quarta-feira, 1 de junho de 2011

Em cima do palco, em baixo da lona

Vira Lona, Lona Vira.

Eu levei um tempinho tentando bolar um título que brincasse com o título da peça que a gente assistiu e vai comentar, mas o máximo que eu consegui foi isso mesmo.

Este é o primeiro espetáculo infato-juvenil que a gente faz aqui no blog e a estreia não podia ser melhor. O Grupo Via Palco, além do espetáculo, apresenta no Teatro Xisto Bahia - que eu já confessei que adoro - uma bela exposição fotográfica, com parte de seus 13 anos de trabalhos nos palcos, além de manter uma simpática lolinha onde as famílias podem adquirir brinquedos e camisas com estampas do universo circense.

Mas, vamos ao palco. O palco que vira lona, a lona que vira sonho, o sonho que vira peça.

Chegamos e uma luz muito bem desenhada nos recebe. Aos poucos, porém uma linda trilha sonora, que permeará e enriquecerá todo o espetáculo nos afasta da loucura do dia-a-dia e nos convoca a sermos crianças de novo. E que convite gostoso. E como é bom aceitá-lo.

As cenas vão se apresentando uma a uma, com a calma de quem tem tempo, não tem pressa e não tem medo. As crianças entram no tempo e na lógica do esptáculo e a gente já não sabe mais o que é sonho e o que é real.

Números de circo, como esquetes de palhaços, malabarismos, cambalhotas e outras peripécias corporais fazem a gente viajar como se fosse num circo mesmo. O palco vira lona, insisto. E a proposta se consuma: e se todos os números de circo fossem feitos por palhaços?

Os elementos visuais, desde o figurino, maquiagem e adereços, a iluminação são muito bonitos e bem cuidados. Agamenon de Abreu, que já encanta o cenário (literalmente) teatral de nossa cidade fazendo belíssimos cenários e figurinos para as mais diversas produções, foi muito feliz nas escolhas e na construção da imagem visual (isso é um pleonasmo?) deste espetáculo.

Mas o que enche os olhos mesmo, me desculpem pelo disparate linguístico é a trilha sonora, um belíssimo trabalho de Rubinho D'Ávila.

Ah, eu acho que ainda não falei que a peça não tem palavras, não é? João Lima já havia se aventurado em experiência parecida com O Sapato do Meu Tio (vencedor do Prêmio Braskem de melhor Texto - não é ótimo isso? - cujo cenário também é de Agamenon de Abreu).

Mas, voltando à lona, a trilha ocupa boa parte da construção da dramaturgia, escrita também pela movimentação dos atores, pelo tempo-ritmo do espetáculo, pelo recorte de luz, enfim, várias vozes a serviço de um espetáculo literalmente sem palavras que encantou toda a plateia que se ria como criança feliz.

João Vicente, meu filho, se pulava na cadeira com as peripécias dos palhaços, sobretudo Agamenon que enche o palco cada vez que põe em cena seu nariz vermelho. Hannah, mais comedida ria-se educada, mas efusivamente.


O fato de o espetáculo estar estreando traz um pouquinho de rigidez ainda à realização das performances, sobretudo as que envolvem um certo risco. Nada mais natural, né gente. Acho que com o tempo as acrobacias vão sendo executadas com mais precisão e naturalidade e também os jogos entre os palhaços, A cena das mágicas, por exemplo, na minha modesta opinião, podem ser feitas mais como brincadeiras, tirando um barato mesmo, afinal de contas são palhaços fazendo... Acho que Agamenon consegue essa pegada, pois ele executa sua mágica de brincadeira, e se diverte com ela. Acho os demais truques acabam sendo feitos com muita seriedade, que não contribui para a cena, já que são evidentemente truques aprendidos. Se esses truques fossem assumidos como tal (não esclarecidos, como Mr. M), mas se fossem ridicularizados (acho que essa é a pior palavra possivel, mas não tô achando outra) a cena ganharia muito em ritmo e em troca com a plateia. E acho o final meio abrupto, mas, como sempre lembro, eu só acho tá gente, se eu tivesse certeza de alguma coisa eu tava lá no palco, fazendo e não aqui escrevendo sobre quem faz. EU AMO ESSE ESPETÁCULO!

Bolinhas de sabão e música de caixinha
Bom, eu adorei a cena das lavadeiras. O jogo de Fábio Neves com sua interpretação leve e acolhedora e a bela e doce Naiara Homem, embalados pela trilha sonora é simpesmente encantador.

João Vicente escolheu a cena da água, Agá e Ive Alencar essa grande menina-atriz, brincando de ser chafariz. E que técnica, hein Agá? Uma caixa d'água!!!
Hannah encantou-se a cena da bailarina, mais uma vez pela leveza e brilho da interpretação de Naiara.


 Alam gostou do gol do Bahia, pois o safado estava fotografando a peça e ouvindo o BAHIA X FLAMENGO pelo fone do rádio... pode???

E a peça é assim: a gente sai lembrando das cenas, dando tanta risada quanto deu lá dentro, trocando ideias sobre as cenas e isso é uma delícia. A capacidade de manter crianças intertidas (como diz meu pai) com uma peça sem uma palavrinha se quer, sem gritaria, sem ruído, sem efeitos especiais tecnológicos é de fato um acontecimento.
E é tão bom ver esse acontecimento 'acontecer' no teatro, esse lugar de resistência. Esse pedaço de mundo onde o encontro pessoal é uma condição indispensável. Onde atores ainda se dedicam - há quanto séculos, meu deus? - a pesquisar, trabalhar, ensaiar, criar, para no fim, em cima de um palco - ou em baixo de uma lona - atirar-se à fúria dos espectadores, que esperam de boca aberta devorar o desafiante.

A menos, obviamente, que este ator/atriz o seduza, o convença e o conquiste. Conseguido esse feito, sai ele dali, coitado, talvez sem dar-se conta, completamente transformado, escravo dessa delícia, espectador adepto e carente de cada vez mais teatro.

Tá bom, né... eu perco um pouco a conta quando escrevo...

Assista ao discontraído bate-papo com elenco e diretor no DEZ MINUTOS COM... VIA PALCO Foi muito gostoso e divertido.

Ouça o que a plateia tem a dizer no GOL DO ESPETÁCULO

Se gostou das infromações da peça, dê um pulo no site do grupo CLICANDO AQUI.

Nunca é demais lembrar que este espetáculo é parte do projeto COOPERATIVA EM CENA, sobre o qual a gente já falou e ainda vai falar muito mais, pois estamos agendando um DEZ MINUTOS COM... a Diretoria da Cooperativa.

E, claro, não deixe de comentar, é tão bom acordar e ter comentário no blog.


FOTOS DO POST: alam félix


FICHA TÉCNICA
Roteiro: Criação Coletiva
Direção: João Lima
Elenco: Agamenon de Abreu, Ive Alencar, Fábio Neves e Naiara Homem
Cenário/Figurino: Agamenon de Abreu
Iluminação: Luciano Reis
Coreografia: Léo Luz
Técnicas Circenses: Edi Carlos (Binho) e Jailson Pereira
Trilha Sonora: Rubinho D'Ávila
Produção: Infinito Mais Um Produções


2 comentários:

  1. No espetáculo VIRA LONA,LONA VIRA adulto vira criança e criança mergulha no mundo circense transformando a realidade "adulta" do nosso cotidiano em um sonho de magia e alegria!A parte ludica como um passe de mágica faz com que as crianças interajam com a platéia.São momentos ímpares!!!Lia Araújo.

    ResponderExcluir
  2. Lia, obrigada pela participação aqui e no Gol do espetáculo e aqui nos comentários. Realmente, momentos ímpares. Abraços.

    ResponderExcluir