segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A SAÍDA DO SECRETÁRIO

Estava meio que sem assunto para retormar este blog, como já fiz com o de futebol. Mas, agora, dando uma voltinha na net, vi que os novos secretários de Wagner para o segundo mandato estão sendo indicados e achei um bom motivo para falar de teatro.

Eis que entre a lista dos secretários que vão permanecer não contém o nome de Márcio Meirelles, na Secretaria de Cultura. Isso, eu lamento muito. Talvez ele mesmo tenha pedido para não continuar, como já alguns me tinham cogitado no ano passado. O que não diminui os motivos para eu lamentar.

A gestão de Márcio foi, para mim, uma gestão digna da inauguração de uma Secretaria Estadual. Seu compromisso com a arte, seu talento e sua gentileza e simpatia, eu já conhecia. Sua competência na gestão do Vila também, mas sua coragem e sua força em enfrentar as adversidades foram para mim uma grande revelação. Não que eu não soubesse de sua vitória contra problemas graves de saúda na década de 90, mas aguentar o que ele aguentou da própria classe, foi realmente para mim, admirável. E ao lado da força com que conduziu a pasta, tenho que comentar também da classe e da elegância com que tratava seus detratores. Tive a honra de ir a algumas reuniões da classe e ver a forma como ele conseguia apagar alguns incêndios provocados pelos mais exaltados, que muitas vezes acabavam por fugir ao foco da reunião. Via e aprendia que manter a calma sem perder a autoridade que a situação permite e exige, é a melhor forma de continuar de pé, pronto para andar para frente.

Sua política de interiorização das ações da Secretaria e da FUNCEB foi definitiva para o avanço incomparável que temos nas cidades de nosso estado, sejam elas grandes ou pequenas. A disseminação dos Pontos de Cultura, os cursos oferecidos aos grupos de tantas cidades do interior, a realização das Conferências, o apoio aos atistas de rua e à Cooperativa Baiana de Teatro, os editais e sua divisão entre interior e capital, a chuva de Festivais que ainda rega nosso fazer teatral são marcas destes 4 anos de sua gestão.

Quero então, meu admirado Márcio Meirelles, torcer para que você continue na vida política, por mais que isso lhe seja um sacrifício, porque você fez seu dever muito bem e pessoas com esse talento têm a tarefa de ajudar na construção de um mundo mais justo. Você é corajoso, inteligente, de vanguarda e precisa estar nesse palco da vida política para que nós possamos continuar avançando.

Obviamente que cabe a nós também construirmos ao seu lado e ao lado dos demais batalhadores da cultura o cenário que desejamos. Mas a tarefa de enfrentar a burocracia, de fazer alianças e acordos, de recuar um passo para avançar dois não é coisa fácil e nem todo mundo tem o know-how. Assim, é preciso que ocupemos os lugares para os quais temos competência. De que adianta boa vontade, sem saber fazer? Sobretudo neste lugar tão ingrato que é o mundo político?

Espero que seu sucessor tenha olhos para o povo do interior como você teve. Espero que tenha sua coragem e sua delicadeza. Espero que tenha uma visão humanística da arte e artística da humanidade. Espero que faça uma grande gestão como foi a sua.

Espero ainda, que você tenha muita saúde e que sua vida profissional continue operando maravilhas como tem feito até aqui, para todos nós que temos o prazer de assistir às suas obras quer sejam elas artísticas ou políticas.

Obrigada pelos anos de dedicação à cultura e à arte na Bahia. Como atriz, professora de teatro, pesquisadora e espectadora eu só tenho a agradecer.

Grande abraço. Fique com Deus.



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2 comentários:

  1. Fico feliz por não estar sozinho no que penso sobre Márcio Meireles. Tenho o maior apreço pela forma íntegra como atuou na Secretaria e, pricipalmente, pelas frequentes brigas na tentativa de democratizar os acessos aos bens simbólicos, antes restritos aos frequentadores assíduos das poltronas A - Z do Teatro Castro Alves.

    A figura sempre controvertida de Márcio provacava os ânimos mais apurados dos desconfiados da sua maneira de fazer política. Sempre birrava e talhava no argumento quase axiomático de que a Cultura só começou a ser discussão e entrar na pauta orçamentária após Marcio, cuja principal característica de sua gestão - e, diga-se de passagem, uma mais interessante manobra de todos os tempos - foi descentralizar os investimentos univocamente introjetados em Salvador, como único pólo cultural. O interior da Bahia ganhou um conceito integrante nessa quermesse e os editais Cultura, as ações dessa secretaria, só demonstravam provar o gosto não só do azeite costumeiro, mas de todos os aspectos operísticos dessa feijoada colorida que é a Bahia de todos os santos, de todos os orixás, caboclos, pastores e pastorinhas...

    Mas é salutar também apontar para um salve geral em matéria de substituição, dado que o assunto ao cargo de Secretário é o então professor e atuante em discussões na área de Cultura, Albino Rubim... Vamos rezar para que sua administração obtenha, desta vez, o aplauso de Aninha Franco & cia Ltda.

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  2. Pois é Jober, mas sabe que eu meio que tô cag...ndo para estes aplausos?!? Se eles vierem que seja pela compreensão de que era o modelo proposto por Márcio foi um modelo de gestão bom e justo e não pelo retorno do modelo individualista que eles perderam e lamentaram por estes 4 anos.

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