segunda-feira, 7 de março de 2011

TRANSMISSÕES AO VIVO - O MAL DO CARNAVAL

Na tradicional feijoada de um amigo meu, rola de acompanharmos parte das trasmissões da festa momesca.

E cheguei à conclusão de algo que nos outros carnavais eu já desconfiava.

As transmissões são o mal do carnaval. Por uma série de motivos, mas eu tenho certeza que só vou lembrar de alguns:

1 - O desfile dos blocos passa a existir em função dos camarotes de transmissão (nem sei se é assim que chama). Além de passarem correndo onde não tem TV, eles ficam quase uma hora na frente das câmeras, ficam só batendo papo, um papo chato, vazio, bobo, coisa de Revista Caras (de novo!!!), um mela-cuecas insuportável. Quem está perto, mas quer pular o carnaval é obrigado a aturar esse chá de comadres.

2 - Os artistas querem por que querem criar um fato interessante. É uma forçãção de barra. Uma encenação mal feita (deviam pelo menos chamar artistas da cena para dirigir as aparições). Hoje Saulo no Campo Grande com seu filhinho batucando nas suas costas foi deprimente. O menino, coitado, visivelmente constrangido, com uma carinha de Justin Bieber, parecia que queria fugir dali. Mas, ia ser uma linda cena. Pensem: "Filho de Saulo Fernandes demonstra seu talento precoce". O menino morrendo de medo do povo no chão... E os encontros entre o cantor de camarote e o do trio?!?  Um saco. Todos querendo entrar para a história. Tudo pode entrar para a história a qualquer momento...

3 - Os câmeras e fotógrafos atrapalham quem quer ver o espetáculo em cima do trio. Ontem mesmo eu tentava ver Ivete e Luan Santana e a única coisa que vi foram os fotógrafos e câmeras. Um porre. É tanto técnico em cima do trio que nem Brecht dá conta de tanto distanciamento. A estrela do trio some para quem está ao vivo, porque o objetivo da encenação é o enquadramento da transmissão. Fica parecendo fotógrafo de formatura que sobe no palco para fotografar as formandas, destruindo a cena e a solenidade, como se eles não existissem. Atenção técnicos, eu tenho uma revelação bombástica pra fazer pra vocês: A gente vê vocês!!! mesmo vocês achando que são invisíveis.

4 - Buscando aparecer na TV os emergentes sem noção que têm algum amigo na produção do bloco, do artista ou da TV entopem o trio de gente e fica aquele cortiço em cima do trio, enfeiando tudo. Tá tão grave que tá feio até na TV, não só pessoalmente.

5 - A transmissão passa a ser o grande foco do desfile do bloco. Eu sei que eu já falei isso, mas eu quero dar um exemplo agora. Na saída das Muquiranas com Psirico aconteceu uma gafe danada. O Mudança do Garcia (terror dos blocos comerciais da segunda-feira porque 'atrapalha' o desfile) estava entrando quando Márcio Vitto solta a bomba: "Não tem porra de Mudança, nehuma, nós vamos entrar!" Ficamos todos passados com tanta sinceridade, assim na TV. Só depois descobrimos o motivo da coragem impressionante. Minutos depois ele diz ao microfone: "Agora, sim, agora estamos ao vivo na TV Bahia, vamos gritar Muquiranas" Perceberam? Ele não  sabia que estava sendo transmitida sua 'gentileza' para com o bloco de protesto. Depois, já ciente da transmissão, e acho que ainda sem saber que boa parte da Bahia tinha visto seu insulto, ele diz calmamente: "Vamos esperar o Mudança do Garcia passar". rará.. O bom do ao vivo é que pega essas contradições, essas coisas da vida real.

Bem assim foi alguma coisa que aconteceu na Barra, que deixou Bel puto da vida em cima do trio e no mesmo instante cortaram a transmissão. Até agora não sei o que foi e provavelmente jamais saberei.

6 - As entrevistas com o povo, os ditos repórteres fazendo as perguntas mais batidas para receber as respostas mais óbvias, ave maria, é muita ofensa à inteligência do povo. "O que você tá achando do carnaval?" "Tá se divertindo?" "- Não, Tô aqui pra pagar meus pecados!!!", meu Deus. E fica aquele povo com uma alegria mentirosa, uma encenação de felicidade, tão desnecessária. Porque estamos, sim -  muito provavelmente - felizes alegres e tal, mas na TV tem uma simulação da felicidade real que é tosca e opaca.

7 - E a tirania da comédia? Tem que ter um personagem engraçado? Os jornalistas têm que ter timing de comédia, tem que ter a melhor tirada, a piada certa? Que cansaço...

Eu acho que de tão batido este modelo vai ter que se repensar. Acho mesmo que se é para ter isso, se não tem mais volta, vai ficar esse show de celebridades, que pelo menos chamasse um diretor de cinema ou teatro ou TV para dirigir as entradas.

FERNANDO GUERREIRO, LUIZ MARFUZ, vocês que são grandes diretores de teatro, que entendem de cena e que têm trânsito entre estas pessoas, proponham uma organização cênica e visual em cima do trio, é um mangue aquilo. Tirem aquele bando de amigo-do-amigo-do-amigo-do-amigo que fica em cima do trio principal, botem todo mundo no carro de apoio, nem que tenha que ter carro de apoio 1 e 2, para ter onde medir a hierarquia. Mas organizem aquele palco que é um lugar tão sagrado e tão lindo. Tirem essa gente que não tem nada a ver com o universo mágico e sagrado do nosso profano carnaval.

Bom, tinha mais algumas coisas, mas eu esqueci e o post já tá grande demais. Um não gosto de post grande, muito menos no carnaval.

Lembrou de algum mal da transmissão ao vivo? Bota aí.

Não deixe de ler os posts sobre carnaval no meu outro blog: http://www.futeboldeartista.blogspot.com/, ou em outros posts logo aqui em baixo. Ainda vale a pena comentar:



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5 comentários:

  1. Drica, adorei seu post sobre os camarotes...Eh assim mesmo que eu vejo, concordo em todos os sentidos contigo (apesar de ganhar blusas de vez em quando e usufruir dessa "boa vida")
    Mas, ~vc fala como alguém que nunca foi, eu falo como alguém que já foi, comeu, bebeu, dançou e ficou puta da vida em ver as dondocas no salto parecendo realmente que n estavam no CARNAVAL DA BAHIA.
    Mas o melhor de tudo isso, é que eu, enquanto foliã desde pequenina (sendo arrastada por minha mãe todo ano), não ligo a mínima pra esse povo de salto e danço, danço, danço dentro ou fora do camarote.Danço em camarote, dentro ou fora da corda, atras de Margareth, Daniela, Psirico, Chiclete...Enfim, eu danço pra "p" em todo carnaval.
    Aliás, de tanto dançar estou com calo nos pés, e tive que ficar hj em casa...
    kkkkkkkkkkkkkkkk
    Bom carnaval meu amor!!!

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  2. Vc é badogueira, Carlinha, independente do lugar... kkkkk. Obrigada pela participação.

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  3. Amore, eu não duvido que Pernambuco, Rio, Bahia e Brasil fazem a maior festa de rua do mundo. Mas, obviamente, o carnaval do Rio e da BA têm uma visibilidade muito maior, pq as estrelas que fazem esses carnavais acontecer estão durante todo o ano, na mídia, apontando para esses lugares. O que produz no brasileiro um desejo enorme, e justificável, de fazer parte dessas festas.

    O carnaval de PE, no entanto, segue firme, regado a um ritmo 'folclórico' que só é executado durante a festa, sem nenhum hit de verão - ao contrário, com as mesmas músicas executadas há décadas - sem divas. E isso não é um juízo de valor, uma tentativa de estabelecer uma competição, mas faz parte do argumento.

    Este ano, assistindo à transmissão na TV, eu tive certeza que a festa pernambucana não encontrou uma tradução visual devida. Pq? Enquanto o carnaval da BA tem no trio sua estrela maior - o trio com sua visão 'de cima para baixo', vertical -, e o carnaval do Rio tem no carro alegórico, nos camarotes - duas estruturas tb 'verticais' - e nas divas suas estrelas. O carnaval de Pernambuco é horizontal, é chão, é todo mundo junto.

    Assistir à transmissão da TV em PE é hilário pq os repórteres ficam, ora protegidos nos desinteressantes camarotes das TVs - distantes do que acontece no chão; ou quando descem ao chão, cercam-se de seguranças, desfazendo o princípio básico da folia daqui que é o corpo sem fronteiras, sem limites, comunal, COLETIVO!!!!!!!! hehehe (piada interna)

    No entanto, de uns anos para cá, o mercado do camarote, das celebridades, da vitrine carnavalesca vem invadindo a festa daqui. Se vc vir o camarote da Globo no Galo da Madrugada, é uma coisa faraônica!!!!!! E eu lamento que a TV só saiba "VER" esse carnaval, dos globais que passam 3h na cidade, fazendo presença VIP e recebendo cachê para isso. E deixando a nós, pobres espectadores, privados da festa de verdade que é feita pelo povo no chão!

    O que nos resta? Conferir 'in loco' o babado, o que eu adoro fazer. heheeheheheh Ácho que escrevi demais, será que me fiz entender? Em resumo, concordo que é um saco esse carnaval 'para as lentes'. bjsssssss

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  4. Rodrigo, ler seu texto é como ver você falando na sala de aula. Que delícia. COncordo com tudo o que vc diz e mais uma vez me encanto com sua sensatez e dua delicadeza de olhar, de dizer e de sentir. Eu tinha umas birrazinhas com o carnaval de Ricife... achava folclórico demais. Mas assim, descrito por você desta forma, sabe que é capaz de um dar um pulo aí? E ainda por cima ficar hospedada em sua casa... rsrsrs. Adorei a visita, espero recebê-lo mais vezes. Saudade, amigo.

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  5. Saudades, amore! Venha s'imbora que vc vai amar a festa daqui, especialmente se trouxer as crianças. bjssssssss

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