sexta-feira, 25 de novembro de 2011

AUGUSTO BOAL, ZELITO VIANA E EU

Gente, quanto tempo eu não apareço, né?

É bom que dá pra vocês lerem as postagens antigas, relerem as mais queridas e ficar na expectativa por um novo bate-papo.

Pois bem, tenho que dar uma paradinha na correria da vida uesbiana para escrever algo sobre o qual realmente não dá para não escrever.


Fazendo um dos jogos de Boal para aquecimento da plateia
Falo sobre o documentário do queridíssimo ZELITO VIANA sobre outro não menos querido AUGUSTO BOAL, esse nosso grande homem de teatro, de política, e de tudo de bom que se relaciona com o fato imponderável de estar vivo.

Como parte das comemorações pelos 30 ANOS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA, os três campi - Vitória da Conquista, Itapetinga e Jequié - receberam a presença do diretor, para um bate papo sobre o documentário exibido, que ainda entrará em circuito comercial. Infelizmente, como vocês podem ver, a plateia foi tímida, mas só em número, viu, porque o debate foi ótimo. Valeu por quem foi!

Eu e Zelito Viana
A oportunidade foi das mais raras e deliciosas. Eu tive o prazer de dividir a mesa com ele, em Jequié e bater um papo com a plateia. Ele é uma figura ímpar. Acessível e simpático, boa conversa, olha nos olhos da gente, ouve, pergunta e faz a gente se sentir amigo de longas datas. Quer mais? Ele adora futebol! Vascaíno, tivemos bons momentos conversando sobre o assunto. Eu, de minha parte, esperei meia hora para ganhar intimidade e importuná-lo conversando sobre a minha verdadeira paixão por sua obra VILLA-LOBOS, UMA VIDA DE PAIXÃO, recitando quase todas as falas que eu sei de coração, porque, sem exagero, já devo ter assistido mais de 15 vezes. Eu morrendo de vergonha de tietar - o que inclui fotos, claro - e no final do jantar quando nos despedimos ele me confessou: "Fiquei emocionado por você saber quase todas as falas do filme!".

Mas, vamos chamar o Boal para a conversa, né.

O documentário, como o próprio Zelito comenta no debate, era pra ser um filme sobre o Teatro do Oprimido. Sua equipe acompanharia o trabalho de Boal pelo mundo, aplicando suas técnicas, o que resultaria na obra planejada. Porém, todos foram (ou melhor, fomos) surpreendidos com a partida do teatrólogo no comecinho do trabalho, quando ainda estavam sendo feitas entrevistas para fazer o roteiro do filme. De posse das imagens captadas até ali, Zelito esperou diminuir a dor da família e dos amigos, e decidiu fazer um filme com as imagens que tinha. Na sessão de exibição do Rio de Janeiro a comoção foi total e toda a plateia chorou junta a saudade de nosso Augusto diretor e professor.

O documentário deverá ser um divisor de águas na relação em que temos no Brasil com o Teatro do Oprimido. Estudado e aplicado em praticamente todos os continentes do mundo, o método desenvolvido por Boal sempre sofreu de grande preconceito em nosso próprio país. Primeiro por nossa reconhecida síndrome de colonizado, que não nos permite valorizar nada que é nosso. Segundo por nossa aversão a temas e realizações populares, a menos que elas sejam abordadas de forma folclórica, exótica ou romanceada. Se é um método que serve a pequenas manifestações de teatro em comunidades, presídios, casas de saúde mental, acampamento do MST, deve ser tratado do ponto de vista antropológico, e certamente, seu valor estético se reduz diante de sua função social, certo? Errado. Bela merda esse discurso que se reproduz ao infinito dentro das academias e dos programas de pós graduação espalhados pelo nosso país. Tanto a aprender ainda temos! Mas, enfim, deixa eu me acalmar aqui. Não posso negar que este quadro está mudando e repito, este filme será uma importante ferramenta neste processo.

O próprio Zelito diz que o filme ficou didático porque ele mesmo estava aprendendo sobre o método, já qu enão o conhecia diretamente, apesar de ser muito amigo de seu criador. Quando perguntado sobre a motivação de fazer o filme, ele diz que a admiração por Boal foi a porta de entrada. Boal, segundo ele, era um homem encantador, que acreditava na mudança da humanidade, da sociedade e que essa crença não era algo utópico, mas bastante concreto e contagiante. O lema de Boal, segundo seu amigo, era "cabeça nas nuvens, pés no chão e mãos à obra"! Isso chamava sua atenção!

O documentário, devo concordar com seu autor, é didático, mas para o bem e não como um defeito. Ele introduz o iniciante nas mais elementares informações sobre o método, mas vai muito além, trazendo depoimentos de pessoas dos mais diversos países, das mais diferentes culturas que aplicam o TO na luta contra as mais diversas e impensadas opressões. Para quem já conhece o método, como era o meu caso, pois eu já passei pela formação do TO através do Programa Ponto de Cultura e também porque estudo sua obra já há quase uma década, fica aquela certeza de que é de fato um grande método, que contribui para a prática de teatro, seu ensino e aprendizagem sua interferência contundente na sociedade.

E para quem gosta tanto de padrões internacionais para medir aquilo que presta e o que não presta, o trabalho de Boal ao redor do mundo compara-se, em importância e genialidade, ao trabalho de Stanislavski e Brecth. Para fechar o caixão da questão, basta dizer que a Royal Shakespeare Company o chamou para dirigir seus atores, para que eles se aproximassem de fato de Shakespeare e seu princípios de teatro popular. Deu, né?

A tempo: um grande abraço ao parceiro Esmon Primo, que com muita garra tem peitado boas brigas pelo cinema na uesb e na região. Abraço, querido, é muito bom trabalhar com sua euqipe!

Assim que souberem deste filme nos cinemas, não deixem de assistir. Quando sair em DVD não deixemos de invadir as escolas, associações, comunidades, famílias com esse material de importância ímpar para nossa prática teatral. E quando tiver um filme de Zelito Viana em cartaz, ou nas locadoras, não deixem de ver. Esses brasileiros são realmente figuras com as quais vale a pena estar por perto. Se não dá para estar perto deles pessoalmente, que estejamos com o melhor que eles têm: sua arte!

Confiram os trailers enquanto aguardam pelo filme:




6 comentários:

  1. Essa é a ideia, amigo. De Boal, de Zelito e de Eu! rsrsrsrs. Saudade.

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  2. Uma pena... lamento que me programei tanto pra estar na primeira fila e não pude estar presente: adoeci naquela tarde/noite e... não deu!

    Gostei de tudo o que li e vi aqui e vou me planejar pra estar no lançamento, apaixonada que sou por Boal e seu modo ímpar de fazer teatro.

    Abraço!

    Jussara Midlej

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  3. Ju, que visita boa. De fato, faltou vc naquela plateia, no debate. Espero que esteja melhor. Grande abraço, parceira.

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  4. Gostei de mais do documentário. Levarei comigo as ideias de Augusto Boal pra onde quer que vá. Estou ansioso para adquiri o DVD do documentário para que eu possa assistir mais e mais e aprender com esse gênio do teatro brasileiro. Sabe o bom disso tudo? Que ele é brasileiro!
    Quero pesquisar e me aprofundar mais sobre Boal e o Teatro do Oprimido. Espero que nosso curso venha ter uma disciplina discutindo sobre.
    VIVA BOAL!!!! VIVA O TEATRO!!!!! VIVA O TEATRO DO OPRIMIDO!!!!
    Beijos!!!! PRÓ.

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  5. Então, Valter, a tendência como a gente falou no debate é que o TO entre cada vez mais nos cursos de teatro e nas práticas com o teatro nas mais diversas instâncias. Na UFBA eu orientei alguns TCCs sobre o Teatro Fórum e o Teatro Invisível. NA reformulação estamos incluindo esta disciplina ESTÉTICA DO OPRIMIDO e tenho certeza que teremos muitos trabalhos de conclusãod e curso neste sentido. Concordo com vc, ele é brasileiro e é um grande gênio, como Nelson Rodrigues. É muito bom saber que somos tão próximos, não é? Abraços, querido, obrigada pela visita.

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