segunda-feira, 10 de junho de 2013

O silêncio e sua aparência



Eu escrevia tão bem aos vinte anos. Todos comentavam e eu mesma sentia certo orgulho de minha habilidade com as palavras. E tudo era motivo para páginas repletas de parágrafos poéticos, agressivos, nostálgicos, imaginativos. As brigas no namoro geravam verdadeiros romances de cavalaria ou cantigas de amor perdido, quando não, verdadeiros tratados para provar que eu estava certa. Eu já via que a carreia acadêmica ia aparecer no meu caminho.

De repente, não mais que de repente, a vida foi ficando tão real e o papel voou.

Tanta coisa pra viver e resolver. Aí eu entre numas de me contentar com as palavras dos outros, meu ídolos queridos: Chico, Raul, Gil, a princípio. Depois a  coisa foi ficando séria. Álvaro de Campos, Adélia Prado, Nelson Rodrigues, Mário Filho, Shakespeare, Mafessoli, Foucault e a paulada final: Nietzsche. Aí, meu amigo, quem mais escreve?

E também, acabei aos poucos me submetendo a um silêncio que no momento me parecia mais produtivo, me evitava brigas e desgastes e me forçava a constantes autocríticas. E eu segui dos 25 aos 38 (data atual) acreditando que estava me tornando uma pessoa melhor.

Ledo engano.

Quando vem a enxurrada, ela vem suja, lama pura, fedida e feroz.

Agora, talvez como muitos da minha idade que não levam esse assunto para a mesa do bar, porque lá falamos de nossas teses, nossas compras, nossas posturas sobre o governo, sobre cultura, sobre educação, sobre consumo consciente e ecologia, deparo-me com o doloroso silêncio e as paredes brancas de casa. Pura bosta!

Meu corpo, linda casa que me abriga, fez o que eu não fazia há quase 15 anos: Deu um berro. E gritou alto e em bom tom. E eu tive que escutar. Traduzo aos poucos as confusas palavras que ele me fala e escreve em mim.

E uma certa 'leseira' que eu nunca tive, pois sempre fui por demais correta, esperta, inteligente e sensata, me dá uma sensação de estar perdida e eu curto muito. Da tristeza que me acomete às vezes, não gosto muito. Gosto da confusão na memória, do riso besta do nada, da picardia na conclusão de certas conversas, que eu já tinha mas parece que tá maior. Só fico assim assim quando a vida me parece sem sentido, mas pra ser sincera, ela sempre me pareceu, eu é que nunca quis assumir.

Os amigos são o melhor remédio. Os holopáticos ajudam, mas mesmo ao celular, a voz de quem amo é quem me acalma. E são tantos e tão diversos que me amam que até fico comovida.

Bom, é só isso mesmo. Tô ouvindo Raul Seixas que eu não sei se melhora ou piora, mas eu gosto muito. O homem é pura palavra.

E fica o desabafo, minha volta às palavras. Quem sabe elas não me acolhem de novo?




Leia também: Minha Partida Vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário