Calendário Maia |
A primeira vez que ouvi falar sobre o fim do mundo marcado para 2012 foi em 2007, através de uma grande amiga-irmã, bastante espiritualizada, que me falou na ocasião não apenas sobre as grandes transformações pelas quais o mundo passaria nesta ocasião, mas também sobre a existência de crianças índigo.
De lá pra cá, esta data tornou-se uma obsessão na minha vida. O 21 de dezembro eu só descobriria mais tarde e já nem me lembro como foi.
Sei que no meu processo de amadurecimento tem sido importante ter uma possível (e sonhada) data limite. Um marco. Um dia 'D'. Posso afirmar que passei esses quatro anos dedicando-me ao fim do mundo, de uma forma ou de outra, mesmo que entre as quatro paredes do meu pequeno ser. Eu adoro a ideia de que o mundo vai acabar. Não tenho tendências suicidas, mas acho morrer uma ideia fantástica!
Ontem, voltando de Jequié para Conquista, numa das últimas viagens que faço, caso o danado do mundo se acabe mesmo, sem conseguir dormir, me pus a pensar no que sentiria falta, depois que o mundo se acabasse.
Fui me dando conta de que mesmo cansativas na maioria das vezes, me fariam falta essas viagens de lá pra cá. Essas horas de olho na estrada, no sol da manhã ou no nascer da lua. Faria falta também a lida dentro da sala de aula. De modo algum lamentaria o fim das reuniões de departamentos, os protocolos e as burocracias. Podem ir em tsunamis, essas baboseiras. E os comprovantes do Curriculo Lattes, eu jogaria fora eu mesma, pouco antes do mundo acabar. Que fiquem na memória.
Dos meus amigos de hoje, de ontem e os de sempre, eu sentiria muita falta, caso não fossemos para o mesmo lugar.
As músicas que quero morrer ouvindo, nem que seja em pensamento, dei-me conta que são todas de gente nossa, ou vizinha. Queria que o mundo se acabasse ao som da Ária das Bachianas nº 5 do louco do Villa-Lobos, de Años de Soledade, de Piazolla e se a desgracera for demorada, toca o cancioneiro de Luiz Gonzaga e Elomar que eu morro feliz!
Se do lado de lá tiver uma ante-sala pra receber a gente, porque mesmo com três destinos possíveis, é muita gente morrendo ao mesmo tempo, vai dar uma confusão doida... Eu espero que não tenha as insuportáveis televisões que invadiram restaurantes, supermercados, consultórios médicos, a porra toda, mas vai lá que tem uma tela pra gente se distrair. Ah, eu queria assistir Tudo Sobre Minha Mãe do poeta transgressor Almodovar, e também Eternamente Pagu de Norma Bengel, que me lembra tanto eu mesma. E queria ver também, antes que me chamassem O Marido da Cabeleireira do francês Patrice Leconte. Mais por mim, do que por elas.
E se servissem uma boquinha pra gente não morrer de novo, agora de fome, eu pedia um cuscuz com ovo frito com cebola e uma média sem açúcar, que eu acabei me acostumando. Mas, bem quentinho o café, viu, que café frio é o inferno!
Se eu pudesse ler um livro, antes de ir pra sempre pro lado de lá, eu pedia pra ler de novo Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques. E se desse tempo, pedia pra me trazer um exemplar de Cacos para um Vitral, de Adélia Prado. E já que o mundo vai acabar antes de minha promessa: desce um Domeq com mel e limão que eu morro doce e temperada!
E se tivesse interrogatório lá na porta de onde quer que eu estivesse, eu ia tentar responder coisas que tento responder agora:
Paulo Ricardo e o cabelo Pigmaleão |
Amei tudo o que vivi. Amei ser professora.
Amei toda e cada vez que raspei a cabeça. Amei todas as cores que os pelos já tiveram.
Amei todo e cada homem que amei.
Amei todas as cidades que visitei.
Amei todas as dores das quais sarei.
Amei a moda 80 com calça-pra-que-blusa, biquine asa-delta e cabelo pigmaleão.
Amei a internet, o orkut, o messenger. Amei tornar-me blogueira.
Amei tantas risadas que dei, meu deus como eu sorri, mesmo sendo tão chorona.
Bicicleta, bicicleta! Eu amo bicicleta e tricô!
Amei as cores do meu Baêa e todas as alegrias que meu time me deu.
Amei o Porto da Barra, a Lagoa das Bateias e a Rua Augusta.
Bom, chega de amei isso amei aquilo.
Vai que o danado do mundo não acaba e eu com tanta coisa pra fazer do dia 22 em diante.
Tanta coisa ainda pra viver. E tanta coisa pra aprender. Pra descobrir e pra fazer.
Vou voltar aos braços dos meus filhos, marido, amigos, família, alunos. Volto para os livros, os palcos, os blogs...
E eis que inspirada no fim do mundo, a inspiração para o post acabou por aqui e eu termino ele assim, sem graça e sem frase de efeito. Vai que o mundo vai é acabar assim: sem graça e sem plantão!
Drica, que fim do mundo mais poético e interessante. Mesmo que este não acabe, serviu pra retroceder em pensamentos uma vida tão linda....Bju
ResponderExcluirObrigada pelas palavras e pela visita, querida. Uma honra ter uma leitora tão especializada! Abraços.
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