segunda-feira, 2 de maio de 2011

FIM DE PARTIDA - por Poliana Bicalho

Gentes, não é que a bonita gostou de escrever aqui. Enquanto eu assisto a cada vez menos espetáculos, ela roda as platéias de Salvador e traz um pouquinho de suas considerações para compartilhar aqui. Quem sabe eu não tomo vergonha e vou assistir também. Confiram, comentem, divulguem, sigam!

Fim de Partida texto de Samuel Beckett, direção de Edward Hackler
 por Poliana Bicalho
 A apresentação do espetáculo Fim de Partida, no Teatro Martim Gonçalves na noite do dia 27 de abril, foi de encontro e celebração. A casa cheia contou como um público formado por artistas da velha e da nova geração, além de apreciadores de teatro, que após 2h20min de espetáculo, ecoou um ‘Parabéns para você...’ para o aniversariante, o ator Gideon Rosa.
A encenação, baseada no texto Fim de Partida de Beckett, discorre sobre a crueldade das relações humanas inseridas num jogo constante de poder.  O fim da vida é condenado pela solidão, no qual, o desespero é tomado por uma total inércia. O autor satiriza outros autores, entre eles  Shakespeare com a fala do personagem Hamm (Harildo Déda): "Meu reino por um lixeiro.", clara alusão ao texto de Henrique III. A relação de autoritarismo e dependência entre o criado Clov (Gideon Rosa) e o patrão quase cego Hamm, é marcado por um humor requintado e altamente reflexivo.

Na concepção de cenário, figurino, maquiagem e iluminação, havia o reflexo do embrutecimento das relações dos personagens. Contudo, tais sensações só foram possíveis por conta do trabalho desenvolvido pela equipe técnica, que primou pela sutileza, pelos detalhes e pela precisão na escolha das cores, seja pela luz que transpõe as pequenas janelas, seja a cadeira ‘sem rodas’ de Hamm ou mesmo os pesados sapatos de Clov que produziam sonoridade e cadência na cena.
Durante o espetáculo, tive a impressão que o público foi envolvido nos braços de Morfeu. Cochilos rápidos, longos e até mesmo roncos puderam ser ouvidos. Mas qual seria o motivo desta sonolência? Para alguns a extensa duração da peça acrescida pela perda de ritmo, proporcionada pelo fato do ator Harildo Déda ler o texto.  Assim, trago a fala de uma pessoa sentava na minha frente durante o espetáculo: “Acabou? Que negócio chato!” Disse ele, ao ser despertado durante o solilóquio do personagem Hamm.
É inevitável que um texto como este, não traga conforto a sua recepção principalmente por sermos uma platéia que vive em tempos onde a interatividade atinge seu ápice na vida social. O fato é que tendo gostado ou não do espetáculo, é impossível negar a aula de interpretação proporcionada pelos atores Gideon Rosa, Harildo Déda, Maria de Souza e Gil Teixeira.






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4 comentários:

  1. Oi Adriana, a análise de Poli sobre "Fim de partida" traduziu exatamente o que eu senti quando assisti o espetáculo. Apesar da longa duração, a peça tem ótimas atuações e o texto de Beckett traz questões bastante atuais. Parabéns, Poli! Aguardo seus próximos textos!!! bjos

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  2. Olá Adriana,
    Adorei a postagem e tive a oportunidade de assisti ao espetáculo no mesmo dia que Poliana Bicalho, que está de parabéns pelo post, e além de ter cochilado um pouco (gente que mico) eu aproveitei muito, mas fiquei com uma dúvida referente a leitura do texto por Harildo Déda, é proposital o fato de um personagem cego no teatro do Absurdo lendo o texto? Seria uma proposta da Direção?
    Parabéns a todos do Elenco, mas Gideon e Gil vocês me emocionaram bastante!
    Grande beijo Adriana!

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  3. Gentes, que bom que vcs estão gostando das palavras de Poli. Fico muito feliz com o bom resultado da parceraia. Valdíria, sabe que eu num tinha me dado conta de que Deda faz é o cego lê. Na verdade ele não tem mais conseguido decorar os textos, mas por ser um grande ator e uma figura importantíssima da nossa história jamais ele será deixado de lado, ou fora dos palcos. Mas, veja como o teatro é um espaço semióico por natureza (ainda que seus signos sejam todos artificiais...). Quem não sabe dessa informação, na platéia, sempre vai ler todo e cada signo dentro do contexto. Assim, vc - e talvez muitas outras pessoas - foi(foram) levada(s) a ler aquele signo emitido no palco. E tem-que a linda contradição, sper beckttiana, por sinal: um cego que lê suas falas. "Proposital?" "Opção do diretor?" "Que sentido estará por trás desse signo?" Eu, aqui, dei uma explicação racional, possível, mas sem ela o leitor sempre buscará resposta e isso é lindo e redentor. Obrigada pelas participações.

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  4. O texto é bem rasteiro. Mas cada um dá o que tem. Agora, a moça poderia ao menos aprender a pontuar um texto.

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