quinta-feira, 3 de março de 2011

Axé é Bom-bom, Axé é Bom-bom-bom...

Gente, na boa, eu cansei dessa história de que Axé é a escória da produção baiana. Cansei dessa cobrança de que não tem letra, de que não ensina, de que é pobre, tosco e sei lá mais o que.

Axé é bom porque tem consciência do lugar em que está, porque não quer ser o que não é.
Porque é extremamente eficaz naquilo a que se propõe.
Se a indústria arruinou o carnaval, não foi culpa do axé.
Aconteceu o mesmo com o futebol, com o cinema, com a literatura, com a internet, tudo entrou para o universo da industrialização, do mercado. Eu acho isso bom? Não, não acho. Mas também não acho isso um problema isolado e irresolvível.
Acho isso uma característica do nosso tempo e que se há culpados não são só os inimigos do povo que têm um plano infalível para dominar todo mundo. Se há culpados, os são também os que ficam sentadinhos na sua casinha, ouvindo suas musiquinhas clássicas ou bossa-novísiticas, falando mal de tudo o que tá acontecendo ao seu redor, num puta saudosismo que só atrapalha.

Que saco!!!

Axé é Bom e ponto!

Deus!!!

As coisas mudaram e eu acho que o Axé é uma expressão maravilhosa da nossa capacidade de ser feliz sendo besta... É isso mesmo!

A gente não quer ser inteligente, a gente não precisa fazer este esforço para ser feliz.
Claro que eu sei que temos muitos problemas sociais, gente. Sou mãe, atriz, professora e tenho meus momentos de raiva, saudade e vontade de fugir.

Mas o  que eu consigo concluir, no mais das vezes, é que eu ainda preciso decifrar este tempo em que vivemos. Eu olho para ele e digo: "Assim, tão de perto, não consigo te enxergar, não consigo te decifrar, não consigo te devorar. Assim, devora-me você!!! Que meus netos tenham distância para falar de nós!"

Queremos historicizar o presente, como se ele fosse passado.
O presente se vive!!! E isso é Axé!
O Axé faz sua obrigação no carnaval e no resto do ano. Ele não tem obrigação pedagógica, e talvez por isso mesmo o seja.

É um ritmo, gente, que não se faz em nenhum outro lugar do mundo.
É uma dança que nos traduz e que nos une.
Por que a gente precisa de outros parâmetros para comparar o que fazemos com o que os outros fazem? Me diz que outro estado tem uma música tão forte? Sua, exclusivamente sua.
Obviamente que o Axé e o Pagode são repletos de inspirações e influências de outras raízes, mas não tem Axé de Pernambuco, ou do Ceará.
É mais ou menos como o Brega do Pará, que ainda assim tem um pé no Amazonas. O sertanejo é espalhado na região central do país, mas o Axé é Baiano. Só baiano.

Tem coisa ruim no pagode, no axé? Tem. Assim como tem coisa ruim no teatro, no cinema, na literatura, insisto. Em todas as linguagens é preciso que se faça muito, para que se faça melhor, sempre melhor, eu acredito nisso.

Como as melhores produções vão surgir se não insistirmos incansavelmente em produzir? Isso o axé faz. Muita, muita, muita coisa. Quem sabe se fizéssemos mais teatro, assim, a rodo, não teríamos maiores produções???

Tem uma cosia mágica no Axé e no espetáculo de carnaval. Eu tenho minhas críticas sócio-políticas à dona Ivete Sângalo (cansada), mas o trio da bicha  passa e eu fico de pescoço duro. Aquilo é um encanto.
Existe um encanto no carnaval que é inegável. A gente passa no busu lotado na Av. Ocêanica, morrendo de calor, mas fica todo mundo babando os camarotes. Tá, um bocado de pobre que nunca vai estar ali, mas tem uma força estética inquestionável.

E sabe do que mais? Os empresário são espertíssimos e entendem a gradiosidade do Axé e por isso estão lucrando bilhões. Eles adoram que a gente fique reclamando, reclamando, sem fazer nada para atrapalhar. Porque ao invés de brigar com o mercado, com a indústria, com o poder público sobre os desmandos do carnaval, o que a gente faz? A gente perde tempo detonando os artistas do axé. Coisa mais feia e sem sentido. Coisa improdutiva.

Aí a gente faz o quê? A gente espera um afastamento de aproximadamente 5 a 10 anos para dizer que aquilo é bom. Foi assim com Luiz Caldas, foi assim com Gerasamba, agora Psirico... Engraçado é que a gente erra, erra e não aprende. É impressionante.

Eu já disse e vou repetir: Eu não quero ser européia. Se não temos peças de teatro ou dança para apresentarmos na Alemanha ou em Paris, eles também não têm trio elétrico para apresentarem aqui. E aí? Eles não sabem fazer carnaval como a gente. Por que a gente não pode se orgulhar e investir no que a gente sabe fazer de melhor? Por que dançar com o quadril, enlouquecidamente, todo mundo junto no meio da rua é menor do que dançar num palco para 200 pessoas?

Esse menosprezo pelas nossas coisas me incomoda demais. Vocês podem pensar: o que esperar de uma pessoa que estuda futebol e - pior - tenta comparar ao teatro????

Mas eu acho que estamos perdendo o bonde da história, virando as costas para o Axé e o Pagode. Acho que estamos focando errado e atirando em nós mesmos. Acho que jamais seremos livres culturalmente enquanto continuarmos procurando jaulas para nos apriosionarmos por opção própria.

Viva a Liberdade da Rua. Viva o Carnaval. Viva o Axé. Viva o Pagode!

Queria ser cantora para subir num trio com uma roupinha ordinária, cantar para uma multidão de bêbados e loucos por uma trepada. Eu queria muito ser estrela de trio elétrico.

É possível alguém realmente não sentir vontade avassaladora de ser feliz quando ouve uma música de carnaval?

Nós sabemos ser felizes!!! Isso me encanta!!!



6 comentários:

  1. Algumas pessoas estão tendo problemas para comentar. Vim aqui testar. Alô. Terra. Terra para comentários.

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  2. Ué, deu certo, Deixa eu ver aNõnimo, agora...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Arrasou Driquinha!
    Adorei!
    Vamos VIVER O PRESENTE!
    Só um povo tão lindo como o nosso, poderia ser o inventor de tão grande ARTE!
    Salve, salve a BAHIA!!!
    Salve, salve o Axé!!!
    Salve, salve Adriana Amorim!!!

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  5. pois é, estamos na era da reprodutibilidade técnica... e o axé é parte integrante e sintomática desse processo histórico... é impossível não margear seus rios e entender os contornos feitos no percurso...


    Adorei o texto. Fim ao Fascismo cultural que aliena e interdita... vamos apontar nossas setas para aquilo, como diz chico Buarque e Milton nascimento, "que não tem juízo nem nunca terá, e que não faz sentido"

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