domingo, 8 de maio de 2011

RETORNE, QUE EU DOU UM TOQUE - O teatro como 'o que' ou o teatro como 'onde'

Ontem fui assistir à estréia do espetáculo DÁ UM TOQUE QUE EU RETORNO com texto e direção de meu amigo, já citado aqui neste blog, REGINALDO CARVALHO.

O evento aconteceu no ESPAÇO CULTURAL RAUL SEIXAS - Sindicato dos Bancários. Obviamente eu fui pensando em escrever para o blog sobre o espetáculo, no VI E QUERO COMENTAR. Mas, o bom e o ruim de blog é que o post nunca é aquilo que a gente planejou que fosse. Ele sempre se vira para onde quer e por mais que esforcemos nosso olhar em uma determinada direção, eis que o olho do post olha para outro lado.

E antes de falar do teatro que vi, quero falar do teatro para onde fui.

Sim, quero falar sobre isso, porque esta peça está em cartaz neste espaço por falta de opção de pauta, problema que tem aterroizado as produções de teatro de Salvador. Quer fazer uma peça? Ah, meu filho, planeje, ensaie até a morte e só estréie (é assim?) no ano que vem, porque pauta, não tem!!!

Mas, eis que Reginaldo Carvalho é um obstinado e conseguiu esta pauta no Raul. Ora, chegamos ao contraditório da questão. O Raul não é um teatro, é um espaço cultural. Digo que não é um teatro porque como tal, não oferece boas condições para abrigar espetáculos de teatro, por vários motivos. Agora vem a contradição: Eu mesma fiz uma apresentação do SOLO COMPARTILHADA lá. Cuspindo no prato que comeu, minha querida? Não, apenas tocando em assuntos que merecem nossa atenção.

Sei dos planos do espaço, porque sou colega de Cooperativa da batalhadora Diretora Artística do espaço, Alda Valéria e amiga de seus assessor Frank Magalhães e acho que é importante tocarmos nas questões-chave. Se existe - e me parece que há - a intenção séria de tornar aquele espaço um local que abrigue peças de teatro com frequência é preciso que o espaço seja preparado para tal. Quem não lembra das primeiras aulas de teatro (ESPAÇO PREPARADO PARA O OLHAR)?

Ainda que tenhamos um modesto palco e um espaço onde são colocadas cadeiras para o público, ainda que haja iluminação e sonorização, um teatro requer um tratamento mais cuidadoso. Esteticamente falando. Digo isso porque a entrada do Sindicato não foi preparada para o evento. Continua sendo a entrada de um sindicato. Papéis sobre o balcão, seguranças assistindo televisão ao lado da fila da improvisada bilheteria, sem espaço para sentar, sem acesso fácil aos banheiros, enfim, alguns obstáculos que poderiam - me parece - terem sido facilmente contornados, caso o espaço se dedicasse a isso. E se é esperado que outras produções estreiem, há que se fazer uma mudança estrutural e procedimental ali. Não basta chamar os artistas para levarem seus espetáculos para lá, chamar o público para assistir e dar em troca apenas o básico: palco, luz, som e cadeiras desconfortáveis organizadas sem revezamento para uma boa visualização.

Sei que estou sendo radical e que quando nos falta espaço para estrear qualquer coisa vale, mas é justamente contra este pensamento que eu quero ir.

Não é porque nos faltam espaços que temos que nos conformar com o qualquer coisa que nos oferecem. E o Espaço Raul Seixas com esta importante iniciativa de tornar-se mais um espaço de teatro na cidade tem que se dedicar a isso. Imagino que seja uma luta para Alda, Frank e sua equipe porque talvez seja difícil convencer o sindicado das necessidades reais de um espaço para teatro. Eu disse talvez, porque eu não sei de nada, nem fui lá pesquisar. Tô aqui falando de puro achismo, até porque aqui é um post de blog e não uma reportagem.

Enfim. Foi isso que me deu vontade de falar a princípio.

Agora sim, falemos do espetáculo.

Esta não é a estréia de Reginaldo Carvalho. Ele já havia dirigido o espetáculo O PLANO Z, infanto-juvenil com manipulação de bonecos que ficou em cartaz no SESI Rio Vermelho. E também dirigiu muitos espetáculos nos diversos cursos que ministrou durante muitos anos (e ainda ministra), em nível superior, básico e mesmo em pós-graduações, sempre ensinando arte.

A diferença é que este espetáculo de infantil e pedagógico, aparentemente, tem muito pouco. Digo aparentemente porque ele, apesar de não ser didático, ensina muito. Qual teatro não o faz?

É um tema adulto, com atores adultos e com uma ousadia e coragem de todos do grupo PORRA MEU BEM que chama atenção pelo desconserto que causa em muitas de suas cenas. Exatamente por isso foi tema de toda a programação de rádio em Paulo Afonso, onde foi apresentado no mês passado, deixando a população pacata, careta e quase toda cristã simplesmente HORRORIZADA. Em Senhor do Bonfim, cidade do diretor e de uma das atrizes causou menos barulho, mas acredito não menos escândalo.
A peça é um musical falando de relações entre pessoas - homens-mulheres, homens-homens, mulheres-mulheres, homens-mulheres-homens, e por aí vai... A dramaturgia tem inspirações diversas que vão desde uma crônica do primeiro livro de Jean Wyllys - AFLITOS, até as letras-poesias de Tom Zé, passando pelo Livro do Gênesis (é, o da Bílblia), Manuel Bandeira e depoimentos dos próprios atores.

Aí, antes de comentar o espetáculo em si, quero trazer a razão do título. O espaço prejudicou muito o espetáculo. Uma porque a platéia fica muito desconfortável e o ângulo de visão não é bom na maioria dos lugares. Outra porque o palco é pequeno demais para tanto elemento. Os signos não conseguiam se sobressair do fundo - porque este praticamente não existia - e nada era a si mesmo, tudo estava sempre misturado com muitas outras coisas, o que provocava constantes ruídos.

Os músicos - Yan Schettini (jovem talentosíssimo atuando com diversos instrumentos), Cláudia Vasconcelos (cada vez mais afinada e ousada nas interpretações, acompanhada de seu pandeiro suave e contundente) e Carlos Capieli (um grave mestre das cordas) - ficaram escondidinhos atrás de uma tela que os revelava e os escondia. No que restava do pequeno palco, cinco atores disputavam espaço com uma escada doméstica tamanho médio, banquitos tamanho pp e uma infinidade de elementos que entravam e saiam com as mudanças de cena.

Assim, penso que num teatro com palco maior (ainda que não seja italiano) as cenas poderão ser vistas e sentidas com mais clareza e com mais autonomia do fundo. Os signos do ator - figurino e maquiagem - ficaram confusos naquela profusão de elementos de cenário.

Mas, voltemos ao teor PIERPAOLOPASOLINIANO da dramaturgia e da encenação que espantou os PAULOAFONSENSES.

Fugindo de sua tradição pedagógica, Reginaldo parece querer nos gritar: NÃO SOU SÓ PROFESSOR DE TEATRO, SOU ARTISTA! (Vocês sabiam que Frida Kahlo era professora de arte?) Isso significa dizer que ele quer - e sabe - fazer coisas que jamais seriam feitas em (ou para) sala de aula. Temas polêmicos, textos escancarados, nus, beijos e bundas desfilam pelo palco durante pouco mais de uma hora. Tiradas sobre o ofício do povo de teatro também ganham espaço.

O grupo de atores, até onde eu sei, não é dos mais experientes. Mas leva para o palco suas inquietações, seus desejos, suas fraquezas e sobretudo, indiscutivelmente, sua coragem. Em alguns momentos me peguei me perguntando: Será que eu faria esta cena? E vi que há tanto no elenco quanto no diretor e em seu co-diretor Diego Valle, não uma vontade de chocar por chocar, mas uma vontade de dizer algo e, sendo este algo chocante, não fugir dele. E tem uma pegada que deixa a platéia naquele limbo: É PARA RIR OU SERÁ QUE É SÉRIO? A cena CUIDADO: CONTÉM GLÚTEO deixa um silêncio que até a mais pacata e ortodoxa igreja ficaria com inveja.

Eu vejo alguma imaturidade cênica, muita ingenuidade até. Algumas soluções repetidas, algumas propostas de cena que, a meu ver, não se concretizam, e uma insegurança no elenco que atrapalha um pouco. Ora, era estréia, né, e sei dos muitos percalços pelo qual o grupo passou e passa para botar esta peça em cartaz sem nenhum patrocínio ou mesmo apoio consistente. Mas, não posso falar deste espetáculo com este 'senão', isso seria desmerecê-lo e desconsiderar o potencial que ele tem. Acho que algumas cenas podem ser repensadas (é muito desaforo, né gente...Deve ter gente querendo quebrar o computador perguntando quem eu acho que eu sou... paciência. Adoro!) Acho que os atores vão se acostumar às cenas difíceis que têm que fazer, quanto mais as fizerem. Acho que eles merecem um espaço onde o espetáculo de fato aconteça como provavelmente ele foi pensado.

O que ele tem de mais relevante, para mim, é esta insistência e ousadia, não só do ponto de vista da temática, mas do ponto de vista da criação. É um belo espetáculo, recheado dos mais diversos signos teatrais, das mais diversas possibilidades de leitura, de uma leveza e alegria e de um apreço com quem faz e com quem assiste. Um espetáculo feito à moda antiga: sem edital, sem lei de incentivo, sem dedicação de outros, sem cobranças e sem ofertas...

Não existe um plano pós ali. Não existe um PLANO Z, neste novo espetáculo de Reginaldo Carvalho. Não existe uma proposta de mudar o mundo ou de inventar um novo modo de fazer teatro. Ao contrário, é tão pra trás que me remete às loucuras desse povo raciado com o já citado Pasolini. São os Doces Bárbaros, os Novos Baianos da vida, esse povo que só queria mesmo era dizer aquilo que tinha pra dizer. Só isso, sem 'ismos', sem 'dades', sem motivos para além dos próprios motivos de dizer.

Um viva ao elenco corajoso e dedicado - um aplauso um pouco mais caloroso para a presença cênica e segurança de Xandra Andere que puxa os olhos do espectador para onde quer que se mova. Não que com isso eu deva me esquecer da dedicação e potencial da jovem Esdra Tâmara, da comicidade claunesca e voluptuosa de Taíza Teixeira, da presença e verdade de Rony Ery e da precisão matemática e de André Laws (como no belíssimo momento  de Vicente Celestino).

É bom lembrar também que tem uma galera Fino-Trapiana na produção, como o querido YOSHI AGUIAR no cenário e luz e a multifuncional POLIS NUNES na maquiagem. O figurino é da atriz Esdra Tâmara.

Bom, batido o recorde de maior post deste e talvez de muitos blogs, despeço-me dizendo que para falar de amigo a gente se permite até se contradizer e se expor um pouco mais. Chega de silêncio educado que esteriliza as relações, que aborta criações e que instaura uma paz falsa e improdutiva. Por isso mesmo, sintam-se a vontade para discordar e me detonar aí nos comentários. Se não quiser e preferir falar por aí, nos corredores, não tem o menor problema. Falemos! Façamos!


FICHA TÉCNICA
Texto e Direção: Reginaldo Carvalho
Codireção e preparação de atores: Diego Valle
Elenco: André Laws, Esdra Tamara, Roni Ery,
Shandra Andere e Taiza Teixeira
Músicos: Cláudia Vasconcelos, Capiele e Yann Schettini
Direção Musical: Yann Schettini
Assessoria de movimento: João Rafael Neto
Preparação Vocal: Mariana Bittencourt
Cenário, adereços e luz: Yoshi Aguiar
Figurinos: Esdra Tamara
Maquiagem: Polis Nunes
Realização: Grupo Porra Meu Bem
Produção: Bruna Mota e Grupo Porra Meu Bem


SERVIÇO:
O que: Espetáculo “Dá um Toque que eu Retorno”
Quando: Todos os Sábados de Maio/2011
Horário: 20h
Onde: Espaço Cultural Raul Seixas - Avenida Sete de Setembro
Preço: Inteira R$ 10,00 e Meia R$ 5,00







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13 comentários:

  1. Cara Adriana Amorim,

    De início não comentaria seu comentário. Mas inquieto como sou, refleti acerca do nosso fazer teatral. É a primeira vez que apresento em Salvador e faço Teatro há vinte anos.
    Me sinto bem em fazer o que gosto e não acho que somos desprentenciosos... pois - falo por mim - temos a pretenção de nos mover pelo menos para os lados e não para trás como disse.
    O teor inacabado da peça não tira seus méritos e ao contrário, reforça a postura de Atores de Senhor do Bonfim, Salvador e São Paulo em não aceitar uma cultura do teatro soteropolitano.
    Ingênuos? essa leitura para mim é no mínimo ingênua também. Não sei mas é.
    A ilusão, as dores e um muito de coragem é que nos move.
    Deixo claro que é a primeira vez que me sinto motivado a dar uma resposta formal para uma Obra de Arte. Contudo gostei que você tenha feito o comentário com franqueza e a mesma está sendo devolvida por mim.
    A essa altura do campeonato gata o que realmente precisamos é de apoio financeiro para continuarmos com nossa ingenuidade que é uma delícia.
    Gosto de poder me eexpressar "livremente" sobre o assunto. Mas o que importa mesmo para mim é a MERDA de fazer TEATRO. Seja "onde" ou como for. Rony Ery - ator do espetáculo 'Dá Um Toque que Eu retorno.

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  2. Rony, obrigada pela visita e pelo comentário. Só esclarecendo, quando digo que não há pretenção de fazer um novo teatro, ou que a peça anda pra trás, não foi no sentido que me parece que vc está debatendo, como se fosse um defeito, muito pelo contrário. Olha eu precisando exercitar minha escrita para melhorar as expressões. Porque muito se tem feito com o objetivo específico de mudar o mundo, ou o teatro ou a cultura ou sei lá o que. Mas efetivamente, na maioria das vezes quem o faz (muda algo) não tem esse como maior objetivo. Fez o que queria fazer e isso mudou algo. E quando digo 'para trás', eu me refiro a estéticas do passado, corajosas, de vanguarda, ousadas, das quais eu confesso que sinto muita falta. Vendo material dos doces bárbaros, que cito no post, ou TV Pirata, por exemplo sinto que estamos muito caretas e muito rendidos a um determinado modo de operar e considero que a forma que vocês tratam os temas e de constróem as cenas segue um pouco neste sentido. Não estou defendendo um teatro soteropolitano que eu nem sei o que quer dizer exatamente, em termos estéticos. E ingenuidade para mim não é desmérito, mas digo novamente que algumas soluções cênicas, a mim soam ingênuas. Mas, enfim, só opinião, nada mais. Espero realmente que o financiamento apareça e que o espetáculo tenha vida longa e que vocês e todos nós possamos alimentar essa fome incensante de fazer teatro que nos consome tanto.

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  3. Adri,

    Vc é cão. O seu texto é muito bom, acho que vc toca em questões que vão muito além do espetáculo em si e são questões difíceis, porém necessárias de serem ditas/pensadas/escancaradas (espaço para teatro em Salvador).
    Quanto ao espetáculo também toca em questões importantes de serem pensadas e avaliadas pelo grupo, pela direção. Considero uma grande contribuição. Porém, acho um pouco contraditório quando você diz que o mesmo é por um lado ousado e por outro ingênuo. Verdadeiramente acho que temos váaarios problemas de várias ordens, mas não considero em nenhum momento que as opções e caminhos encontrados sejam ingênuos, não sei se é uma boa definição, se puderes esclarecer melhor seria massa.

    Um beijo, te adoro sua chata.

    Cláudia Vasconcelos

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  4. Adriana,aqui estou eu na mais ingênua ousadia a comentar o seu comentário e o de Roni e Cláudia.A dificuldade em aceitar este comentário é perceber que ele está talvez fora do lugar...lendo-o foi possível visualizar aqueles doutores em qualquer coisa avaliando os míseros universitários em suas defesas(que diga-se de passagem-o nome deveria ser mesmo era simples acusação.)Mas a sua crítica tornou-se bárbara justamente por ficar nítido uma vontade de dizer assim"eu achei ótimo,mas não foi ótimo!" ou simplesmente "foi perfeita embora faltasse muita coisa pra ser melhor!"Aí quem nunca assistiu se pergunta"eu irei assistir algo do qual já foi dito "por alguém que viu" que está com tantos defeitos,apesar das qualidades?Acho que não ,vou esperar estes atores criarem mais maturidade,encontrar uma pauta em um teatro Italiano ou Japonês..e aí então valerá a pena prestigiar.
    Esta acredito ,é a razão que incomodou Roni e Cláudia..eles estão agindo como os alunos diante do professor tentando dizer assim ...ah meu mestre se tivéssemos mais tempo,dinheiro,espaço,a gente teria tirado 10 e não nove e meio...E aí eu digo com sinceridade que vc está assumindo a postura de mais de que uma espectadora da arte...mas uma consertadora da mesma..por que se "Dà um toque ,que eu retorno for escutar mesmo o que voce disse,e se fosse uma pintura em tela...coitado do criador,a esta hora estaria 'xingando cada gota de tinta" e tem mais...depois de ler teu comentário é preciso fazer uma sábia separação entre o joio e o trigo pra ter vontade de assistir.As palavras minha querida são flexas lançadas sem alvo certo mas dependendo de onde acertem pode ser mortal.Não sei se vc é professora mas saiba que "procurar pelo em ovo é arte que muita gente busca só pra contrariar."Ou por não saber do que falar...quero lembrá-la ainda que na etimologia da palavra "ingenuidade" não há mesmo muita abertura para melhores interpretações...a não ser que você esteja fazendo uma academica referencia ao "Bobo da Corte"...E eu não quero de jeito nenhum te pedir pra "ver melhor" por que senão ninguém vai poder mais retornar quando alguém der um toque...talvez por falta de crédito...Mas finalizo dizendo que teu comentário se tornou mais bárbaro do que dos horrorizados cristãos paulo Afonsenses e Bonfinenses,pois estes parecem ser mais verdadeiros por que expressaram o que realmente sentiram e não o que estudaram.Era só isso...como o próprio Raul Seixas,que dá nome ao espaço disse.."Você sabe as respostas das perguntas,aprendeu tudo enquanto estava mudo,resolveu as equações que não sabia"E se Reginaldo se esforçou tanto pra fazer um teatro não escolar esqueceu da platéia que continua com suas cadernetas de notas debaixo do braço dizendo o que está certo ou errado...conseguindo dizer até que na sua peça existe uma imaturidade ingenua bem sábia e madura!Sou Anastácia,desconhecedora de Frida Kahlo mas espectadora da arte como arte e não como prova pra passar no vestibular.

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  5. Cláudia e Anastácia. Obrigada pela visita e participação. Desculpem-me pela demora em responder, o blogger estava fora do ar, e eu, de certa forma também... Cláudia, como já conversamos pessoalmente, a ingenuidade de que trato é em relação a algumas soluções cênicas que preferi falar para o próprio diretor, por achar mais adequado, do que ficar mexendo no que não é meu. Sobre os comentários de Anastácia, eu entendo boa parte deles, mas acho que estão direcionados para a pessoa errada, para o texto errado. Eu não falo em nenhum momento como 'doutoranda' que supostamente sabe tudo. Falo com muito sentimento e apreço pelo grupo, mas falo com sinceridade, só isso. Quando li seu texto, juro que voltei ao post porque achei que tinha escrito algo diferente do que eu achava que tinha de fato. Eu GOSTO da peça e teço muitos elogios a ela, comparo o trabalho da galera com grandes referências e faço isso numa boa, como gente, não como doutoranda (kkkk). A referência a Frida foi numa tentativa de mostrar que artistas-professores existem, só isso. Sou professora, sim, e sei do poder das palavras ditas e das silenciadas. O grupo é adulto e tem condições de ler um comentário favorável, com algumas observações pessoais de quem vê, faz e adora teatro. Nada mais que isso. Mas, repito, agradeço a participação e foi importante ler suas palavras. Espero tê-la como leitora e comentadora do blog mais vezes. Participações assim são o sentido ao meu trabalho. Vida longa O DÁ UM TOQUE!!!

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  6. Caramba, Drica, bafão! rsrs

    Então, não vi o espetáculo ao qual todos os posts estão se referendo, mas dentre todos os comentários o que me chama a atenção é a falta de espaços para espetáculos em Salvador. Parece assunto batido e chato de se tocar, mas minha trupe (Nossos Trecos - Trupe de Teatro) está com um espetáculo (LARISSA E SEUS AMIGOS MÁGICOS) que acabou de completar 3 anos de batalha e de sucesso - graças a Deus! (se não fosse sucesso não completaria aniversário, rsrs). Mas enfim, na trupe estamos com novos projetos, pensando outros espetáculos, mas já está virando um pânico pensar em iniciar um processo e não ter um lugar digno para estrear. Digo digno porque, por experiência, já trabalhei como ator e também como diretor em alguns espetáculos com apresentações nos mais inusitados lugares e com o mesmo espetáculo e tenho plena certeza: o espaço compromete e modifica a qualidade do espetáculo sim! Ontem ví Namíbia, não! no Teatro Martim Gançalves. Eles têm toda uma estrutura maravilhosa de cenografia - nem vamos falar de interpretação de ator ou concepção de cenas - mas vamos nos ater ao cenário mesmo, por exemplo. Imaginem, quem viu a peça, aquela estrutura no Raul Seixas ou em qualquer outro espaço que sabemos ser lugares onde as peças precisam ser feitas especialmente para aquele contexto, caso contrário, abramos mão de todo seu confete, porque espetáculo bom, acredito, alcança emoção da platéia a qualquer tempo ou lugar, mas a beleza, digo, a acomodação cênica muda muito! O que podemos fazer para que sanemos o problema da falta de pautas nos nossos teatros? Não sei. mas me alegra o fato do ponto de vista positivo - A cidade está ficando pequena pra tanta produção de teatro! Um beijo Drica! Adorei participar do seu Cybercantinho. Jel

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  7. POr Jotacê Freitas – poeta e professor

    Num momento em que conflitos morais estão ressaltados por causa da liberação do casamento gay, nada mais recomendado do que ir assistir ao espetáculo “DÁ UM TOQUE QUE EU RETORNO” no Teatro Raul Seixas, na Av. Sete, sede do sindicato dos Bancários, aos sábados, a partir das 20:00h.

    A comédia não é homo erótica, mas aborda com bastante escracho os conflitos entre gêneros e diversidade sexuais. No fundo, os antigos conflitos entre aqueles que decidem conviver sobre a mesma cama e sob o mesmo teto, independente da orientação sexual.

    Encenado pelo grupo “PORRA MEU BEM’, composto por Rony Ery, Shandra Andere, Taíza Teixeira, Esdra Tamara e André Laws (Magrão); acompanhado musicalmente por Cláudia Vasconcelos, Capiele e Yan Schettini; escrito e dirigido por Reginaldo Carvalho e co-dirigido por Diego Valle, a peça diverte ao mostrar uma falta de pudor e respeito ao que nos acostumamos a chamar de amor. Num diálogo aberto e direto com o público, os personagens se apresentam de forma visceral revelando intimidades inconfessáveis em público, mas que no fundo todos já vivenciaram ou sabem de alguém que as vivenciou. E aí a empatia toma conta do espetáculo.

    A começar pelo título, Dá um toque que eu retorno, jargão utilizado pelos usuários de aparelhos celulares que geralmente não têm crédito e abusam desse recurso para se comunicarem com amigos e amantes, a peça se mostra antenada com a contemporaneidade, relatando inclusiva um sonho em que há uma relação amorosa entre uma mulher e uma máquina. Nesta cena, uma hilária metalinguagem ironiza o gosto dos críticos que odeiam fumaça em cenas de flash-back.

    CONTINUA

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  8. CONTINUAÇÃO - JOTACÊ FREITAS

    Cena a cena os temas são abordados quase que didaticamente acompanhadas de uma excelente trilha sonora executada ao vivo com base na obra de Tom Zé, propagando que o amor é egoísta. As maiorias das cenas cantadas pelo elenco ou o grupo e que terminavam com uma música eram aplaudidas com ênfase, exceto a cena em que todos mostram a bunda para a platéia, teve música, mas faltou um ‘tchan’, de ambos os lados, não das bundas, mas do elenco e da platéia.

    Destaque para as cenas “Perebas do amor”, em que é resgatada o clima da Era do Rádio, com o locutor animado e acompanhado por um coro bem afinado, merecia ser mais explorado utilizando outros participantes, pois, apesar da boa dublagem de Vicente Celestino, a cena demorou muito e confesso que cochilei, destoou do furor furuncular do locutor; e a cena da conjugação verbal e hipocondríaca, no tempo certo, levando todos ao clímax da gargalhada.

    O autor do texto se utiliza de citações de autores consagrados, como Manuel Bandeira, Gabriel Garcia Marques e autores bíblicos, para reforçar seu discurso em favor do sexo despudorado e sincero repleto de experiências e possibilidades, inclusive prestigiando a terceira idade numa das cenas mais poéticas da peça.

    Pois é, o espetáculo não tem só sexo, o amor é apresentado poeticamente numa cena em que o amante escreve no corpo da amada; e em uma cena em que as amantes, literalmente, passam o rodo no ‘macho’ limpando-o das impurezas da mentira.

    Ouvi queixas de algumas pessoas na platéia sobre a apelação da nudez dos atores e não concordo. Houve adequação e necessidade da exposição para melhor ilustrar a mensagem e a linguagem do grupo. Os figurinos são práticos e objetivos, servindo de suporte aos adereços e mudanças de personagens. A maquiagem tem um clima exótico e ressalta os olhos num clima oriental. O cenário é simples, um alambrado com alguns recortes em branco, chapado, alguns acessórios e manequins compondo o espaço com uma escada no centro ao fundo, todos elementos são bem utilizados.

    O elenco é afinado e demonstra intimidade e segurança no palco, apesar de ser a estréia em Salvador - o grupo já apresentou o espetáculo nas cidades de Paulo Afonso e Senhor do Bonfim – foram poucos os momentos de nervosismo e ‘falhas’, como o ‘emolduramento’ de um dos personagens na cena inicial e dois tropeços verbais no decorrer de uma hora de apresentação. São todos acadêmicos mas fizeram questão de utilizar a linguagem popular sem amarras teóricas, influenciados por trabalhos circenses, de rua e uma herança genética no drama de circo por parte do autor e diretor.

    O ponto negativo ficou por conta do espaço. O palco muito baixo, a sala com piso plano e cadeiras comuns, impedia os espectadores que estavam a partir da terceira fila de visualizarem completamente as cenas. Outro detalhe negativo foi a tentativa de exibição de vídeos como plano de fundo que não funcionaram por causa da falta de escuridão total no espaço e poucos recortes em branco no fundo do cenário. Pretendo assistir novamente quando o espetáculo mudar de casa.

    Salvador, 09 de maio de 2011

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  9. Oh, Jel, que delícia receber sua visita. Adorei suas ponderações. Tem toda razão, temos tido um bom número de produções, isso é um ótimo sinal. Vida longa ao nossos trecos... admiro muito o trabalho de vcs. volte sempre!

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  10. Tanta gente sabia, tantos neo-intelectuais providos de cultura, presentes e eu, um mero espectador com vontade de ver uma simples peça de teatro, em busca de acreditar numa fantasia real, fico me perguntando: - Será que estou no lugar certo??? Será???
    Sim, claro que estou!!! Vim ver o que o sempre novo teatro baiano, seja em que esfera for, tem a me oferecer. Quero ver coisas novas, gente nova, gente com fome de vencer, gente com vontade de fazer e de expandir seus horizontes, coisas certas, coisas que dão errado na hora em que não eram pra dar errado, mas que criam um charme, elegância e veracidade ao momento instantâneo do flagrante.
    Aquela áurea undergroud, escuridão, meia luz, música boa, corpos nus, gestos, caras e bocas, coragem, malícia, ingenuidade... É tão fascinante e tão gostoso ter tudo isso se cruzando em nossa frente!!!
    O teatro perfeito é aquele que nos faz ter vontade de estar ali, participando, atuando, querendo ser um daqueles, querendo falar, querendo questionar, querendo se expressar e porque não, querendo apalpar a voluptuosidade Eleuteri Serpierana de Taíza Teixeira, ou contracenar como se estivesse vivendo aquele momento, naquela época ao lado de André Laws, interpretando um Vicente Celestino, cheio de emoção, cautela, perspicácia e sabedoria num dos momentos mais belos da peça!!! Admirar e se sentir pequeno diante da grandeza da presença cênica de Xandra Andere, que apesar de não ter todos os verbos conjugados de forma correta, não é ela que não está perfeita, é o verbo!!!
    Além de poder vislumbrar o equilíbrio transmitido por Rony e Esdra, atores que mostram a sua verdade, seu esforço, sua vontade e que servem de moldura dourada para contornar a tela concedida pela beleza de seus compnheiros!!! O brilho só é refletido, se a luz cai sobre ti!!!
    Sim, fui ver e gostei, achei o que eu queria. Vi teatro, vi coisa nova, me encantei com as cenas, com o texto e me deliciei com o tesão que esses novos artistas tem para crescer, se multiplicar e reproduzir!!! Fui duas vezes e se tivesse mais, iria de novo e por favor, me perdoe, sou apenas um mero espectador!!!

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  11. Lindas palavrs Danilo. É bom ser feliz, né, no teatro, então... Afi!

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  12. Aff...Demorei mas aqui estou dona Drica!! Bom, apesar do tempo passado dá um toque que eu retorno ainda está em minhas lembranças¿ E isso é bom ou ruim Drica¿ Acho que é bom, pq enquanto seres humanos somos constituídos de experiências boas e ruins, mas independente disso, elas nos constroem de forma integral. E para mim, o gol deste espetáculo foi a forma como Reginaldo colocou as relações entre os sujeitos, os conflitos que são estabelecidos qd nos relacionamos uns com os outros. Me vi algumas vezes me coloccando no lugar dos personagens como na cena em que a mulher conta um sonho p seu companheiro e este não lhe dá a devida atenção. Em qts momentos nos sentimos só, nos sentimos com vontade de gritar “ Me ouça, eu estou aqui!” “Eu existo!” e isso não só nas relações que se estabelecem entre casai, mas nas relações familiares entre pai e filho, entre professores e alunos, entre empregado e empregador...Enfim, falar de relações interpessoais, porém, o mais difícil que acho que o espetáculo conseguiu foi, através de uma encenação teatral, tocar nas questões subjetivas dos sujeitos, fazê-los se identificar com os dilemas vividos pelos personagens e transpor esses dilemas cênicos para além da arte, para a vida, ou melhor para a nossa vida!!!!E isso sem dúvida o espetáculo conseguiu.
    Outra coisa que queria pontuar eh sobre a coragem de Reginaldo e dos atores do grupo de Senhor do Bomfim. Estes espetáculos precisam conquistar espaço aqui em Salvador. Tenho viajado muito pelo interior da Bahia, a produção teatral feita em muitas cidades do interior n deixam nada a desejar na qualidade dos espetáculos e principalmente no papel social que desempenham ao proporcionar tamanho encantamento que causam em adultos, crianças e jovens. Parabéns ao elenco. Parabéns ao Regis, a Claudinha, a Esdra pela investida no quesito figurino. Isso mesmo, se joguem, a vida é curta!! bjos

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  13. Demorou mas tirou o atraso, hein, nega... Sua fala é linda, Carla e toca em pontos muito legais de leitura da peça. O engraçado é a repercussão dessa peça aqui no blog e nas ruas, nos bares. Acho que Regi fez um golaço com seu espetáculo porque gerou polêmicas temáticas e estéticas (por que esse nome é tão antipático, coitado?) que faz de seu trabalho um retumbante sucesso. Tem que voltar imediatamente, está ouvindo, produção? IMEDIATAMENTE! Concordo com suas colocações, Carlinha. Obrigada pela visita.

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