assistir ao espetáculo na parte de baixo da plateia da Sala Principal do TEATRO VILA VELHA.

O grupo comemora seu aniversário oferecendo ao seu público um espetáculo esteticamente diferente do que tem oferecido ao longo de sua trajetória. Se quando falamos de Bando pensamos em um ritmo alucinante, em cores fortes e numa iluminação quente, o que temos em BENÇA é um espetáculo calmo, lento, e curiosamente branco. Branco no cenário, nos figurinos, nas luzes. Um azul anuncia o final do espetáculo, nada mais.

O impacto da atuação dos membros do Bando é sempre aquele, pungente e revigorante. A encenação mantém distância sempre propositada de qualquer traço de realismo, estando presente a pegada épica de sempre, mas desta vez, como confessa a própria Chica no bate-papo que se seguiu à apresentação, com menos cenas frontais que falam diretamente à plateia.

O audiovisual ocupa um papel importante no cenário e na narrativa do espetáculo, se é que podemos chamar assim. E ocupa de forma madura, consistente, bem elaborada. A palavra é um elemento quase físico, que para além do discurso que carrega, é imagem, é som, é elemento. Tanto que em muitas cenas, não podemos entender o que dizem (pois se sobrepõem), mas nem por isso a deixamos de sentir, enquanto palavra, enquanto sonoridade, enquanto fato, enquanto acontecimento.


Os velhos negros com seus sábios conselhos, depoimentos e reflexões, aliados à força de sua imagem, tempo de fala e empatia, parecem nos levar a um estado de meditação, de aquietação. Não por acaso, questões de ancestralidade, filiação, velhice, morte e benção andam rondando esta blogueira que vos fala. Bule-Bule me provoca quando constata: ninguém quer ficar velho, mas também ninguém quer morrer! Um toque em minha sensibilidade, medrosa que sou do avançar dos setembros.


É certo que em dado momento, sinto que a fórmula PROJEÇÃO-COREOGRAFIA-TEXTO começa a se repetir, quase que em ciclo - ora, mas não é disso que a peça fala? Não é isso que a vida é? O final, bom o final você vai ter que ir lá para ver, ou melhor, para viver.

Ao final do espetáculo, com João Vicente acordando (ele tem essa mania de dormir no teatro) e Hannah aos prantos (ela tem essa mania de se entregar de coração), saímos do teatro no tempo que é nosso. Uns com pressa, outros com dúvidas, mas cada um na sua. No seu tempo, no seu achado, na sua história. Não fossem as demandas da vida (deste blog, inclusive) eu talvez ficasse mais ali, Talvez estivesse lá até agora, esperando o tempo acabar. Pensando na frase que me disse minha mãe, três dias antes:

"A gente sempre dorme esperando o amanhã chegar. Mas quando a gente acorda, é sempre hoje de novo!" Iracy Viana

Bença, minha mãe.


ONDE LER MAIS SOBRE bença:




E não perca o bate-papo rapidinho com Chica Carelli na página DEZ MINUTOS COM.... É só clicar AQUI e assistir.


E lembre-se: seus comentários são sempre muito bem-vindos.


FICHA TÉCNICA:

Direção, concepção do roteiro cênico e de encenação - Márcio Meirelles
Fragmentos de textos - Bando de Teatro Olodum
Co - Direção teatral e Direção de Produção - Chica Carelli
Coreografia - Zebrinha
Direção Musical - Jarbas Bittencourt
Iluminação - Rivaldo Rio
Cenário - Márcio Meirelles
Elenco - Arlete Dias, Auristela Sá, Cássia Valle, Cell Dantas, Clésia Nogueira, Ednaldo Muniz, Elane Nascimento, Fábio Santana, Gerimias Mendes, Jamíle Alves, Jorge Washington, Leno Sacramento, Merry Batista, Rejane Maia, Rídson Reis, Robson Mauro, Sergio Laurentino, Telma Souza, Valdinéia Soriano.
Músicos - Maurício Lourenço e Daniel Vieira (Nine)
Realização - Bando de Teatro Olodum e Teatro Vila Velha







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