Hoje é dia do teatro e do circo e, obviamente por conta do perfil deste blog, me sinto obrigada a escrever sobre o tema, sobre a data, sobre isso.
E talvez começar pela sensação de ser obrigada a escrever seja um importante revelador da minha relação com ele, o teatro. Não me sinto motivada, ou inspirada ou mesmo animada para a tarefa. Mas, repito, me sinto obrigada.
Obrigada, porque esta sensação estranha de distanciamento (não necessariamente o brechtiano) do palco e da platéia não diz respeito a um distanciamento do teatro enquanto universo. Eu tenho uma relação com este mundo e não posso me omitir de falar sobre ele hoje.
Acabo de ser aprovada num concurso público para ser professora de teatro e como se não bastasse, professora de dramaturgia, olha que coisa mais radical. Além do mais faço doutorado em Artes Cênicas e o teatro sempre fez e faz parte da minha vida, mesmo quando pareça que não. Minhas aulas, de qualquer coisa que eu ensine, sempre serão um espetáculo, mesmo que eu tente me controlar, buscando não parecer professor de cursinho, mas não tem jeito, vira e mexe a turma gargalha...
O que me incomoda um pouco na relação recente com o teatro, é que tenho sentido que o uso de seu termo, de sua compreensão ficou restrito demais. Gosto de ir ao teatro, de ver uma boa peça, do ritual de encontrar pessoas conhecidas, de colocar blusa de frio, de fazer silêncio, ficar no escuro, ouvir os sinais, desejar bom espetáculo para quem me acompanha, escolher para onde olhar, acompanhar a entrada de tantos signos, imaginar a sequência, descobrir que me enganei, ser surpreendida, gargalhar, me emocionar, querer estar lá, enfim, todas estas sensações me agradam. Mas, eu ainda insisto que teatro é mais, é muito mais.
Acho que nosso teatro fala para si, acho que os artistas produzem para si mesmos e ali mesmo eles se autoavaliam e quando não, avaliam as peças que vêem do ponto de vista de como eles teriam feito. Acho que ficou um mundo pequeno demais, quando a ideia é ampliar o mundo, seu tamanho, sua dimensão, suas possibilidades. E todo mundo já sabe o que eu acho da velha ladainha de que o público é que é o vilão...
Mas, eu não estou falando mal do teatro no dia do danado. Não!!! Pelo contrário. Eu acho que o teatro é maior do que estamos fazendo. Quando vou pensar num projeto que desejo realizar sempre me pergunto se não estaria fazendo mais do mesmo. Refazendo aquilo que tanto critico. Mas, me dou conta de que ainda não sei o que é este teatro que imagino e desejo e preciso. Ainda não sei fazê-lo e nem o visualizo. Só sei que ele é bem diferente do que tenho visto.
Claro que muitas produções e estilos podem se aproximar do que busco. Teatro de Rua, Teatro Esporte, Teatro Oficina, Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, mas penso que é mais do que uma questão de estilo, é um questão vital, conceitual, espinha-dorsal (gostei dessa rima!).
Quero, neste 27 de março, celebrar o teatro que existe nos palcos e para além deles. Não é só dizer que a vida é uma peça de teatro, ou que representamos o dia todo, nada disso.
É dizer da festa, do jogo, do teatro feito mesmo para alguém olhar, mas que também existe para ser encontro, diálogo, comunhão.
Quero celebrar o teatro que há no futebol, nos desfiles de moda, nas procissões, no carnaval, nas guerras de espada.
Se o teatro não couber mais (e de novo, posto que já não coube) em cima de um palco, que estejamos abertos a que ele se faça através de nós.
Que estejamos abertos a reconhecê-lo, posto que ele não morre, não pára, não se esconde e nem se exibe.
Ele está aí. Basta olharmos e admirarmos. Basta deixarmos que ele nos faça enquanto o fazemos, pois eu tenho plena certeza de que ele me constrói mais, muito mais, infinitamente mais do que eu o realizo.
FELIZ DIA DO TEATRO!!!
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Minha querida, de qualquer forma dia 27 de março é um dia simbólico para quem vive de questionamentos, para quem bem e come arte e suas mais variadas possibilidades...É o seu, o meu dia...O dia de quem faz e não de quem espera...E fazer também tem suas variadas possibilidades...Você faz todo dia...
ResponderExcluirTive aqui. Beijos, Drica.
ResponderExcluirPega o último frasquinho de perfume e milimetricamente, enquanto fala, derrama no álcool, enquanto fuma o charuto.
ResponderExcluirVirgínia. E o amor, ele nunca pode ser gélido! Nunca... Ele é sempre quente, inflama, e às vezes, ele rompe os limites cíveis, ele rompe os preconceitos. Ele está aí para ser vivido, para superar tudo. Dentro de cada um de nós, existe uma essência. Um perfume próprio. Nem sempre sentimos o cheiro dele, vez ou outra, nos é mostrado esse cheiro, ou nós mesmos descobrimos como o passar dos anos, nossa tal essência. O amor... Ele é o tempero final. Ele cela o que há de melhor em cada nota, em cada fragrância que é misturada dentro da gente. Ele torna tudo mais duradouro, mais suave, mais envolvente.
Coloca o charuto num canto. Derrama gradativamente o álcool pelo seu corpo. Todas ameaçam agir, mas voltam a seu lugar.
Virgínia. Eu quero sentir eternamente aquilo que há de bom em mim. O que há de ruim também, os tons amadeirados, os cítricos, os doces... Ah... Esses são sempre os melhores... Se sente de longe! E como a essência é única, assim como o amor de uma vida. Que a lascividade das chamas espalhem pelo ar, que a alma sinta o que ficou, e brevemente ele vai sumir... Mas, que seja eterno enquanto dure!
Pega o charuto e fuma seu último trago! O sol invade a janela e se mistura as chamas!
Cai o pano!
(Trecho de uma peça minha: VIRGÍNIA)
Talvez reflita o que tocou em mim de seus versos.
Beijos,
Tássio
Amigos, cada um um jeitinho de me ser gentil. Marcelo, concordo com o conteúdo e a poesia de sua constatação simples e doída de tão bela. Obrigada por me lembrar que faço teatro toda hora. Beto, parceiro. Que bom te receber. Tássio, menino dramaturgo, nada melhor do que receber de um amigo o que ele tem de melhor, seu melhor cheiro, sua melhor essência (que coisa estranha de se dizer). Fico feliz e contemplada com a participação de vocês, aqui, no facebook no orkut, nas esquinas. Fico mesmo emocionada, porque queria ter escrito um texto forte, contundente, mas só tive gás para este aí que está sendo tão delicadamente bem recebido e comentado. Que o amor paute nossas conversas, debates e quereres. Eu amo vocês que amam teatro. Eu amo o teatro que vocês fazem.
ResponderExcluirFiquei envolvida em palavras torrões de açucar que se desfazem na imensidão lutando contrar o amargor das coisas da vida!
ResponderExcluirAdorei conhecer o seu blog e ver algumas das idéias e reflexões que vivem ou passam na sua cabeça. Tudo de bom pra vc e agora que encontrei o caminho voltarei sempre. E viva o teatro sempre.
ResponderExcluirItâs really a nice and helpful piece of information. Iâm glad that you shared this helpful info with us. Please keep us informed like this. Thanks for sharing.
ResponderExcluirpaxil